Espinosa, meu éden

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terça-feira, 10 de julho de 2018

2003 - 60 anos da Bossa Nova

Nesta terça-feira, 10 de julho, completam-se 60 anos desde que o genial cantor e violonista João Gilberto lançou um compacto com a canção "Chega de Saudade", de autoria de Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, no ano de 1958. Do outro lado do disco vinha a canção "Bim Bom", de autoria do próprio João.
Foi um alvoroço só, no cenário musical da época, com gente se incomodando à beça com a maneira inovadora com que João tocava o seu violão e cantava de modo sussurrante. Diziam se tratar de uma simples cópia da música americana, sobretudo do jazz. O que os críticos mais abalizados reconhecem é que realmente houve uma influência decisiva da música ianque na criação da Bossa Nova, mas que o tempero sambístico brasileiro também estava presente, ou seja, nada mais que mais uma mistura de ritmos com resultados altamente satisfatórios. Naqueles tempos, anos 50, imperavam no mercado fonográfico brasileiro os cantores de voz possante, cantando boleros e sambas-canção, em grande parte contando histórias de desilusões no amor e de dor de cotovelo. Com sua maneira bastante diferente de cantar e tocar para os padrões de então, João Gilberto foi o fator revolucionário e incandescente que iluminou a música brasileira, divulgando a novíssima Bossa Nova no país e espalhando-a rapidamente por todo o mundo, com raízes profundas especialmente nos Estados Unidos e no Japão.  


Outros lançamentos daquela época foram decisivos para que o estilo ganhasse corpo e se espalhasse pelo mundo. Em 1946, o cantor Dick Farney gravou a canção "Copacabana", composição de João de Barro e Alberto Ribeiro, o que pode ser considerado uma primeira ideia do que viria anos depois.  Mas foi em maio de 1958 que a Bossa Nova realmente se consolidou com o lançamento do LP  "Canção do Amor Demais", da cantora Elizete Cardoso cantando canções da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes, que seria reconhecido como um preâmbulo da Bossa Nova. A nova e interessante batida do violão de João Gilberto estava presente em duas das faixas do disco: "Outra Vez" e "Chega de Saudade". Poucos meses depois, em agosto, o baiano lançou o seu primeiro compacto com as músicas "Chega de Saudade" e "Bim Bom" e aí a Bossa Nova explodiu no coração dos amantes da boa música. Logo em seguida, em 1959, João lançou mais um compacto de 78 rpm, com as músicas "Desafinado", de Tom Jobim e Newton Mendonça, e "Hô-bá-lá-lá", composição própria, confirmando a beleza e o encanto da nova sonoridade musical.


Em 1959, João Gilberto lança seu primeiro LP, intitulado "Chega de Saudade", firmando em bases sólidas a sua diferenciada e espetacular batida no violão que iria encantar gente do mundo inteiro. Ali havia composições de grandes expoentes da música brasileira como Carlos Lyra, Ary Barroso, Dorival Caymmi e Ronaldo Bôscoli, além de Tom e Vinicius. Este disco foi eleito pela revista Rolling Stone, edição brasileira, como o quarto melhor disco brasileiro de todos os tempos em 2007. 


Mais do que uma inovação musical, a Bossa Nova acrescentava um componente cultural vindo dos ares de modernidade da administração do país sob o comando de Juscelino Kubitschek e a boemia da zona sul do Rio de Janeiro, onde jovens se encontravam na praia e dali iam para os apartamentos dos amigos para tocar, beber, namorar e viver intensamente a boa vida.


Realmente é uma pena que a produção artística da Bossa Nova tenha se estacionado no passado, hibernando durante todo esse tempo, sem uma continuidade de criação e lançamentos de canções e no aparecimento de novos artistas no segmento. Mas as canções bossa-novistas, verdadeiros clássicos da música brasileira, ainda embalam corações no país e no exterior. Música boa não tem idade. E os gênios que a criaram, entre eles João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes são eternos.
Um grande abraço espinosense.