Mesmo de forma ainda indesejável, ao contrário do que exigia o movimento popular das "Diretas Já", mas da melhor forma possível para a ocasião, finalmente em 15 de janeiro de 1985 findava um período tenebroso da história do Brasil, a nefasta ditadura militar iniciada em 1964. Através de uma eleição indireta no Colégio Eleitoral, Tancredo de Almeida Neves venceu por 480 votos contra 180, com 26 abstenções, (de um total de 686) o deputado do PDS Paulo Salim Maluf, colocando fim nos terríveis anos de chumbo e iniciando um processo de fundamental importância para a redemocratização e a volta da liberdade ao país.
Quis o destino que o vencedor da eleição indireta não tomasse posse nem vestisse a faixa presidencial. Tancredo sentiu-se bastante mal às vésperas de ser empossado no cargo, data marcada em 15 de março de 1985, e foi internado às pressas no Hospital de Base de Brasília, passando por várias cirurgias sem sucesso e finalmente deixando o país inconsolável quando faleceu em 21 de abril. A causa de sua morte até hoje causa controvérsias entre os médicos.
Naquele momento de libertação e alguma insegurança, mesmo com a vitória de Tancredo Neves e seu vice José Sarney, a Democracia parecia ter renascido no país, após 21 anos de repressão, violência, sequestros, torturas, mortes e desaparecimentos. Anos de chumbo, de nenhuma liberdade de expressão, nem mesmo no campo da música, onde várias canções foram idiotamente censuradas. Um período de trevas que espero jamais se repetir, embora a situação política atual do país aponte para coisa parecida, infelizmente.
Conseguimos uma façanha, vencer a ditadura! E o melhor de tudo, sem derramamento de sangue, com a vitória sendo costurada e implementada nos bastidores de um processo que envolveu várias vertentes políticas do país, com atuação destacada do grande Ulysses Guimarães. E aí, ingenuamente, passamos a acreditar que a Democracia seria fortalecida cada vez mais e que iríamos mantê-la até o fim dos tempos. Quanto engano! Os recentes acontecimentos no Brasil mostram claramente os riscos que a nossa frágil Democracia corre, sobretudo sob a tentação dos poderosos acostumados a usufruírem infinitamente das benesses do poder.
O desalentador é perceber que, mesmo após 32 anos, uma enorme parcela da nossa população desconhece a história do país ou se deixa manipular facilmente, sem vislumbrar o jogo de interesses internos e externos que vigora nas sombras e nos bastidores.
São 32 anos de exercício da Democracia a se comemorar hoje, 15 de janeiro de 2017. Mas fica a dúvida, temos mesmo o que celebrar?
Ditadura, nunca mais! Democracia, sempre! Liberdade, eternamente!
Um grande abraço espinosense.
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