Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Centenário de Espinosa - Postagem 27

Para comemorar o Centenário de Espinosa da sua emancipação política, publicarei aqui no nosso blog 100 (CEM) textos específicos (além das postagens normais), sobre imagens, acontecimentos e "causos" sobre mim, a minha Espinosa e alguns dos seus notáveis personagens.

Nos tempos antigos era bastante difícil a locomoção das pessoas em percursos médios e mais longos, já que carros e motocicletas eram artigos de luxo apenas acessíveis aos ricos. Transporte diário por ônibus ainda era inexistente. Umas das poucas opções de deslocamento para os menos favorecidos pela sorte eram o cavalo e a bicicleta. Outra possibilidade de viagem disponível para grupos de pessoas era nos caminhões, que transportavam a população em cima da carroceria. Alguns dos viajantes iam sentados em bancos de madeira encaixados nas laterais da carroceria, os demais iam em pé mesmo, desconfortavelmente instalados, correndo sério risco de cair do veículo. Esse modelo adaptado de transporte de pessoas, mesmo desconfortável e perigoso, foi de fundamental importância para o desenvolvimento do país, com brasileiros do Nordeste, principalmente, deslocando-se por centenas de quilômetros com suas famílias em direção ao Sudeste em busca de empregos e da melhoria de vida para suas famílias.
"Não adianta ir embora,
pra São Paulo ou Guanabara,
o patrão que aqui me explora,
me arranca os olhos da cara,
é o mesmo patrão de lá,
e o Deus de lá é o daqui,
só deixo meu Cariri,
no último pau de arara..."
O sistema de transporte denominado de pau de arara, que também dá nome ao modo de transporte de aves para venda na feira e a uma terrível tática de tortura bastante utilizada durante a brutal ditadura militar brasileira, foi eternizado na história musical do Brasil na canção "O Último Pau de Arara", poema do poeta paraibano José Palmeira Guimarães musicado pela dupla Venâncio e Corumba (Marcos Cavalcanti de Albuquerque e Manoel José do Espírito Santo, respectivamente) no ano de 1956. Na famosa canção gravada por Luiz Gonzaga e Raimundo Fagner e que se tornou enorme sucesso, estes versos acima foram censurados.






Na nossa Espinosa os caminhões e picapes eram muito utilizadas no transporte de passageiros, devido à inexistência de ônibus e automóveis para esta travessia à época. Meu falecido pai utilizava o seu caminhão Ford para fazer, aos sábados de feira, o transporte de pessoas de Espinosa para o Estreito na década de 60 e 70. Era comum a utilização desses veículos para levar trabalhadores, conduzir pessoas para passeios nos rios e fazendas da região, realizar romarias na cidade turística baiana de Bom Jesus da Lapa e no transporte de jogadores para jogos em outras cidades circunvizinhas. 
Viajei muito na carroceria da C-10 da Prefeitura dirigida pelo saudoso Sêo Ezinho, pai de Tatuzinho, para jogar bola pelo Cruzeirinho em cidades do Norte de Minas e Sudoeste da Bahia. Era um sofrimento. E influenciava negativamente no nosso desempenho em campo, já que chegávamos cansados ao destino, pouco tempo antes do início das partidas. Após os jogos então, era ainda mais sofrimento, pois além do desconforto com a estrada irregular, do espaço restrito, da poeira e do frio, tínhamos que suportar as fortes câimbras. Se alguém tem saudade dessa tortura, eu não! Prefiro ir em estrada asfaltada em boas condições, de carro ou ônibus confortáveis, sem sol na cabeça, sem calor escaldante, sem poeira e com espaço para esticar as pernas. Afinal de contas, saudosismo tem limite.    
Ao longo do tempo as coisas melhoraram bastante, com mais opções e melhores, mais confortáveis e seguras condições de locomoção. Até a Lei foi alterada, proibindo o transporte de passageiros em compartimento de carga, conforme o artigo 230 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), configurando infração gravíssima (sete pontos na CNH), gerando multa (R$ 293,47), apreensão e remoção do veículo. Evoluir é sempre necessário. Era divertido, era, não há como negar. Mas havia riscos à vida, como aconteceu no acidente nos anos 80 que tirou tragicamente a vida da menina Tuka. que morava com a minha Tia Lia. A vida deve sempre ser preservada, e a prevenção é o melhor remédio.
Um forte, imenso e centenário abraço lençóisdorioverdense. 

Nenhum comentário: