Confesso ser um grande admirador do médico e escritor Dráuzio Varella, não só pela sua atuação como médico em programas na televisão, alertando e simplificando o entendimento, pela população desinformada, dos perigos e efeitos das enfermidades, mas também pela sua conduta ilibada, digna e de uma humildade impressionante para quem possui tamanha notoriedade.
O Doutor Dráuzio, paulistano, nascido em 1º de janeiro de 1943, tem mais de 23 anos de trabalho voluntário nas prisões paulistas. O fascínio por este mundo vem desde a infância. Com todos esses anos de convívio com a imensa população desses verdadeiros infernos humanos, o escritor lançou em 1999 o livro "Estação Carandiru", contando histórias envolvendo detentos de um dos maiores presídios do país, a Casa de Detenção, desativado e implodido em 2002. No livro ele revela o intrincado, firme e impiedoso código de ética das prisões, que regula duramente as regras de convivência entre a população carcerária. O sucesso do livro, que vendeu mais de 500 mil exemplares, acabou resultando no filme "Carandiru".
Com uma convivência longa e harmoniosa com os agentes penitenciários, os chamados carcereiros, o Dr. Dráuzio acabou se tornando amigo íntimo de muitos deles, a ponto de se reunirem constantemente em um boteco nas imediações da prisão para tomarem uma cerveja e desestressar a mente após um cansativo dia de trabalho. Mesmo após a desativação do presídio, eles ainda se encontram de vez em quando para celebrar a amizade e colocar as histórias em dia.
A partir desta convivência, muitas histórias foram contadas e ele, para não perdê-las, resolveu escrever um livro contando tudo: "Carcereiros". Acabei de lê-lo. Lá está retratada a realidade dramática de suas vidas, das suas origens, dos seus complicados relacionamentos familiares, do seu trabalho recheado de periculosidade, dos salários insuficientes, da violência constante ao redor, da corrupção, das traições, mas também dos atos de heroísmo, de solidariedade e de compaixão. Esses valorosos homens, obrigados diariamente a uma jornada de trabalho estafante em um ambiente de pressão constante, relatam as suas "aventuras" de verdadeiros roteiros cinematográficos, sempre com a presença constante da violência, da dor e da sombra da morte, mas sem jamais perder o bom humor. O que impressiona no livro é a surpreendente dimensão humana dos depoimentos desses homens corajosos e decididos que, sem as condições necessárias ao trabalho, enfrentam centenas de perigosos prisioneiros de peito aberto. Mesmo com as suas deficiências morais, concernentes a todos nós, são certamente desconhecidos heróis do cotidiano, acima de tudo. Não deixe de ler.
O Dr. Dráuzio Varella prepara a terceira edição desta trilogia, o livro "Prisioneiras", que sairá em breve e contará as histórias das mulheres presas na Penitenciária Feminina da capital paulista, onde ele presta os seus serviços voluntários atualmente. Certamente irei ler mais esta sua obra.
Se você quiser conhecer mais sobre a vida e atuação deste grande brasileiro, acesse drauziovarella.com.br.
Um grande abraço espinosense.
Título: Carcereiros
Editora: Companhia das Letras
Encadernação: Brochura
Altura: 21 cm
Largura: 14 cm
Peso: 0,292 kg
Edição: 1ª
Ano de Lançamento: 2012
Número de páginas: 232
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