Sou um tanto otimista, mas antes de otimista, sou um sujeito realista. E confesso que não acreditava no sucesso das meninas da nossa Seleção Brasileira de Futebol Feminino nas Olimpíadas na França. Depois de assistir aos três primeiros jogos da fase de grupo nos Jogos Olímpicos de Paris, fiquei imensamente decepcionado e desanimado com o desempenho pífio delas em campo. Mostrando um futebol insosso, confuso e pouco competitivo, a nossa Seleção classificou-se com imensa dificuldade, com apenas uma vitória em três jogos, conquistada sobre a Nigéria pelo placar mínimo. A derrota para o Japão, no finalzinho, de virada, mostrou o quanto as meninas se dispersam em determinados momentos do jogo, em um fatal apagão. E a derrota acachapante para a Espanha no terceiro compromisso definitivamente sepultou as minhas esperanças de a Seleção seguir adiante na competição, ainda mais que a próxima adversária na fase eliminatória seria a poderosa França. Fiquei tão desacreditado no nosso time que preferi assistir às lutas de MMA no UFC Fight Night realizado no mesmo horário em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Só mais tarde é que, surpreso e extremamente feliz, descobri que as nossas meninas tinham realizado esta façanha mais que extraordinária de vencer a potente Seleção Francesa. Bom demais, sô! Que maravilha, uai!
Mas passada a euforia pelo feito incrível, desanimei-me novamente ao saber que iríamos enfrentar na semifinal a fortíssima Campeã Mundial Espanha, das craques Aitana Bonmatí e Alexia Putellas Segura, que havia nos derrotado por 2 x 0 antes, de forma inapelável. E sem a Rainha Marta Vieira da Silva, punida por expulsão contra a França. Mas agora havia em mim a confiança em uma boa apresentação, sem muita esperança de vitória, é verdade, mas pelo menos com um mínimo de competitividade das nossas garotas, o que não havia acontecido no confronto da fase classificatória. E, surpreendentemente, o que vi em campo foi uma transformação extraordinária do nosso time, com um espírito de luta aguerrido, uma determinação incrível e uma atuação ainda distante da perfeição, com algumas falhas importantes no posicionamento, na marcação e nas tomadas de decisão nas finalizações, porém com uma dedicação exemplar na estratégia tática armada pelo treinador Arthur Elias e, graças aos céus, com um tempero gostoso de alguma boa sorte. O primeiro gol nosso, marcado após uma presepada da ótima goleira espanhola Catalina Tomàs "Cata" Coll Lluch, que chutou a bola nas costas da zagueira Irene Paredes Hernández, mandando-a para o fundo da sua própria rede, caiu do céu, punindo a seleção adversária e dando mais confiança à nossa equipe que pressionava forte a saída de bola contrária. O Brasil continuou sufocando com marcação forte a Seleção Espanhola, ganhando várias disputas de bola e criando excelentes oportunidades de gols, infelizmente desperdiçadas, até que, após ótimo cruzamento de Yasmim Assis Ribeiro pela esquerda no finalzinho da primeira etapa, Gabrielle "Gabi" Jordão Portilho tocou de primeira com perfeição para colocar 2 x 0 no placar. Fim de primeiro tempo e a vitória era real, palpável e possível, para surpresa minha e acho que de milhões de outras pessoas pelo planeta, especialmente os espanhóis.
Veio o segundo tempo e o Brasil continuou firme na marcação e na pressão sobre a poderosa adversária Espanha, que tentava a todo custo virar o resultado, sem sucesso, muito por conta da nossa excelente goleira Lorena da Silva Leite, que fez uma atuação exuberante, assim como nas partidas anteriores. Mas viriam mais emoções na partida, com mais um gol brasileiro através de Adriana Leal da Silva, aos 25 minutos. A Espanha conseguiu seu primeiro gol depois de uma bobeira geral na nossa defesa, com Maria Eduarda "Duda" Ferreira Sampaio cabeceando a bola para nosso gol. Esperança de reação para a Espanha. Mas viria o nosso quarto gol aos 45 minutos, com Kerolin Nicoli Israel Ferraz, sepultando de vez o sonho espanhol de uma virada. Dentro dos incríveis 15 minutos de tempo extra determinado pela árbitra inglesa Rebecca Welch, a Espanha ainda marcou um segundo gol, mas a vitória brasileira já estava confirmada no Estádio de Marselha, para uma gigante avalanche de alegria para jogadoras, membros da comissão técnica e milhões de torcedores brasileiros. A Medalha de Prata já está garantida no peito das nossas meninas, após um hiato de 16 anos, mas por que não sonhar com o Ouro? Se chegaram até aqui, de forma tão espetacular, é hora de acreditar e buscar o sonho.
Se antes a meta de chegar ao lugar mais alto no pódio era praticamente impossível, agora a realidade é mais palpável, mesmo que dificílima. Vamos enfrentar um antigo, forte e conhecido adversário, o time dos Estados Unidos, que já nos derrotou em duas oportunidades, na prorrogação das finais disputadas em Atenas (2004) e Pequim (2008). Mesmo tendo a consciência e a humildade de que os Estados Unidos são os favoritos, temos que lutar para fazer História neste sábado, 10 de agosto, no Parque dos Príncipes, às 12 horas. As incríveis e consagradoras vitórias sobre as também favoritas França e Espanha comprovam que a nossa Seleção Brasileira pode vencer e escrever uma saga fenomenal de superação, alcançando uma façanha fabulosa de conquistar a Medalha de Ouro no futebol feminino nas Olimpíadas. Agora eu acredito! Vamos fazer História, meninas!
FASE DE GRUPOS - GRUPO C:
25-07-2024 - 14h - Brasil 1 x 0 Nigéria - Gabi Nunes
28-07-2024 - 12h - Brasil 1 x 2 Japão - Jheniffer
31-07-2024 - 12h - Brasil 0 x 2 Espanha
QUARTAS DE FINAL:
03-08-2024 - 16h - Brasil 1 x 0 França - Gabi Portilho
SEMIFINAL:
06-08-2024 - 16h - Brasil 4 x 2 Espanha - Irene Paredes (contra), Gabi Portilho, Adriana e Kerolin
FINAL:
10-08-2024 - 16h - Brasil x Estados Unidos
Mesmo se a Medalha de Ouro não vier, já valeu. Conquistamos mais uma Medalha de Prata com muita garra, dedicação e perseverança, lutando bravamente e de maneira leal e ética pelas vitórias. É assim que deve ser, sempre competindo com vontade, ética e respeito aos adversários, pois o esporte sério, correto e justo deve servir de exemplo para as futuras gerações. Com Ouro ou Prata na bagagem, que as nossas meninas sejam devidamente aplaudidas e reconhecidas no retorno ao nosso país. Parabéns, garotas!
Um grande abraço espinosense.
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