Sebastião Rodrigues Maia, nascido aos 28 de setembro de 1942 no bairro da Tijuca, zona Norte do Rio de Janeiro, não se celebrizou por seu talento de cantor e compositor somente. Tim Maia, nome com que entrou para a história da música, era uma figura carismática, sagaz, controversa, sincera e altamente espirituosa. Possuía um raciocínio rápido e um espetacular senso de humor. Tornaram-se clássicas suas tiradas inteligentes e hilárias como "Eu não fumo, não bebo e não cheiro. Meu único defeito é que eu minto um pouco", "A vida é o maior mistério e minha mente o maior mistério da vida", "O mundo só será bom no dia que todo o dinheiro acabar, mas que não me falte nenhum enquanto isso não acontece", e a que eu mais gosto: "Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme e traficante se vicia". Vivesse até hoje, o Tim poderia acrescentar mais alguns absurdos da obscuridade atual na sua frase verdadeira, certeira e incômoda. Algo assim como: "aqui médico rejeita a Ciência, enfermeiro repudia vacina, juiz defende fechamento de tribunal, advogado e promotor aprovam ataques à Constituição e ao Estado Democrático de Direito, trabalhador comemora perda de direitos, assalariado vibra com diminuição de salário, empresário concorda com juro altíssimo, artista aplaude censura, estudante apoia cortes de verbas educacionais e bolsas de estudo, emigrante cultua xenofobia, político defende ditadura e fechamento do Congresso e pobre é de direita e contrário a políticas sociais", coisas do Brasil. Estivesse vivo aqui, certamente o Tim ficaria ainda mais pirado com tanta incongruência e nonsense.
Tim Maia já nasceu com a música no sangue. Com apenas quatorze anos, em 1956, criou seu primeiro conjunto musical, "Os Tijucanos do Ritmo". Durou pouco, por divergências internas. Em 1957 fundou o grupo "Sputniks", que teve rápida participação do ainda não "Rei", Roberto Carlos. Antes dos 17 anos, mandou-se para os Estados Unidos em busca da glória, dinheiro e fama, criando um grupo chamado de "The Ideals". Aprendeu muito da Soul Music americana e, depois de problemas com a Polícia por conta de drogas, retornou ao Brasil para enfim ser descoberto pela mídia e pelos amantes da boa música, depois de ter sua canção "Não Vou Ficar" destacar-se no disco de Roberto Carlos lançado em 1969. Também incluída no filme "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa", a música tornou-se um grande sucesso e ajudou a abrir várias portas para o jovem que queria marcar sua posição na música brasileira. Após um compacto lançado em 1968, com duas músicas suas, "Meu País" e "Sentimento". sem estardalhaço, as atenções se voltaram para o próximo compacto lançado em 1969, com as canções "These Are the Songs" e "What Do You Want to Bet". A primeira delas chamou atenção ao ser regravada no ano seguinte por Elis Regina, com participação de Tim, no álbum "Em Pleno Verão", da genial "Pimentinha".
Com as canções "Primavera" e "Eu Amo Você" (de Cassiano e Silvio Rochael), "Coronel Antônio Bento" (de Luís Wanderley e João do Vale) e a sua composição própria "Azul da Cor do Mar", músicas de incrível sucesso do seu primeiro LP, lançado pela gravadora Polydor em 1970, finalmente veio o reconhecimento e a fama. Lançou discos, fez sucesso, caiu na farra, praticou excessos, brigou com gravadoras e depois, por um curto período de tempo, entrou em um período de aprofundamento filosófico-religioso, largando a vida desregrada e boêmia, gravando discos "racionais" e tornando-se empresário, com sua própria editora, denominada SEROMA, iniciais do seu nome, assim como a gravadora Vitória Régia Discos.
Desencantado com a tal religião, Tim voltou à carreira "normal", com muita música dançante, romântica, suingue e as exigências firmes e constantes com o som da sua banda, perfeccionista que era. Os sucessos se repetiam ano a ano, com músicas como "Sossego", "Do Leme ao Pontal", "Vale Tudo", "O Descobridor dos Sete Mares", "Me Dê Motivo", "Um Dia de Domingo", "Pede a Ela" e "Leva", entre outros.
Tim Maia ousou sair da sua zona de conforto e arriscou gravar discos de Bossa Nova e de repertório todo em Inglês, com incrível desempenho e qualidade, mostrando todo seu talento.
Depois de anos e anos de excesso de bebida e marijuana, a saúde cobrou o preço. Durante um show no Teatro Municipal de Niterói, Tim passou mal e teve que interromper a apresentação, deixando o palco numa ambulância para se internar no hospital até que a morte chegou em 15 de março de 1998. A voz potente e afinada do Rei do Soul Brasileiro calou-se aos 55 anos, para tristeza de milhões de admiradores.
Tim Maia deixou 28 discos de estúdio (mais um póstumo), 2 ao vivo (mais um póstumo) e 17 coletâneas, 205 músicas e 698 gravações cadastradas no banco de dados do Ecad, sendo as mais tocadas estas, sucessos gigantes de sua autoria:
1 – Azul da Cor do Mar – Tim Maia 2 – Do Leme ao Pontal – Tim Maia
3 – Não Quero Dinheiro – Tim Maia
4 – Não Vou Ficar – Tim Maia
5 – Você – Tim Maia
6 – Sossego – Tim Maia
7 – Imunização Racional – Tim Maia
8 – Vale Tudo – Tim Maia
9 – Você e Eu, Eu e Você – Tim Maia
10 – Acenda o Farol – Tim Maia
Com seu vozeirão inconfundível, sua alma espirituosa, seu carisma incrível, sua vida desregrada e sua língua afiada, Tim consolidou-se como um artista de imensa importância na música brasileira, deixando-nos versos lindos como: "Mas quem sofre sempre tem que procurar, pelo menos vir achar, razão para viver… ver na vida algum motivo pra sonhar, ter um sonho todo azul, azul da cor do mar".
Viva Tim Maia!
Um grande abraço espinosense.