O tempo não para! Uma verdade. E a única certeza que temos na vida é a de que um dia morreremos! Outra verdade. Mas nesses tempos sombrios em que a verdade é constantemente bombardeada, deturpada e escamoteada para atingir os mais podres interesses, uma breve saída satisfatória e prazerosa é se distrair assistindo a uma ótima produção cinematográfica de ficção, na paz e no aconchego de casa.
Assim é que procurei espaço na minha concorrida agenda cotidiana de velho aposentado, para esquecer, por um pequeno instante, as constantes alegrias de ver o meu Atlético fazendo bonito nos campos do país, e assistir a um ótimo filme na Netflix. Ontem fui ver "Ella e John", uma produção baseada no livro "The Leisure Seeker", de Michael Zadoorian. Em tradução livre, "The Leisure Seeker" seria algo como Caça-Lazer, um antigo, quadrado e feio trailer em que os idosos personagens protagonistas saem escondidos dos dois filhos em viagem pelos EUA, deixando Boston em direção à casa do renomado escritor Ernest Hemingway na Flórida.
O filme de 2017 dirigido pelo cineasta italiano Paolo Virzì conta a história do cativante casal Elle e John Spencer, brilhantemente interpretados por Hellen Mirren e Donald Sutherland. Ela, uma mulher dedicada ao marido e com uma língua afiada, bastante tagarela e ciumenta, com uma doença terminal. Ele, um gentleman e sábio professor apaixonado pela poesia, especialmente pela obra de Ernest Hemingway, com graves problemas de memória. Já no ocaso das suas vidas, eles decidem desaparecer dos olhos dos filhos Will e Jane pegando a estrada, como faziam constantemente quando ainda jovens e com os rebentos ainda pequenos. Nesta aventura amalucada de dois velhos com problemas graves de saúde, o Câncer e o Alzheimer, toda sua triste caminhada em direção à eternidade é acompanhada de um ambiente de emotividade, companheirismo e de muito amor. As muitas situações de dor e tristeza com as dificuldades das enfermidades e dos relacionamentos familiares são minimizadas pelas engraçadíssimas cenas e diálogos entre os personagens principais, que dão uma aula de interpretação nos papéis de figuras tão complexas.
O filme nos leva a uma necessária reflexão, atitude tão pouco ou nada utilizada hoje em dia pelas pessoas, no sentido de parar para pensar sobre os nossos relacionamentos afetivos, sobre a passagem célere do tempo, do que estamos fazendo das nossas vidas e que mundo estamos construindo para os nossos descendentes. Não há saída. Não há como impedir, a morte virá nos chamar, só não sabemos quando. Então é hora de refletir, aprender, rever velhos, tortos e retrógrados conceitos e colocar outra visão de mundo em prática, sempre focada no Amor, na Harmonia, na Paz e na Justiça.
Um grande abraço espinosense.
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