Existem pessoas especiais que entram na vida da gente para nunca mais sair. Mesmo atualmente estando a centenas de quilômetros de distância e sem nos encontrar há mais de 26 anos. Essa pessoa especial para mim é o funcionário aposentado do Banco do Brasil Antônio Felisberto Fernandes, ou simplesmente Tuka. O pessoal mais antigo, principalmente os apaixonados por futebol de salão no início da década de 80, vai se lembrar bem dele, devido à grande rivalidade existente entre o time do Banco do Brasil, formado por Waltinho, Mílton, João Carlos, Tintin, Camilo e Tuka, e a garotada do Mescra, famoso time espinosense cujo nome era formado pelas iniciais dos nomes dos seus jogadores, sendo "M" de Marquinhos, "E" de Ernane, "S" de Silvinho, "C" de Célio, "R" de Ricardo (Tu de Carlito) e "A" de Alberto (Zé de Ieié). Para irritá-lo, o pessoal o chamava de "Boneca".
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Equipe de futsal da AABB-Espinosa no início dos anos 80:
Eustáquio, Tiãozinho, Quinha, Waltinho e Tuka;
Dino, Vitamina, Mangabinha, João Carlos e Klebinho (filho de Tuka). |
Tuka era um aficionado do futebol. Lembro-me bem dele, ao lado da esposa Nislei e dos dois filhos, ainda bem pequenos, munidos de rodo e pano de chão, enxugando a quadra da AABB para que pudéssemos bater uma pelada de futebol de salão. Um vício sem igual! Sempre estava no Campão (hoje Mercado Municipal) para acompanhar os treinos do Cruzeirinho, de quem era torcedor. Ele sempre gostou da gente, do nosso futebol. Quando eu chegava para treinar à tardinha, ele já estava lá, no seu Fiat 147 ouvindo músicas de Rolando Boldrin, de quem é grande admirador. Foi conversando sempre ali, que iniciamos a nossa grande amizade.
Um belo dia de novembro de 1981, recebo um telefonema de Tuka me avisando que eu havia passado no concurso do Banco. Achei que era brincadeira e brinquei que ele estava me gozando. Ele apenas respondeu: - É sério, agora o time do Sukata (time reserva da turma do Banco) vai ficar mais forte. Depois de muita incredulidade, vi que era sério e fiquei imensamente feliz com a notícia. Era um sonho que se realizava. Depois que tomei posse, ele foi como um pai para mim. Dava-me conselhos, opinava até nas roupas e nos calçados que eu deveria usar no trabalho. Sempre apoiou a mim e a todos os colegas que tomaram posse naquela época, como Quinha e Mangabinha. Aliás, uma de suas características marcantes era colocar apelido em todo o mundo. Girafinha (Dino), Mangabinha (Carlinhos de Zezé) e Taquinho (eu), por exemplo, foram idéia sua. Naquela época formamos um time razoável, mas bastante competitivo e aguerrido, conseguindo ser campeão nos jogos da Fenabb em Montes Claros, ganhando da equipe de Bocaiúva, com o excelente Zé Américo no gol, por 2 x 1 na final.
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Time campeão em Montes Claros em 1982:
Dino, Vitamina, Tiãozinho, Eustáquio e Tuka;
Luiz Dedinho, Mangabinha e João Carlos. |
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Meu primeiro título no futsal |
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Tuka, Tiãozinho e Eustáquio;
Mangabinha, João Carlos e Vitamina. |
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Comemoração da delegação campeã de Espinosa em Montes Claros:
Waltinho, Marquinhos, Dino, Quinha, Eustáquio, Mangabinha, Tiãozinho,
Zazá (In Memoriam) e Tuka; Tonhão, Vitamina, Luiz Carlos e João Carlos.
Amigos eternos. |
Mesmo depois de transferido para o estado de Goiás, ele ainda assim jogou conosco na fase estadual que aconteceu em Ituiutaba, quando ficamos em quarto lugar, atrás apenas das equipes de Divinópolis, Governador Valadares e Juiz de Fora.
Merece registro essa nossa viagem para Ituiutaba, uma tremenda aventura. Saímos de carro para Monte Azul, onde pegamos o trem de passageiros (ainda existia o chamado "Trem Baiano") até Montes Claros. Em MOC, alugamos uma velha Kombi na Monvep e nos mandamos para a bela cidade do Triângulo Mineiro, sendo conduzidos pelo nosso velho saudoso companheiro e motorista Quincão. A Kombi quebrou uma três vezes na viagem. Quando parecia que tudo ia terminar bem, Tiãozinho soltou uma profecia: - "agora só falta furar um pneu". Incrível! Não andamos nem mais um quilômetro e eis que um pneu fura. Foi uma gargalhada só! Que coisa, sô! Que boca maldita!
Finalmente, quase na hora do nosso jogo de estréia, chegamos a Ituiutaba. Só aí descobri que havia esquecido de levar meu tênis. Saí apressado pela cidade para comprar um novo par de tênis. Ao chegar à AABB, uma triste constatação. Enquanto chegávamos, meia-dúzia de gatos pingados, cansados e maltrapilhos, em uma velha Kombi, as delegações de outras cidades, como Governador Valadares, Curvelo, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Divinópolis, entre outras, chegavam, com famílias inteiras totalmente uniformizadas e em ônibus super confortáveis, dotados de banheiro e ar condicionado onde se lia nas laterais, em letras garrafais: Air Bus. E nós de Kombi! Que dureza!
Ganhamos o nosso primeiro jogo contra o time de Abaeté por 3 x 1 em uma quadra de cimento, debaixo de um sol escaldante.
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Nossa primeira vitória, contra o time de Abaeté |
O segundo jogo, seria no Ginásio recém inaugurado, novinho em folha. Fomos enfrentar o time de Passos. Ninguém do nosso time conseguia ficar em pé, devido ao piso escorregadio da novíssima quadra, toda taqueada. Perdemos por 3 x 1. Só após a partida, nossos adversários foram nos avisar que deveríamos passar os tênis em breu (betume artificial adesivo), para ter aderência ao piso liso do ginásio. Aprendemos a lição. Na próxima partida, decidiríamos a vaga contra os donos da casa, o Ituiutaba. Ginásio lotado. Um barulho infernal. Todo mundo contra nós. Todo mundo não. Tínhamos dois fanáticos torcedores ao nosso lado: Nislei, a mulher de Tuka e o nosso motorista Quincão. Jogo disputadíssimo, mas conseguimos a vitória no sufoco, por 4 x 3. Fomos para a semifinal jogar contra o futuro campeão do torneio, o fortíssimo time de Juiz de Fora. Perdemos por 3 x 1, fomos desclassificados e tivemos que voltar à nossa velha Kombi para retornar à Montes Claros, dali ao trem de passageiros e, finalmente, de carro até Espinosa. Uma verdadeira via-crúcis. Despedimo-nos de Tuka e Nislei e pegamos a estrada. Mesmo com todo o sofrimento, não há como negar que foi uma das melhores viagens que já fiz na vida. Valeu cada momento, cada segundo.
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Uma lembrança do nosso torcedor e motorista Quincão:
Waltinho, Eustáquio, Mangabinha, Tiãozinho e Quincão;
Vitamina, João Carlos e Quinha. |
Desde aquele dia, não mais encontrei Tuka, que mora hoje em São José do Rio Preto-SP. Mas estamos sempre em contato através da Internet. Dias desses, todo orgulhoso, ele me mandou umas fotos da sua netinha, a Lorena, que nasceu recentemente. É uma pessoa maravilhosa, que mesmo distante, faz parte da minha vida e tem o meu reconhecimento e o meu carinho, eternamente. A ele, o meu abraço e o desejo de muita saúde e felicidade ao lado da sua família. Longa vida e muita alegria e paz, grande amigo Tuka!
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Tuka, meu grande amigo |
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Nislei e sua netinha Lorena |
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