Aconteceu exatamente há dois anos. Dia 30 de maio de 2013. Em uma partida emocionante, o Atlético enfrentou o Tijuana, do México, pelas quartas de finais da Copa Libertadores. O primeiro confronto, disputado no campo de grama sintética no Estádio Caliente, havia terminado em 2 x 2, com Luan marcando o gol de empate no finalzinho do jogo.
Para relembrar, o Atlético foi o melhor time da primeira fase, conquistando 15 pontos no grupo que tinha São Paulo, Arsenal de Sarandi e The Strongest. Nas oitavas, a equipe de Cuca eliminou o próprio São Paulo, com duas belas vitórias. O Tijuana foi o segundo colocado, com 13 pontos, no Grupo 5, que tinha Corinthians, San José-BOL e Milionários, da Colômbia. Nas oitavas, eliminou o Palmeiras com um empate em casa e uma vitória por 2 a 1 em São Paulo.
O jogo da volta estava empatado em 1 x 1, resultado que classificava o Atlético, até que, aos 46 minutos do segundo tempo, o zagueiro Leonardo Silva cometeu um pênalti sobre Aguilar. Um silêncio sepulcral então se estabeleceu no Estádio Independência, completamente lotado. Inacreditável, pensamos nós, atleticanos, sem querer encarar a triste e desoladora realidade à nossa frente. Levar um gol àquela altura teria como resultado não enfrentar o Newell's Old Boys nas semifinais da Copa Libertadores e dar adeus ao sonho de levantar a taça tão desejada de Campeão da América.
Mas era isso mesmo que se descortinava diante dos nossos olhos arregalados e incrédulos. O atacante Riascos, que já havia marcado o gol do Tijuana no jogo, assumiu a responsabilidade de bater a penalidade máxima. Ele caminhou para a bola, estática e fria, posicionada na marca do pênalti. Nas arquibancadas do estádio e em milhões de bares, restaurantes e lares do mundo, os atleticanos sentiam o suor na testa, a falta de ar nos pulmões e o pulsar desordenado do coração. Os segundos pareciam passar mais lentamente que de costume e Riascos então chutou para o gol. Víctor caiu para o seu lado direito, aparentemente completamente batido. Mas a bola encontrou no meio do gol um obstáculo mágico que impediu a comemoração e a alegria de Riascos, do Tijuana e de milhões de adversários: o sagrado pé esquerdo do goleiro atleticano.
O que se viu então foi uma catarse esplêndida que só o futebol pode proporcionar, em especial uma torcida apaixonada como a alvinegra das Minas Gerais. Foram gritos, pulos, abraços, beijos, choros, lágrimas, declarações de amor ao Galo, euforia total. O Atlético seguia em frente, o sonho estava vivo, a taça de campeão viria, não havia mais dúvidas. Até o presidente Alexandre Kalil chorou.
Naquela noite de quinta-feira, em que milhares de máscaras do pânico invadiram o Independência criando um cenário sombrio e assustador, o Atlético se classificou para as semifinais da Libertadores e um jogador se tornou um santo para a Massa Atleticana, o goleiro Víctor. A sua defesa milagrosa, de valor inestimável, gerou emoções indescritíveis, notícias, reportagens, músicas e até um filme, de nome "Quando se sonha tão grande, a realidade aprende", curta-metragem do cineasta mineiro Lobo Mauro, atleticano radicado no Rio de Janeiro, que recebeu o Troféu de Melhor Curta-Metragem no Cinefoot, Festival de Cinema de Futebol, no Rio de Janeiro, em 2014.
Para comemorar essa tão importante data, a torcida atleticana fará um evento neste sábado, com uma passeata em torno do Estádio Independência, com "rua de fogo", inauguração de um altar em homenagem a São Victor e arrecadação de agasalhos para entidades beneficentes. No final será exibido o filme citado acima.
O dia 30 de maio de 2013 jamais sairá da memória dos torcedores do Clube Atlético Mineiro. Muito menos o nome de Víctor Leandro Bagy.
Um grande abraço espinosense.
Ficha técnica do goleiro atleticano:
Victor Leandro Bagy
Data de nascimento: 21 de janeiro de 1983 (32 anos)
Local de nascimento: Santo Anastácio-SP
Altura: 1,94m
Peso: 88 kg
Clubes:
Paulista-SP - 2001/2007
Grêmio-RS - 2008/2012
Atlético-MG - 2012/2015
Estreia no Galo: Atlético 2 x 0 Portuguesa-SP - 08-07-2012
Títulos conquistados:
2005 - Copa do Brasil - Paulista-SP
2009 - Copa das Confederações - Seleção Brasileira
2010 - Campeonato Gaúcho - Grêmio-RS
2013 - Campeonato Mineiro - Atlético
2013 - Copa Libertadores da América - Atlético
2014 - Recopa Sul-Americana - Atlético
2014 - Copa do Brasil - Atlético
2015 - Campeonato Mineiro - Atlético
Ficha técnica da partida:
Atlético 1 x 1 Tijuana (México)
Independência
30 de maio de 2013
Árbitro: Patricio Polic (CHI)
Atlético: Víctor, Marcos Rocha (Josué), Leonardo Silva, Réver e Richarlyson; Pierre, Leandro Donizete, Bernard (Luan) e Ronaldinho Gaúcho; Tardelli e Jô (Alecsandro).
Técnico: Cuca
Tijuana: Cirilo Saucedo, Juan Carlos Nuñez, Javier Gandolfi, Oliver Ortíz (Fidel Martinez) e Edgar Castillo; Cristian Pellerano, Arce, Pablo Aguilar e Richard Ruíz (Daniel Marquez); Alfredo Moreno (Bruno Piceno) e Duvier Riascos.
Técnico: Antonio Mohamed
Gols: Réver (Atlético) e Riascos (Tijuana)
Cartões amarelos: Víctor e Marcos Rocha (Atlético) e Pellerano e Gandolfi (Tijuana)
Cartão vermelho: Réver (Atlético)
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