Quem foi criança nos bons tempos em que a Internet ainda nem existia, veja lá na nossa fértil imaginação, sabe a delícia que era utilizar uma esfera pequena, colorida e brilhante para brincar e fazer passar feliz o tempo nas ruas das cidades interioranas. A pequenina bolinha de gude era uma fonte gigante de prazer e contentamento.
Ninguém sabe muito bem definir quando ela apareceu neste mundo, mas registros de sua existência parecem ter sido descobertos lá no século 1 a. C. na Roma antiga ou até muito antes disso. Na história vários materiais foram utilizados na sua confecção: argila, aço, pedras como ônix, jaspe e ágata, plástico e vidro. Em 1560, crianças jogando gude foram retratadas pelo pintor renascentista flamengo Pieter Brueghel em seu quadro Jogos Infantis, em meio a outras 83 brincadeiras de crianças.
A bolinha chegou ao Brasil trazida pelos portugueses. Aqui recebeu o nome de "gude" em referência ao nome das pedras redondas e lisas retiradas dos leitos dos rios. Mas é conhecida em muitos outros lugares com nomes bem diferentes, como poderão ver a seguir:
Interior do Brasil: baleba, bilosca, birosca, bolita, búrica, búraca, peteca, pirosca, ximbra ou cabiçulinha;
Paraná e Santa Catarina: burquinha;
Rio Grande do Sul: bolita;
Na região Norte e Nordeste: peteca, bila e chimbra;
São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia: bolinha de gude;
Espírito Santo: boleba;
Minas Gerais: biroska;
Portugal: berlinde;
Argentina: bolitas e canicas;
Costa Rica: canicas;
Cuba, República Dominicana e Porto Rico: bola;
Chile: bolitas e bochitas;
Equador: bola;
El Salvador: chibolas;
Guatemala: canicas e cinco;
México: catota e canicas;
Perú: bola e canicas;
Uruguai: bolita;
Venezuela: metras;
Alemanha: Eine kline ball;
Espanha: bolas, pitos (Zaragoza) e collotes (Palma de Mayorca);
França: petite boule;
Existem várias formas de jogar com elas, dependendo do desenho feito no chão, o número de buracos e o número de bolas utilizadas. O triângulo é uma das mais conhecidas.
Impressionante como coisas tão simples conseguem desencadear tamanho prazer. Graças a Deus pertenci a uma geração que, para brincar e aproveitar a infância, não precisava de nenhum (ou quase nenhum) dinheiro. Os brinquedos eram fabricados com o que achávamos no lixo ou na Natureza, com muita criatividade. As bolinhas de gude eram muito baratas e acessíveis a todos nós, mesmo de famílias humildes. E com muita habilidade no jogo, quem não tinha nada, saía de repente com os bolsos entupidos das bolinhas de gude conquistadas dos adversários. Tempo bom!
Confira abaixo como essas pequenas maravilhas são fabricadas. Boravê?
Um grande abraço espinosense.