Espinosa, meu éden

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quinta-feira, 30 de maio de 2024

3470 - A crueldade nas malditas ditaduras

Abomino completamente a covardia, a violência e o ódio. E nada pode ser mais covarde, bárbaro e odioso que a tortura. Na tortura, um ou muitos covardes e desumanos espancam brutalmente alguém fragilizado e impedido de se defender. Coisa de gente pusilânime e desalmada, sem coração.
Assim, nada mais explícito, doloroso e aflitivo que depoimentos daqueles outrora jovens, pobres, humildes e inocentes seres humanos que foram compelidos a integrar força de segurança nacional e que sofreram na pele os excessos cometidos pelos integrantes das Forças Armadas brasileiras que se propunham a impedir a implantação do "Comunismo" no Brasil durante os "anos de chumbo" da maldita ditadura militar que imperou por 21 longos e tenebrosos anos. Este é o cenário mostrado no documentário lançado em 2017 e disponível na Netflix, intitulado "Soldados do Araguaia". 
Na produção dirigida por Belisario Franca, os atos covardes, gratuitos e violentos dos soldados "oficiais" contra os jovens soldados da região do Araguaia incorporados à força, são narrados de forma emocionada pelas vítimas com sentimentos de vergonha, indignação e raiva. Além de terem sido utilizados como massa de manobra na tentativa de capturar ou assassinar os jovens guerrilheiros do PCdoB que lutavam contra a ditadura militar, eles também sofreram violência e tortura, com tratamentos humilhantes. Até o final de suas vidas, nunca tiveram o reconhecimento federal por sua participação na caça aos inimigos do regime, desprezados e tratados como nada.
Pessoas normais, com o mínimo de sentimento cristão, certamente sentirão o coração apertado e alguma sensação de indignação e revolta com a forma brutal e truculenta com que servidores do Exército trataram seus companheiros de batalha, demonstrando toda sua estupidez e ausência de humanidade. Além de mostrarem toda sua crueldade e selvageria em assassinar friamente jovens acuados e inertes, jogando-os à floresta de helicópteros ou fuzilando-os impiedosamente, essas figuras bárbaras e cruéis ainda atacavam e torturavam seus próprios parceiros de luta.




O filme tem 73 minutos de duração e tenta colocar alguma luz sobre a obscura história da Guerrilha do Araguaia, que entre os anos de 1967 e 1974,  trucidou jovens sonhadores brasileiros inconformados com a ditadura militar implantada no país. que se aventuraram numa malfadada luta armada contra o regime autoritário, sem a menor chance de vitória, com 76 pretensos revolucionários munidos precariamente em confronto com cerca de 5 mil militares fortemente armados. A produção tenta dar espaço e voz aos combatentes do Araguaia completamente abandonados pelo Exército, bastante traumatizados, sem qualquer apoio desde que foram sumariamente descartados após o aniquilamento dos guerrilheiros.




Infelizmente, o documentário não nos mostra imagens dos fatos ocorridos, apenas algumas fotografias dos soldados participantes da caçada na floresta do Pará. Porém, somente os depoimentos dos sobreviventes de página deplorável da nossa história já servem para termos noção da insensatez e do desvario que se abateu sobre a nossa Pátria Mãe Gentil em tempos de radicalismo extremo e visões distorcidas da realidade que se repetem ao longo do tempo, com consequências desastrosas para a população ansiosa e sedenta por paz e justiça social. Até hoje, muitos dos guerrilheiros do Araguaia não foram encontrados, sendo tratados como "desaparecidos", sem uma resposta esclarecedora das instituições governamentais, o que causa imensa dor e sofrimento aos familiares que não podem lhes dar um enterro digno.
Certamente não existem inocentes no campo de batalha. Mas até na guerra há que se seguir condutas minimamente éticas e humanitárias, com condenações explícitas sobre atos de tortura, uso de armas químicas, uso de balas explosivas, negação de alimentação a prisioneiros e fuzilamento de rendidos. A informação correta e detalhada dos fatos e a entrega dos corpos dos mortos aos familiares são mais que atos de respeito às famílias enlutadas, para que os restos mortais dos falecidos possam ter um sepultamento digno. É o que infelizmente ainda falta neste capítulo horroroso da história brasileira ocorrido na Guerrilha do Araguaia que continua latente e escamoteado lamentavelmente até os dias atuais.  
Um grande abraço espinosense.

  

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