Espinosa, meu éden

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terça-feira, 7 de janeiro de 2025

3643 - O Auto da Compadecida 2

Após um tanto de expectativa por voltar a assistir na tela grande as novas aventuras dos eternos personagens Chicó e João Grilo, do grande Ariano Suassuna (16-06-1927 / 23-07-2014), fui ao cinema do Shopping Ibituruna em Montes Claros na companhia do meu amigo e compadre Maurício Tupy, num dos derradeiros dias de 2024. Isto depois de ir assistir ao filme "O Auto da Compadecida 2" nos cinemas do Shopping Montes Claros no horário das 16h20, onde tivemos a frustração de enfrentar um tempo na fila e descobrir, no momento de comprar ingressos no totem de autoatendimento, que só havia um único lugar disponível na sala de exibição. A sorte é que ainda dava tempo de atravessar a cidade e ir assistir ao filme no Ibituruna, em horário posterior, às 17h, onde sobravam lugares.



A história se dá na mesma pequena cidade do Sertão de nome Taperoá, onde reaparece, depois de mais de 24 anos de sumiço, o esperto e trambiqueiro João Grilo, ressuscitado que foi pela clemente e piedosa Nossa Senhora, a Compadecida. Refeita a dupla com Chicó, João Grilo vê uma boa chance de enriquecer, valendo-se do seu prestígio com dois candidatos à prefeitura da cidade em ano de eleição municipal. Alguns novos personagens foram acrescentados à trama original do grande Ariano Suassuna e assuntos do momento, como as malditas fake News, e os males de sempre, como a força destrutiva da grana, a hipocrisia, o racismo e o preconceito, foram abordados com muito bom humor. 



O filme é muito bom. Mas como todo mundo com quem trocamos percepções sobre ele, o comentário geral é o de que, apesar da boa qualidade, o filme fica bastante aquém da primeira produção, o que não é nenhum demérito. O roteiro de Guel Arraes e Adriana Falcão e a direção do Guel Arraes e Flavia Lacerda são muito bons e os desempenhos dos talentosos e maravilhosos Matheus Nachtergaele e Selton Mello continuam hilários e formidáveis. A Rosinha de Virgínia Cavendish continua cativante e sensual, mas agora independente, experiente, dona do seu próprio destino, empoderada como caminhoneira. O cangaceiro Joaquim Brejeiro, ex-"cabra" do falecido Severino, vivido por Enrique Díaz, segue na sua pobre vida de imensa ignorância e violência. Mas fazem muita falta as atuações extraordinárias de Fernanda Montenegro e Marco Nanini, que "arrasaram" no filme original como a Virgem Compadecida e o cangaceiro Severino, respectivamente. Por mais que se saia bem a substituta da diva Fernanda, Taís Araújo, o resultado não tem a mesma magia do original. E esta certa decepção do público se deve exatamente a isto, a sensação de que a história se repete, sem muitas novidades desde a primeira película, com a repetição de cenas como a do julgamento final de João Grilo. Mesmo com a boa participação de Luís Miranda como o trambiqueiro Antônio do Amor, da Fabíula Nascimento como a socialite Clarabela, do Humberto Martins como o poderoso coronel Ernani e o Eduardo Sterblitch como o empreendedor Arlindo, o destaque fica mesmo com a dupla de protagonistas que atrai toda a atenção dos espectadores, deixando pouco espaço para os coadjuvantes. Ficou meio estranha para muitos também a atmosfera onde se passa o filme, construída toda em estúdio com uso da tecnologia. Eu mesmo não achei muito legal não.
O que vale mesmo é que a segunda edição do Auto da Compadecida tornou-se um sucesso nos cinemas brasileiros, que após o lançamento em várias salas de exibição do país em 25 de dezembro de 2024, já conseguiu a façanha de atrair mais de 2 milhões de espectadores. O filme já arrecadou mais de R$ 14 milhões em apenas duas semanas e continua na liderança das bilheterias nacionais, superando grandes lançamentos de poderosas companhias americanas como "Mufasa: O Rei Leão", "Sonic 3: O Filme", "Moana 2", "Wicked" e "Gladiador II".



Como é bom ver o cinema brasileiro em alta, com várias produções de imensa qualidade sendo realizadas, dando oportunidade para talentos já consolidados como para o surgimento de novos astros, além de contar a História do nosso Brasil para o mundo, gerando milhões de empregos. E ainda recebendo o reconhecimento mundial, conquistando prêmios de suma importância como o Golden Globes e premiações diversas como nos Festivais de Veneza, de Tribeca, de Havana, de Guadalajara, de Mar del Plata e de Berlim. 
Viva o Cinema Brasileiro! E pensar que, ridiculamente há pouco tempo, teve quem pregasse o boicote a algumas produções cinematográficas brasileiras. Coisa grotesca e vil de gente estúpida, inimiga da Arte e da Cultura. 
Um grande abraço espinosense.