Espinosa, meu éden

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

2115 - A arte e o amor transformam Pasmadinho




A pequena comunidade de Pasmadinho, distante 15 km da cidade de Itinga, no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, em que moram artesãos que trabalham com cerâmica e madeira, ganhou ares mais coloridos e estimulantes nos últimos tempos. É que por lá apareceu um jovem de coração altruísta e um sentimento possante de solidariedade e amor ao próximo de nome Wederson Moraes de Almeida. Com 42 anos de idade, o artista plástico, artesão, educador e músico amador, formado na Universidade Estadual de Minas Gerais em Belo Horizonte, depois de perambular pelo mundo mostrando sua arte, resolveu se envolver profundamente em um projeto meio maluco para um sujeito comum. Escolheu o pequeno distrito de Pasmadinho em Itinga, para colocar em prática um sonho antigo, o de transformar completamente a paisagem triste do Sertão através da arte, do desenho, da pintura e das cores, com a ideia subjacente de atingir e alavancar a auto-estima do sofrido povo do Sertão Mineiro.





Wederson largou tudo e tentou a todo custo conseguir patrocínio, mas sem sucesso, pois não teve nem apoio público muito menos privado para a empreitada. Não desistiu. Resolveu bancar tudo do próprio bolso, com ajuda de amigos. Para baratear os custos, ele resolveu fabricar a própria tinta, recolhendo barro de cores distintas na própria região. Com uma picareta ele mesmo cavou, recolheu, triturou, peneirou e misturou a terra com água, cal, cola branca e corante. Felizmente ele contou com a ajuda de alguns moradores e com apoio integral da criançada da comunidade na elaboração e confecção das pinturas. 





Inicialmente, como todo mineiro do Sertão, o povo ficou meio desconfiado, sem entender como alguém iria fazer alguma coisa tão porreta assim, totalmente de graça, nesses tempos de individualismo e capitalismo tão selvagem. Mas depois que Dona Marlete de Jesus autorizou a pintura da fachada da sua casa, outros se animaram a também participar do projeto. O interessante é que o artista pintou cada fachada com imagens que retratam o morador (ou moradores) ou ainda algo que tenha relação com sua vida ou atividade de trabalho. Alguns quiseram ver frases escritas na frente da casa, outros optaram por ter seus nomes escritos, como Dona Zenólia.      





Com 5 kg a menos após 133 dias de trabalho, 3.500 km pedalados no trajeto entre Itinga e Pasmadinho, com 128 casas pintadas e uma comunidade inteira de amigos conquistados para sempre, Wederson deu por findada a sua experiência fenomenal de vida com um prazer indescritível na alma. Para coroar tamanho sentimento de contentamento por realizar um trabalho árduo em prol de pessoas simples e humildes do interior de Minas, Wederson fez a última pintura na fachada da Dona Virani. Ela por ser cega, não havia autorizado a pintura em sua casa. Depois de escutar sobre as mudanças positivas no povoado, Dona Virani pediu para que sua casa fosse pintada também, de forma tão solidária, para não quebrar a harmonia da rua. Para agradá-la, o artista inovou, incluindo alguns elementos em alto relevo com figuras de flores e uma borboleta. Ao tocar as imagens, Dona Virani se sentiu cheia de contentamento.





Wederson não ganhou nada financeiramente com seu duro trabalho debaixo de um sol escaldante, dia após dia. E mais, pagou toda a despesa do próprio bolso. Mas ganhou o que não tem preço: reconhecimento e a sensação prazerosa de espalhar o bem sem esperar retorno. Após o término do projeto, o povo simples de Pasmadinho se reuniu na rua, colocou faixa, deu discurso, deu-lhe inúmeros abraços, derramou lágrimas de emoção, fez um jantar em sua homenagem e o cobriu de  bênçãos, debaixo de chuva e ao som do forró.
Esse sentimento de pertencimento do povo simples do Sertão é algo mágico. Esse amor pela terra em que se nasce é uma coisa inexplicável e maravilhosa. E gente como esse rapaz, Wederson, deveria ser a totalidade da população mundial, pois é de atitudes assim, desprendidas e recheadas de amor ao próximo, sem espera de algo em troca, é que precisamos urgentemente neste mundo cruel e desumano. Que Deus cubra de bênçãos Wederson Moraes de Almeida por onde ele andar!
Um agradecimento ao amigo Cristóvão Gomes Franca, pela dica no Facebook.
Um grande abraço espinosense.  





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