O futebol feminino sempre foi vítima do desprezo e do preconceito de torcedores e dirigentes machistas desde que começou a ser praticado no país de forma amadora. Os desafios sempre foram gigantes para as meninas que sonhavam em praticar o esporte mais amado no mundo.
De acordo com a FIFA, a primeira partida oficial entre mulheres foi disputada no dia 23 de março de 1885, em Crouch End, Londres, Inglaterra. No Brasil há rumores de que a primeira partida de futebol feminino ocorreu no ano de 1921, entre jovens mulheres dos bairros Tremembé e Cantareira, da zona norte de São Paulo. De forma absurda e inexplicável, as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil em 14 de abril de 1941, quando foi assinado pelo presidente Getúlio Vargas o Decreto-Lei 3199. Tal estupidez só foi revogada no ano de 1979. Somente em 1983 é que foram criados times femininos profissionais no país, com o surgimento do Radar, no Rio de Janeiro, e do Saad, em São Paulo. A primeira Seleção Brasileira convocada pela CBF viria em 1988. O primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino só foi organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no ano de 2013.
Imagem de Thaís Magalhães-CBF |
Nessa dura e difícil caminhada para ocupar espaço e abrir oportunidades para as mulheres em todo o país na prática do futebol, algumas atletas foram de fundamental importância para o crescimento do futebol feminino. Meg, Sissi, Cristiane, Marta e Formiga foram algumas delas. Estreando na Seleção Brasileira no ano de 1995, no dia 7 de junho, em uma partida entre Brasil e Japão válida pela Copa do Mundo, Formiga defendeu com competência, suor e raça a camisa amarela por longos 26 anos até encerrar o seu ciclo neste dia 25 de novembro em um jogo contra a Índia na Arena da Amazônia. O Brasil venceu por 6 x 1 e Formiga jogou pouco mais de 16 minutos.
Imagem: Adriano Fontes-CBF |
Formiga, na certidão de nascimento a cidadã Miraildes Maciel Mota, nasceu em Salvador, na Bahia, aos 3 de março de 1978. Desde criança jogando bola, e muito bem, a única menina da família de cinco irmãos se transformou em uma meio-campista de sucesso, batendo recordes um atrás do outro. Como ninguém mais no planeta, disputou nada menos que 7 (sete) Copas do Mundo: 1995 (Suécia), 1999 (Estados Unidos), 2003 (Estados Unidos), 2007 (China), 2011 (Alemanha), 2015 (Canadá) e 2019 (França). Foram também 7 (sete) participações nos Jogos Olímpicos: 1996 (Atlanta), 2000 (Sydney), 2004 (Atenas), 2008 (Pequim), 2012 (Londres), 2016 (Rio de Janeiro) e 2020 (Tóquio). Nas Copas do Mundo, foi Medalha de Bronze nos Estados Unidos em 1999 e Medalha de Prata na China em 2007. Nos Jogos Olímpicos foi Medalha de Prata em Atenas em 2004 e em Pequim em 2008. Nos Jogos Pan-Americanos foi Medalha de Ouro em Santo Domingo em 2003, no Rio de Janeiro em 2007 e em Toronto em 2015. Também foi Prata em Guadalajara em 2011. Por clubes, foram 5 Campeonatos Paulistas (1 São Paulo, 1 Botucatu, 3 São José), 3 Copas do Brasil (1 São Paulo, 2 São José), 1 Copa da França (PSG), 1 Campeonato Francês (PSG), 3 Libertadores da América (São José) e 1 Mundial de Clubes (São José).
A despedida finalmente veio, na noite de ontem, 25 de novembro de 2021, com a jogadora de 43 anos de idade entrando em campo pela 234ª vez com a camisa da Seleção Brasileira, em partida contra a Índia válida pela primeira rodada do Torneio Internacional de Manaus. Após o jogo, um corredor formado pelas integrantes das duas equipes e suas respectivas comissões técnicas homenageou e aplaudiu Formiga, que fez questão de cumprimentar uma por uma. Também recebeu o carinho da amiga e companheira de longa data, a Marta, da mãe Celeste e da esposa Érica Jesus. Defendendo a Seleção Brasileira, Formiga jogou 234 partidas, com 152 vitórias, 35 empates, 47 derrotas e 37 gols marcados, uma carreira brilhante e merecedora de muita gratidão e respeito.
Valeu, Formiga! Obrigado pela sua especial contribuição ao futebol feminino brasileiro!
Um grande abraço espinosense.