Infelizmente algumas pessoas bastante queridas vão-se embora precocemente, deixando no coração da gente um gigante emaranhado de dor, tristeza e saudade. Assim ocorreu com cinco amigos-irmãos da minha eterna Rua da Resina. Partiram prematuramente deste mundo terreno Jésus Natalino Vieira, Jorge Adaílson Cordeiro dos Santos, Francisco Carlos Gonçalves Lopes, José Valite e Geraldo Gonçalves Lopes. E como também se foram para outra dimensão, ícones da nossa singular rua, personagens inesquecíveis como João Meira Gomes, Luiz Nogueira Tolentino e Florisvaldo Lopes Cruz, entre outros.
Orgulho-me enormemente e agradeço dia após dia por Deus ter-me dado a dádiva de nascer e viver naquela estreita e abençoada rua de paralelepípedos que ladeia o Rio São Domingos, antes um paraíso natural para toda a comunidade e sobretudo para uma geração singular de meninos e meninas cheios de sonhos e entusiasmo. Não bastasse o ambiente natural afortunado, contávamos com uma turma coesa e animada, sempre envolvida no respeito à Natureza, na prática de esportes e no exercício constante da arte e da cultura, seja na música, na poesia e na criação e elucidação de charadas. Corriqueiro era criar poesias para a anual queima do Judas, para competições culturais, para homenagens quaisquer e até para registrar fatos do cotidiano, muito influenciados positivamente por nosso mentor Luizão e demais figuras ilustres da nossa rua.
Dia desses, recebi um envelope enviado pela minha amiga Júlia Montalvão, esposa do falecido amigo-irmão Gera de Vavá. Como havia me prometido em encontro anterior ocorrido em Espinosa, ela me passou às mãos alguns simples documentos guardados com carinho desde os nossos bons tempos de juventude. Um deles é um pequeno cartão de Natal com dedicatória da nossa turma de amigos endereçada a alguém que não consegui identificar.
Outro papel contém uma poesia intitulada "Ébrios", escrita por Carlos Magno Tolentino Vieira, o Magrão. Nos seus versos, Magrão descreve com detalhes poéticos um fato bastante engraçado envolvendo alguns dos nossos companheiros em um banho de rio misturado com pescaria e cachaça em que Jésus, ou Dézio como também era chamado, quase se afogou em pouco mais de 15 cm de água corrente no Rio São Domingos.
Outro papel traz um "edital" em que eu havia criado e datilografado um documento de 14 regras para serem seguidas impreterivelmente em uma viagem de passeio à cidade de Montezuma, na época conhecida como Água Quente. Obviamente que as regras impostas eram pura gozação, nada mais que brincadeira tão normal e costumeira na turma.
O derradeiro documento, datado de 27 de outubro de 1981, é uma despedida emocionante e carinhosa feita em forma de poesia pelo nosso amigo Valdivino Pinto de Rezende, quando de sua mudança de Espinosa para Brumadinho. Nos seus versos, Valdivino demonstra toda sua verve poética para transmitir à cidade de Espinosa, especialmente à nossa Rua da Resina, todo o seu carinho e consideração para com todos nós. Vale registrar aqui suas considerações finais no documento, que muito me alegraram.
"Aos amigos de Espinosa, especialmente da Resina:
Comigo não existe a palavra despedida. Existe um até breve, carregado de saudade, emoção e talvez regado de lágrimas internas, pela separação física. Meu pensamento e meu espírito estarão sempre com vocês, onde quer que eu esteja. Minha despedida é um apertar de mãos e um até breve. E uma declaração de amor expressa e assinada a todos vocês da Resina: EU AMO TODOS VOCÊS, sem distinção de solteiros ou casados, noivos ou namorados, velhos ou novos, homens ou mulheres."
Este sentimento de pertencimento, de acolhimento, de fazer parte profundamente de uma comunidade amorosa, pacífica e harmoniosa, era um dos pilares da concórdia que imperava na minha amada Rua da Resina. Infelizmente, talvez pela passagem inclemente do tempo que tudo muda, isso parece estar se perdendo aos poucos no ar nesses tempos sombrios que vivemos. Espero estar enganado.
Tenho plena consciência de que esses velhos e amarelados papéis não têm o menor significado e valor para a grande maioria de vocês leitores, mas para mim e para mais alguns amigos que viveram esses momentos, essas lembranças têm importância extremamente relevante e nos trazem imensa alegria.
Ficam aqui registrados os meus agradecimentos a Júlia pelos tesouros me presenteados e a imensa saudade dos amigos que já se foram, mas que continuarão eternizados no meu coração sempre aberto.
Um grande abraço espinosense.
4 comentários:
Linda homenagem à Rua da Resina. Não sou um timoneiro autêntico, pouco nem Espinosa nasci. Mas me considero um, pois foi na Resina que encontrei a mulher de minha vida, Luciana de Juca Cruz. Amo essa rua.
Mesmo não sendo rizineiro , sou apaixonado pela Rua da Resina. Foi onde encontrei a mulher de minha vida. Luciana de Juca.
Bom dia, Amauri!
Feliz por vê-lo por aqui, no nosso blog.
Ser resineiro é um estado de espírito e você, com a união amorosa com a "nossa" querida resineira Luciana, foi imediatamente "condecorado" filho da rua.
Um abração.
Eustáquio
Um grande abraço meu amigo Eustáquio!
Postar um comentário