Simone Bittencourt de Oliveira, cantora nascida na cidade de Salvador no dia de Natal de 1949, com saúde e entusiasmo aos 72 anos de idade, está de volta ao disco, aos palcos e, merecidamente, aos aplausos efusivos de seus admiradores, entre os quais eu me incluo. Seu último trabalho, lançado há nove anos, em 2013, o disco de estúdio "É Melhor Ser", agora dá lugar ao seu 42º título da discografia iniciada pela artista em 1973 com o álbum "Simone", lançado em 20 de março de 1973 pela Gravadora Odeon nos formatos físicos de então, LP e K7.
Não, caro leitor, pelo amor de Deus não restrinja o belíssimo trabalho de décadas da jogadora de basquete que se transformou em excelente cantora, naquela versão intragável de "Happy Xmas (War Is Over)" do Beatle John Lennon que se transformou em "Então É Natal", para minha tristeza e agonia. Foque nas interpretações poderosas e encantadoras da artista em músicas como "Encontros e Despedidas" de Milton Nascimento e Fernando Brant, "Naquela Noite Com Yoko" de Sueli Costa e Abel Silva, "Pão e Poesia" de Moraes Moreira e Fausto Nilo, "Vida" de Chico Buarque de Hollanda, "Iolanda" de Pablo Milanes e versão de Chico Buarque, "Começar de Novo" de Ivan Lins e Vitor Martins, "O Que Será (À Flor da Terra)" de Chico Buarque, "Jura Secreta" de Sueli Costa e Abel Silva, "Cigarra" de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, "O Amanhã" de Didi e João Sérgio, "Tô Que tô" de Kleiton Ramil e Kledir Ramil, "O Sal da Terra" de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, "Começar de Novo" de Ivan Lins e Vítor Martins, "Sangrando" de Luiz Gonzaga Jr., "Cordilheira" de Sueli Costa e Paulo César Pinheiro e tantas outras pérolas de grandes compositores brasileiros. De uma coisa Simone jamais poderá ser acusada: de não privilegiar em seus trabalhos os melhores criadores de canções do país. Ela gravou a nata da música brasileira desde seu início de carreira lá no já longínquo ano de 1973.
Simone está de volta e agora com sua voz muito mais lapidada, serena e cativante, cantando os belos e profundos versos de "Haja Terapia", canção de Juliano Holanda que integra seu novo álbum, produzido sob a direção artística de Zélia Duncan e que será lançado pela gravadora Biscoito Fino em breve.
É muito agradável poder voltar a ouvir a voz melodiosa e gostosa de Simone em performances de tão boas e novas canções. Viva!
Um grande abraço espinosense.
"Haja Terapia"
Juliano Holanda
Há algo de calmo e de raso nesse leito profundo
Tem dias que o sal atravessa as paredes do mundo
A água em desnível acentua o relevo das horas
E um traço contínuo vai misturando o gosto das auroras
Roa e rebento
Às vezes a vida é uma estrada sem acostamento
Tem dias que o sol estilhaça as vidraças da sala
Eu tenho tentado escutar as palavras que você não fala
O cabide de roupas do quarto parece um espantalho
É só mais um ato falho
O demônio lunático pousa sobre a catedral em chamas
Aprendi a reconhecer a serpente pelo dourado das escamas
Metade das coisas que ele diz não faz o menor sentido
E a outra metade, eu preferia mesmo era nem ter ouvido
Já era pra ter saído
Mas há algo de flor e de asfalto nesses tempos encardidos
A peça já está no seu terceiro ato e os atores estão bem perdidos
Não sei em que altura da estrada a gente perdeu a poesia
Encontrei a metáfora mais clara que hoje me caberia
Pra evitar a asia
Me vesti com as paredes de casa, enquanto o lobo soprava lá fora
Tem dias que o tempo desgarra, e tem tempos que o dia demora
Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria
Eu tenho tentado fugir das notícias do dia
Haja terapia
Mas há algo de flor e de asfalto nesses tempos encardidos
A peça já está no seu terceiro ato e os atores estão bem perdidos
Não sei em que altura da estrada a gente perdeu a poesia
Encontrei a metáfora mais clara que hoje me caberia
Pra evitar a asia
Me vesti com as paredes de casa, enquanto o lobo soprava lá fora
Tem dias que o tempo desgarra, e tem tempos que o dia demora
Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria
Eu tenho tentado fugir das notícias do dia
Haja terapia