Quanta saudade muitos de nós, Norte-Mineiros, temos do trem, também chamado de Trem Baiano! Por um bom tempo ele chacoalhou suas locomotivas e vagões pelos sinuosos trilhos baianos e mineiros levando passageiros na rota Belo Horizonte/Salvador/Belo Horizonte, terminando por se extinguir em 1996, quando se limitava a trafegar entre Monte Azul e Montes Claros. Para quem desconhece, a linha Salvador a Monte Azul começou a operar em 1950, pela VFFLB-Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro. Eram duas viagens semanais, passando por cidades como Santo Amaro da Purificação, Cachoeira, São Félix e Brumado, uma nas quartas-feiras (chegando na quinta) para a ida e nas sextas-feiras (chegando nos sábados) para a volta. Em Monte Azul havia a baldeação dos passageiros que embarcavam em direção a Belo Horizonte no trem da RFFSA, chamada de "Refesa" no imaginário popular.

A história do transporte ferroviário no Brasil é rica, com muitas boas lembranças do povo brasileiro. Hoje quase inexistem trens que transportam passageiros, exceções feitas ao trem da Estrada de Ferro Carajás, que interliga as cidades de São Luís (MA) a Parauapebas (PA), ao trem da Estrada de Ferro Vitória-Minas, que faz o percurso Belo Horizonte (MG) a Cariacica (ES), e ao trem que faz o pequeno trecho turístico entre Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais. Este meio de transporte tão importante, seguro e bem mais barato para a população mais carente, não teve a devida atenção e valorização de alguns dos governos brasileiros, levando um golpe mortal durante o governo peessedebista de Fernando Henrique Cardoso, quando foi privatizada a RFFSA, a Rede Ferroviária Federal, praticamente exterminando por completo o transporte ferroviário de passageiros no Brasil.

Aqui no Norte de Minas, o último suspiro do Trem Baiano aconteceu no dia 5 de setembro de 1996, quando o trem retornou de Monte Azul para Montes Claros, encerrando definitivamente sua história de transporte de passageiros, quando beneficiava milhares de sertanejos de poucos recursos econômicos residentes na região. Uma data que marcou a população com muita tristeza e revolta, pois prejudicou e muito a pequena economia das cidades por onde o trem passava. Ficaram as lembranças e a saudade!

E porquê a lembrança agora do Trem Baiano? É que a querida amiga, colega de escola, conterrânea e moradora da minha amada Rua da Resina, a professora Anália Meira, carinhosamente chamada de Naia, filha do saudoso João Meira e da minha Mestra Dona Nair, relatou em sua página do Facebook um encontro bastante prazeroso com o escritor e historiador grão-mogolense Élcio Ferreira Paulino, que está lançando o livro "Que Trem, Hein?". Infelizmente, procurei obter maiores informações sobre o Élcio e seu livro na Internet, mas pouco consegui, a não ser descobrir que seus falecidos pais se chamavam Terezinha e Amadeu, proprietários de um cartório em Grão Mogol. E que o Sêo Élcio é figura bastante conhecida e apreciada na cidade, por sua luta em favor do Meio Ambiente, pela dedicação em manter viva a História do município e pelas suas ótimas qualidades de simpatia, humildade, gentileza, sabedoria e honestidade.

O encontro entre Naia e Sêo Élcio se deu no último sábado, 5 de julho, no antigo e belo Casarão Solar dos Sertões, localizado na Praça Doutor Chaves, a Praça da Matriz, no número 152, lugar aprazível da história dos Montes Claros onde a população pode ter acesso a um espaço permanente de exposição do patrimônio cultural dos povos e comunidades da região, com artesanatos, comercialização de pratos típicos, lanches, sucos de frutas nativas e de promoção dos valores da gastronomia sertaneja local.
Entre uma história e outra contada pelo historiador da linda e histórica Grão Mogol, Naia se surpreendeu, e se sentiu feliz, ao descobrir que uma pessoa figurava na escrita da sua obra como "a simpática jovem que foi conhecer e pesquisar sobre as histórias de sua cidade", que é na realidade sua irmã Júnia Meira. Coincidências maravilhosas desta nossa vida nesse mundo tão gigante e ao mesmo tempo tão pequeno.
Para quem ainda não conhece, o Restaurante Solar dos Sertões apresenta os sabores e saberes do Sertão Norte-Mineiro, oferecendo Gastronomia, Agroecologia e Arte/Cultura no Centro da cidade de Montes Claros, funcionando de segunda à sexta de 8 às 17h e no sábado de 8 às 15h. O telefone de contato é o (38) 99964-2913 e o endereço no Instagram é @solardossertoes.
Prometi a mim mesmo aparecer por lá uma hora, mas nunca deu certo até hoje, mas espero poder ir lá qualquer dia desse, se Deus me permitir.
Um grande abraço espinosense.