Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

domingo, 13 de novembro de 2022

3073 - O adeus aos palcos de Milton Nascimento

O Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, foi o palco escolhido por Milton Nascimento para encerrar sua carreira de sucesso de mais de 60 anos. Ali, palco de tantos gênios da bola como Tostão, Dirceu Lopes, Pelé, Reinaldo, Toninho Cerezzo, Luizinho, Éder, Alex, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Hulk, também o craque da música mostrou sua arte. Intitulado "A Última Sessão de Música", o espetáculo de despedida de um dos maiores astros da rica Música Popular Brasileira, com cenário d’Os Gêmeos e figurino de Ronaldo Fraga, teve esgotados os ingressos, atraindo gente do mundo inteiro para Belo Horizonte neste domingo.
Ao lado de amigos fiéis, do filho e empresário Augusto Kesrouani Nascimento, da diretora Flávia Moraes, que está acompanhando a turnê, captando imagens para um documentário a ser lançado em 2023, e da competente banda formada por Zé Ibarra (vocal e violão), Wilson Lopes (guitarra), Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Ronaldo Silva e Wanderley Silva (percussão), Alexandre Primo Ito (baixo acústico) e Frederico  Heliodoro (vocal e baixo elétrico), Milton Nascimento apresentou ao público de cerca de 60 mil espectadores, algumas das suas mais conhecidas e amadas canções. Logo no começo, dedicou o show à sua amiga Gal Costa, falecida recentemente. 
Milton apareceu no centro do palco como um sábio e encantado pajé, sentado quietinho com as mãos sobre as pernas, com uma túnica desenhada em amarelo e vermelho para iniciar o espetáculo. Os 80 anos de idade cobram o preço natural da vida, no passar irreversível do tempo, com a voz saindo já não mais como antes. Os movimentos são lentos, os cabelos sumiram, a vitalidade é frágil. Não importa! A beleza e a força das suas canções nunca se perderão pelos caminhos de encontros e despedidas. Cantou inicialmente três canções, "Ponta de Areia", "Canção do Sal" e "Morro Velho", e com elas homenageou aquela que confessou ser o amor maior da sua vida, Elis Regina. Ovacionado pelo público, Milton agradeceu os gritos carinhosos de "Bituca", "Bituca", vindos de todos os cantos do estádio.
Ao cantar "Que Bom Amigo", já sem a túnica e de roupa azul, óculos e boina, Bituca recebeu a presença no palco dos velhos amigos e companheiros de Clube da Esquina, Lô Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso e Beto Guedes. Juntos eles cantaram "Para Lennon e McCartney", composição de Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, celebrando o fato de o disco "Clube da Esquina" ter sido escolhido o melhor de todos os tempos na música brasileira.  
Com "Lília", Milton prestou homenagem à sua mãe adotiva. Mais adiante, com a presença do amigo Samuel Rosa no palco, cantou "O Trem Azul" com este e a multidão emocionada. Dedicando ao público presente e aos seus milhões de fãs espalhados pelo mundo inteiro, cantou "Canção da América". 
Depois de inúmeros sucessos apresentados, o encerramento veio com a interpretação de "Maria Maria". No bis, Wagner Tiso sentou-se ao piano para tocar "Coração de Estudante". Ao final, Milton saudou, feliz: "Viva a Democracia!", para delírio de imensa maioria da plateia.
Após me emocionar seguidas vezes, eu tendo de ir ao banheiro enxugar as lágrimas que insistiam em molhar meu rosto, caí de novo na emoção com "Travessia" e "Encontros e Despedidas", ambos clássicos estupendos da genial dupla Fernando Brant e Milton Nascimento, que encerraram definitivamente o show e a carreira de Milton nos palcos do mundo e da vida. Se me emocionei tanto assim em casa, acompanhando pelo notebook graças a Globoplay que liberou o sinal da apresentação aos não assinantes, imagine só se eu estivesse presente lá no Mineirão?

MÚSICAS DO SHOW NO MINEIRÃO:
Tambores de Minas (Incidental) Ponta de Areia (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Catavento (Incidental) Canção do Sal (Mílton Nascimento)
Morro Velho (Mílton Nascimento)
Outubro (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Amor de Índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
Vera Cruz (Márcio Borges e Milton Nascimento)
Pai Grande (Milton Nascimento)
Que Bom Amigo (Milton Nascimento)
Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant)
Um Girassol da Cor do Seu Cabelo (Lô Borges e Márcio Borges)
Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
Tudo o Que Você Podia Ser (Lô Borges e Márcio Borges)
San Vicente (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Clube da Esquina nº 2 (Lô Borges, Márcio Borges e Milton Nascimento)
Lília (Milton Nascimento)
Nada Será Como Antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
A Última Sessão de Música (Milton Nascimento)
Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)
Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso)
Volver a Los 17 (Violeta Parra)
O Trem Azul (Lô Borges e Ronaldo Bastos)
Calix Bento (Tavinho Moura)
Peixinhos do Mar (Tavinho Moura)
Cuitelinho (Milton Nascimento, Wagner Tiso, Paulo Vanzolini e Antònio Xandó)
O Cio da Terra (Milton Nascimento e Chico Buarque)
Canção da América (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Caçador de Mim (Luiz Carlos Sá e Sérgio Magrão)
Nos Bailes da Vida (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Tema de Tostão (Milton Nascimento)
Fazenda (Nélson Àngelo)
Bola de Meia, Bola de Gude (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Maria Maria (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Coração de Estudante (Milton Nascimento e Wagner Tiso)
Travessia (Fernando Brant e Milton Nascimento)
Encontros e Despedidas (Fernando Brant e Milton Nascimento)

A derradeira turnê de Milton, denominada "A Última Sessão de Música" se iniciou no Rio de Janeiro no dia 11 de junho, depois passou pela Europa, Estados Unidos e terminou apoteoticamente no Estádio do Mineirão em 13 de novembro de 2022. Na extensa carreira, Milton Nascimento lançou 43 discos, ganhou cinco prêmios Grammy e o título de Doutor Honoris Causa em Música pela Universidade de Berklee, em Boston.

Datas e locais:
11 de junho - Rio de Janeiro - Cidade das Artes
15 de junho - Torino (Itália) - Torino Jazz Festival 2022
21 de junho - Londres - Union Chapel
23 de junho - Lisboa - Coliseu dos Recreios
26 de junho - Castelo Branco, Portugal - Cine-Teatro Avenida
29 de junho - Porto, Portugal - Casa da Música
02 de julho - Braga, Portugal - Theatro Circo
10 de julho - Veneza, Itália - Teatro La Fenice
06 de agosto - Rio de Janeiro - Jeunesse Arena
07 de agosto - Rio de Janeiro - Jeunesse Arena
26 de agosto - São Paulo - Espaço Unimed
27 de agosto - São Paulo - Espaço Unimed
30 de setembro - Flórida, Estados Unidos - The Parker
06 de outubro - Nova York, Estados Unidos - Town Hall
09 de outubro - Boston, Estados Unidos - Berklee
16 de outubro - Berkeley, Estados Unidos - The UC Theatre
13 de novembro - Belo Horizonte - Mineirão

Foi tudo emocionante. O que mais se via nos rostos das pessoas eram lágrimas. A multidão unida em um clima de Paz, Amor e Harmonia, comemorando a Arte, a Cultura, a Música, a Democracia, o talento de um dos nossos mais iluminados seres humanos. Claramente percebe-se a debilidade física do artista, infelizmente. Ao final do espetáculo, para se despedir do público presente no Mineirão, ele teve que ser amparado pelo filho e outro amigo. Aos 80 anos, sofrendo de diabetes, Bituca parece se aproximar da despedida deste mundo tão incrivelmente lindo, mas violento e injusto. Mas a imprevisibilidade do destino pode levar antes dele muita gente jovem e saudável, quem sabe? Que o amado Bituca tenha força e saúde para nos maravilhar ainda muito tempo com sua mente criativa e musical.   
Obrigado por tudo, mestre Milton Nascimento! Gratidão por cada momento de prazer, emoção e alegria que me presenteaste nesses bastantes anos com sua música maravilhosa.
Um grande abraço espinosense.








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