O Sertão do Norte das Minas Gerais é muito rico artística e culturalmente, apesar da pobreza econômica que nos castiga há tempos, mas que vem diminuindo a cada ano, felizmente. Somos pobres de grana, mas ricos de sabedoria, entusiasmo, alegria e resiliência, jamais nos rendendo às agruras da vida dura e aflitiva que vivemos debaixo deste Sol escaldante que insiste em torrar nossos miolos na maior parte do ano.
E é a música que nos auxilia e socorre neste cotidiano cálido e implacável dos sertanejos mineiros. Em Montes Claros, também chamada carinhosamente de MOC Hell City pelos criativos e bem-humorados locais, o cenário musical atual repete os melhores momentos da história da cidade, talvez parecido com o tempo em que Beto Guedes tocava ao lado de seu irmão Hélio na banda "Brucutus" os sucessos dos Beatles. Ou quando Zé Coco do Riachão tirava sons sinfônicos da sua rabeca. Ou quando Téo Azevedo criava suas canções e cordéis sobre nossas raízes. Ou quando Godofredo Guedes compunha seus lindos e maravilhosos chorinhos como o lindo "Cantar". Ou quando os grupos de seresteiros como o de João Chaves tocavam valsas, modinhas, boleros e sambas-canções para delírio dos moradores da cidade. Ou quando os músicos Ducho, Dulce e Antonico tocavam as trilhas dos filmes mudos nos cinemas de outrora. Ou quando o Grupo Agreste, de Ildeu Braúna, Pedro Boi, Manoelito, Zé Chorró, Gutia, Tom Andrade, Toninho e Sérgio Damasceno, encantou a todo mundo com suas cantigas sempre eternas e presentes.
São muitos os artistas de grande talento em Montes Claros e região, três deles os rapazes que formam a banda Surubim e os Pocomã, nome mais do que interessante e estapafúrdio que batiza o grupo de música brasileira que mistura sons das velhas tradições populares com sonidos sofisticados da modernidade sob um irresistível suingue. Para batizar o grupo que tem fortíssima influência da cultura dos povos barranqueiros do Velho Chico, nada mais apropriado que os nomes de dois peixes presentes neste rio de tamanha importância. Nesta efervescente mistura de uma rica diversidade sonora, os músicos Pedro Surubim (voz e violão, de Pirapora), Pedroca Neves (contrabaixo, de Montes Claros) e Danilo Guinu (bateria, de Teófilo Otoni) criam melodias surpreendentes com um pouco de tudo: Forró, Rock, Folia de Reis, Jazz, Funk, Pop, Xote, Baião, sem esquecer dos batuques e cantos dos Catopês.
Pedro, Pedroca e Danilo não se limitam a simplesmente fazer música com a alma sertaneja das barrancas do Rio São Francisco, mas também têm e mantêm suas lutas em prol da cultura regional, atuando em movimentos culturais e sociais, promovendo encontros, parcerias e iniciativas para fortalecer a cena musical independente em Minas Gerais. Nos dias 9 e 10 de outubro, a banda realizou shows nas instalações da APAC-Associação de Proteção e Assistência ao Condenado de Teófilo Otoni, levando esperança, fé e confiança de recomeço aos presos. Na ocasião foram tocadas algumas músicas que integrarão o novo disco da banda, intitulado "Peixes dos Milagres".
O primeiro álbum da banda veio em 2023, "Surubim e os Pocomã – Ao Vivo", gravado em Montes Claros durante um show no Armazém do Campo do MST do Norte de Minas, com oito canções autorais.
1) Não Nado Só - (Pedro Surubim / Joana Alves de Melo) - 5:44
2) Sertão Bantu - (Pedro Surubim) - 6:09
3) Brasil Lameiro - (Pedro Surubim) - 6:10
4) Xote Jamiroquai (ou Espelho D'água) - (Pedro Surubim / Brenda K Souza) - 4:04
5) Abre-te Sésamo (ou Curva) - (Pedro Surubim) - 6:20
6) Mutalambô - (Pedro Surubim) - 5:23
7) Pedra de Santana - (Pedro Surubim / Josemar Durães / Laís Cristina / Coletivo Velho Chico Vive) - 2:43
8) Figo de Rato - (Pedro Surubim / Joana Alves de Melo) - 5:04
Pedro Surubim - Voz e Violão (@osurubim)
Pedroca Neves - Contrabaixo e Segunda Voz (@pedrocaneves)
Bicho Carranca - Percussão (@bichocarranca)
Dau - Bateria (@ddau.to)
Surubim e os Pocomã se apresentaram recentemente em São Paulo, no Centro Cultural FIESP, nos dias 19 e 26 de outubro, com o show "Travessia no Rio de Gente". É a banda Norte-Mineira cruzando fronteiras para espalhar pelo mundo seu som repleto de brasilidade e apego às raízes dos sertanejos das margens do São Francisco. Que sua música se espalhe o mais amplamente possível pelo mundo!
Um grande abraço espinosense.