Em muitos dos grandes sucessos do cinema, o autor do roteiro se incumbe de criar mil reviravoltas na trama, envolvendo os personagens, o tempo, o espaço, até desaguar no clímax e no desfecho quase sempre esperado, ou de quando em vez, totalmente inesperado e inconcluso. Pois o filme deste Campeonato Brasileiro de 2023 teve de tudo um pouco.
Antes de se iniciar a competição mais importante de clubes do país, o Brasileirão, o cenário do futebol já mostrava os grandes favoritos ao título, sem dúvida os três clubes que atualmente têm os melhores elencos: Flamengo, Palmeiras e Atlético. Obviamente que outros grandes clubes poderiam dificultar o títulos destes, casos de Athletico, Fluminense, Internacional, São Paulo e o competitivo Fortaleza. Os demais, devido às suas dificuldades financeiras e elencos menos qualificados, já se apresentavam com anseios mais diminutos, sonhando com uma vaga na Libertadores, a classificação para a Copa Sul-Americana ou simplesmente a distância da terrível zona do rebaixamento. As quedas de América, Coritiba e Goiás eram, até certo ponto, previsíveis, com outros prováveis pretendentes às vagas do descenso, como Bahia e Cuiabá, na briga. Entretanto, a luta para não cair para a Segundona juntou muito mais equipes, e de clubes gigantes e poderosos como Santos, Corinthians, Cruzeiro e Vasco. Faltando agora apenas duas rodadas para o encerramento do campeonato, imagino que Santos, Vasco e principalmente Bahia são os mais cotados para preencher a derradeira vaga para a Série B de 2024. Para o Cruzeiro cair, ele precisa perder as suas duas últimas partidas, contra Botafogo e Palmeiras e ver Santos e Vasco ganharem um dos seus dois jogos e o Bahia ganhar um jogo e empatar outro, ou ganhar os dois compromissos restantes, o que convenhamos, não parece fácil de ocorrer.
Na parte de cima da tabela de classificação, acontece uma briga boa desde o início do campeonato, com um desempenho extraordinário do surpreendente Botafogo, com um primeiro turno fora do normal, conseguindo um aproveitamento de 82%, uma pontuação de 47 pontos em 19 jogos e uma distância confortável de 13 pontos para o segundo colocado. Foram 15 vitórias, dois empates e apenas duas derrotas do time da Estrela Solitária, uma performance que nem o mais otimista e apaixonado botafoguense, como Paulo Tito, Paulinho de Florival e os saudosos Mizael Nascimento e Nivaldo Faber, acreditariam acontecer diante dos seus olhos. Se todos refletirem bem e com a devida justiça e serenidade, os integrantes da apaixonada torcida botafoguense não podem se sentir tristes ou decepcionados. O time fez muito mais do que podia. Liderou por 31 rodadas, tomando do Fluminense a ponta da tabela na terceira rodada e perdendo este privilégio para o Palmeiras na 34ª rodada. Antes que a competição começasse, ninguém em sã consciência, afirmaria que o Botafogo seria um dos candidatos ao título. Estar na liderança por 31 rodadas e entre os grandes na briga pelo título deve é deixar os botafoguenses felizes e com orgulho do seu time, sem nada de tristeza, abatimento e vergonha. Outros dois times que têm de comemorar muito as performances e a posição na tabela são o Grêmio, logo depois de retornar à primeira divisão e com a força e talento de Luizito Suárez, e o Red Bull Bragantino, que montou uma equipe extremamente competitiva, que fizeram excelentes campanhas e surpreenderam alcançando ótima posição na tabela e mostrando um bom futebol.
Sobre os clubes do nosso futebol mineiro, nenhuma surpresa. O América até prometia mais um ano de boas atuações e a desejada permanência na Série A, mas, apesar de apresentar um futebol aguerrido e organizado, os bons resultados não vieram e a equipe sucumbiu diante da força dos adversários mais preeminentes. Previsível a queda, portanto. O Cruzeiro é que desapontou boa parte dos seus torcedores, que acreditaram na boa campanha do primeiro turno e sonharam com uma campanha mais tranquila e sossegada. Tudo indica que o clube não repetirá a estrondosa queda de 2019 que resultou em três longos, sofridos e frustrantes anos na segunda divisão do futebol brasileiro. Mas a angústia promete se prolongar um pouco mais, talvez até a última rodada. Observando com atenção a tabela e diante das dificuldades das duas partidas restantes, o provável candidato à Segundona é o Bahia, que se juntaria aos já rebaixados América, Coritiba e Goiás. Mas como o futebol é imprevisível e tudo pode acontecer, Santos e Vasco, e até o Cruzeiro, podem se dar mal. Olho vivo então!
Quanto ao meu amado Clube Atlético Mineiro, só alegria! Só alegria, mas com um tantinho de decepção e desapontamento na alma. Não há como não comemorar a excelente fase atual e a conquista da vaga na Copa Libertadores de 2024, mas também não há como não lamentar os nossos infortúnios contra os times que estavam na briga para não cair. Ficamos dez jogos sem vitória, um deles pela Libertadores, logo após a troca de treinador e a chegada de Felipão. Perdemos três pontos na derrota inaceitável para o nosso arquirrival, jogando em casa, na Arena MRV. Perdemos quatro pontos para o nosso querido Ameriquinha, dois empates. Perdemos dois pontos para o Santos. Perdemos dois pontos para o Goiás, também em empate fora de casa. Perdemos cinco pontos para o Corinthians, em derrota dentro de casa, no Mineirão, e em empate fora. Perdemos pro Coritiba em casa, três pontos essenciais e praticamente certos e contabilizados. E perdemos nada menos que seis pontos para o Vasco! Duas derrotas, fora e em casa, um trem inacreditável. Tivemos derrotas que podem ser consideradas normais, como as para o Botafogo, o Fortaleza, o Flamengo e o Grêmio. O interessante é que, se fomos infelizes nos embates com os times menos qualificados, ao mesmo tempo tivemos excelentes atuações e resultados contra as melhores equipes do país. Vencemos o Flamengo por 3 x 0 em pleno Maracanã, em uma partida impecável do treinador Luiz Felipe Scolari e de seus comandados. Vencemos o provável campeão Palmeiras em seus domínios. Vencemos o Athletico. Vencemos o Internacional duas vezes. Vencemos o Bragantino. Vencemos o São Paulo. Vencemos o Fortaleza. Vencemos o Fluminense. Vencemos o Grêmio. Vencemos o Botafogo e outros times menos competentes. Mas assim é o futebol. Uma vitória decide o campeonato. Um gol pode decidir o título. E alguns vacilos tiram definitivamente a chance de uma equipe levantar a taça de campeão após uma temporada inteira de dedicação e luta. O futebol é isso, apenas um jogo em que os mais competentes e menos instáveis mostram sua eficácia e eficiência, conquistando, passo a passo e de forma contínua e equilibrada, os pontos necessários para a conquista do título. É assim que deve ser! Quem ganha comemora, festeja e tira sarro dos adversários, e quem não saiu vitorioso exerce a humildade, recolhe-se, cala-se e se prepara para uma nova oportunidade.
Resumindo: o Palmeiras será o novo Campeão Brasileiro! A briga pelas demais posições no campeonato ainda continua, trazendo grandes emoções para quem ama este esporte tão imprevisível e maravilhoso.
Um grande abraço espinosense.
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