Espinosa, meu éden

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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

2260 - Gonzaguinha, eternamente presente!

Ele estaria completando 74 anos neste dia 22 de setembro de 2019, mas quis o destino que o talentoso compositor e cantor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior perdesse prematura e violentamente a vida em um acidente de automóvel em uma estrada do Paraná na manhã de 29 de abril de 1991, quando tinha apenas 45 anos de idade. O automóvel Monza de placa AOM-8373, ano 1991, que o cantor dirigia, chocou-se violentamente com um caminhão que vinha na contramão na estrada próxima da cidade de Renascença, causando a sua morte e a do seu empresário Aristides Pereira, além de ferimentos graves no terceiro ocupante do carro, Renato Costa.

"Guerreiros são pessoas tão fortes, tão frágeis,
Guerreiros são meninos no fundo do peito,
Precisam de um descanso, precisam de um remanso,
Precisam de um sono que os torne refeitos,
É triste ver esse homem, guerreiro, menino,
Com a barra de seu tempo por sobre seus ombros..."


Gonzaguinha, como ficou conhecido, nasceu de uma relação amorosa entre o famoso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, com Odaléia Guedes dos Santos, cantora e dançarina do Dancing Brasil. Com a morte precoce da mãe, quando tinha apenas dois anos de vida, Gonzaguinha passou a ser criado pelos avós, o padrinho Henrique Xavier e pela madrinha Dina. Ali onde nasceu, no Morro de São Carlos, no Bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, foi onde descobriu seu amor pela música, influenciado pelo avô e pelos muitos sambistas ao redor. O pai, apesar de sempre enviar dinheiro para as despesas de educação, quase nunca aparecia para ver o filho, o que causou um imenso abalo na relação afetiva entre eles, só desfeito anos depois, quando eles se reconciliaram e fizeram juntos uma turnê pelo país.

"Dos humilhados e ofendidos,
Explorados e oprimidos,
Que tentaram encontrar a solução,
São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas,
Memória de um tempo onde lutar por seu direito,
É um defeito que mata..."


Gonzaga Júnior começou a criar suas próprias composições após participação nas rodas de violão na residência do psiquiatra Aluísio Porto Carreiro, cuja filha, Ângela, acabou tornando-se mais tarde sua primeira esposa. Os filhos Daniel e Fernanda são frutos deste casamento. Nesse tempo é que ele conheceu e se juntou aos músicos Ivan Lins, César Costa Filho, Aldir Blanc e Dominguinhos para formar o MAU-Movimento Artístico Universitário. A partir daí vieram as participações em festivais, como o de 1968, em que foi finalista com a canção "Pobreza por Pobreza", e o de 1969, em que ganhou o primeiro lugar com a canção "Trem". O empurrão maior na fama veio através da televisão em fevereiro de 1973, quando se apresentou no prestigiado programa de Flávio Cavalcanti, cantando a música "Comportamento Geral", uma crítica contundente à servidão do povo brasileiro, em plena era ditatorial no país. Após controvérsias quanto ao teor da letra, que a fez ocupar as paradas de sucesso, a música foi proibida em todo o país, com o compositor tendo que prestar esclarecimentos na polícia política da época, o DOPS. Muitas outras composições suas, com temática política e social, foram censuradas no período.

"Meu irmão, amanhã ou depois,
A gente retorna ao velho lugar,
Se abraça e fala da vida que foi por aí,
E conta os amigos nas pontas dos dedos,
Pra ver quantos vivem e quem já morreu,
Amanhã ou depois..."


Gonzaguinha não se intimidou e continuou a criar discos memoráveis com canções de forte crítica política e social. Vieram "Gonzaguinha" (1974), "Plano de Voo" (1975) e "Começaria Tudo Outra Vez" (1976). Em 1979, com a gravação da linda música "Não Dá Mais Para Segurar" ("Explode Coração") pela baiana Maria Bethânia, o sucesso chegou em volume máximo. O êxito continuaria com mais músicas tocando muito em todo o país, gravadas também por outros artistas, como "Eu Apenas Queria Que Você Soubesse" por Elis Regina. Gal Costa, Zizi Possi, Simone, Fagner e Joanna também fizeram sucesso com outras canções suas.
No ano de 1981, após sua reconciliação com o pai, Gonzaguinha estrelou uma turnê conjunta com Gonzagão pelo país, com o show "Vida de Viajante".
Além de seus dois filhos do relacionamento com Ângela (de 1974 a 1981), Daniel e Fernanda, Gonzaguinha tem a filha Amora, do seu relacionamento com Sandra Pera, d´As Frenéticas (de 1981 a 1984); e a filha Mariana, do relacionamento com sua terceira esposa, Louise Margarete (de 1984 a 1991).
O artista carioca foi homenageado pela Escola de Samba Estácio de Sá com o enredo "É! O Moleque Desceu o São Carlos, Pegou Um Sonho e Partiu Com a Estácio!" em 2017. Em 2019 foi a vez de a Escola de Samba Império Serrano homenageá-lo usando como enredo, de forma inédita, sua belíssima canção "O Que É, O Que É?".

"Eu apenas queria que você soubesse,
Que aquela alegria ainda está comigo,
E que a minha ternura não ficou na estrada,
Não ficou no tempo presa na poeira..."


Como sempre acontece com os grandes artistas de obra robusta e atemporal, Gonzaguinha se perpetua na história da Música Popular Brasileira em posição eterna de vanguarda e relevância, tendo a sua brilhante coleção de clássicos reverenciada mundo afora. Seus sonhos e aflições estarão para sempre gravados e explicitados nas suas belas e contundentes canções. Gonzaguinha e sua arte continuam eternos, cheios de vigor e encanto. Eu adoro!
Um grande abraço espinosense. 

"Vale mais o trem das cores,
Que uma existência pode perceber,
Vale nada porta fechada,
Festa acabada,
Melhor morrer..."




Discografia:
1970 - Os Senhores da Terra (Trilha Sonora)
1973 - Luiz Gonzaga Jr.
1974 - Luiz Gonzaga Jr.
1975 - Plano de Voo
1976 - Começaria Tudo Outra Vez
1977 - Moleque Gonzaguinha
1978 - Recado
1979 - Gonzaguinha da Vida
1980 - De Volta ao Começo
1981 - Coisa Mais Maior de Grande - Pessoa
1981 - A Vida do Viajante (Com Luiz Gonzaga)
1982 - Caminhos do Coração
1983 - Alô Alô Brasil
1984 - Grávido
1985 - Olho de Lince / Trabalho de Parto
1987 - Geral
1988 - Corações Marginais
1990 - Luizinho de Gonzagão Gonzaga Gonzaguinha
1993 - Cavaleiro Solitário
2001 - Luiz Gonzaga Jr. - Gonzaguinha

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