Filho de peixe, peixinho é. A velha e atemporal expressão brasileira se aplica exemplarmente àquele menino nascido em Montes Claros, filho do grande artista baiano de Riacho de Santana, Godofredo Guedes, que teve o seu primeiro contato com um instrumento musical aos 8 anos de idade e que a partir daí nunca mais se afastaria da música. Sua mãe, Dona Júlia de Castro Guedes, teve além dele, o caçula Alberto de Castro Guedes, nascido em 13 de agosto de 1951, mais sete filhos, dois homens e cinco mulheres.
Depois de se mudar para Belo Horizonte com a família, quando tinha 12 anos, Beto Guedes criou a banda "The Beavers", influenciado nada mais nada menos, pelos quatro fabulosos garotos de Liverpool, uma de suas paixões. Os colegas de banda eram os vizinhos e irmãos Lô, Márcio e Yé Borges e o repertório era de Beatles, claro!
Quando de férias em Montes Claros, para animar as festinhas nos clubes, principalmente no Automóvel Clube, tocava na banda "Brucutus" ao lado do irmão Patão e dos amigos Boca e Cabaré.
Em BH, a amizade com os Borges se consolidou e ele e Lô passaram a fazer música juntos até que, em 1969, eles inscreveram a música "Feira Moderna", de sua autoria com Lô Borges e Fernando Brant, no Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro, ficando entre as finalistas. Lá no Rio se encontraram e foram muito bem recebidos por Mílton Nascimento, que convidou Beto a participar do seu disco "Clube da Esquina", que viria a se tornar um marco na história da Música Popular Brasileira. No famoso disco lançado em 1972, Beto Guedes tocou baixo, guitarra, percussão e ainda fez vocais. Com o incrível sucesso do disco, aquela turma de garotos do chamado "Clube da Esquina" começou a se projetar nacionalmente, apresentando ao mundo o enorme talento de Wagner Tiso, Ronaldo Bastos, Toninho Horta, Beto Guedes, Tavinho Moura etc.
Em 1973, a gravadora Odeon deu oportunidade a ele e mais Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta de gravar um disco em que eles mostrariam os seus trabalhos, dividido em quatro partes iguais. Em 1975 participa do disco "Minas", de Mílton Nascimento, na música "Fé Cega, Faca Amolada" e de um compacto em companhia dele, contendo as músicas "Caso Você Queira Saber" e "Norwegian Wood".
O ano de 1977 seria especial. Ele se casou com Silvana na Capela Santo Antônio, em Belo Horizonte e lançou o seu primeiro disco solo, "A Página do Relâmpago Elétrico". O título do LP foi uma sugestão de Ronaldo Bastos, que sabendo da sua imensa paixão por aviões, lhe sugeriu o nome de um famoso avião da Segunda Guerra Mundial. Se destacaram as músicas "Lumiar" e "Maria Solidária". Para sua alegria o disco foi muito bem aceito e para completar a felicidade, em 1° de abril de 1978 nascia Gabriel, seu primeiro filho, que ganharia em breve uma música em sua homenagem.
O segundo álbum lançado, "Amor de Índio", de 1978, traria uma de suas mais lindas composições (com Ronaldo Bastos) e que dá nome ao disco. Outros destaques são "Feira Moderna", "Cantar" (do seu pai), "Luz e Mistério" (composta com Caetano Veloso) e "O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre" (com Fernando Brant), mais tarde gravada por Elis Regina. O terceiro saiu em 1979, "Sol de Primavera", que contém, além da música que dá nome ao disco, as canções "Roupa Nova", "Pela Claridade da Nossa Casa" e "Casinha de Palha", mais uma de seu pai. Neste ano de 1979, fez uma participação no disco "Clube da Esquina 2" do amigo Mílton.
Em 14 de maio de 1981, nasceu o seu segundo filho, Ian. Neste mesmo ano, lança o trabalho "Contos da Lua Vaga". Fazem parte deste trabalho "O Sal da Terra", "Canção do Novo Mundo" e "Tesouro da Juventude". Em outubro de 1983, é lançada uma coletânea com os seus sucessos de 1976 a 1981, com o título de "Lumiar". Seu quinto álbum de inéditas saiu em 1984, com o nome de "Viagem das Mãos". Ele contém " Quando Te Vi", "Paisagem na Janela" e "No Céu, Com Diamantes", outra homenagem aos Beatles. "Alma de Borracha", mais uma homenagem aos Beatles, tradução do título do disco "Rubber Soul", foi lançado em 1986 conseguindo um Disco de Ouro pelas mais de 200 mil cópias vendidas e o reconhecimento expressivo do público. Lá estão "Flor da Razão", "Calor Humano" e "Objetos Luminosos", além da música que nomeia o disco.
No final de 1987, ele lançou em disco um show realizado no Morro da Urca, no Rio de Janeiro em agosto daquele ano. Seu sétimo disco foi "Andaluz", de 1991. Algumas músicas deste álbum: "Andaluz", "Olhos de Jade", "A Mulher" e "Tem Cego Que Vê". No ano de 1998, gravou "Dias de Paz", um álbum com uma seleção de releituras dos seus sucessos, com a inclusão de duas músicas inéditas, que conta com a participação de vários artistas admiradores do seu trabalho como Djavan, Mílton Nascimento, Paula Toller, Lô Borges e Toni Garrido. Em 2004 lança "Em Algum Lugar", com músicas como "Amor de Filho", "Júlia", "Eu Te Dou Meu Coração" e "Um Sonho Pra Viver". Em 2005 é lançado o CD e DVD com o show comemorativo de seus 50 anos de carreira, incluindo os seus maiores sucessos. Novo CD e DVD foi lançado em 2010, com o nome de "Outros Clássicos", pela Gravadora Biscoito Fino, desta vez com composições menos conhecidas do artista mineiro.
Os seus filhos Gabriel e Ian também seguiram a carreira musical. Gabriel lançou o segundo disco da carreira recentemente e Ian é guitarrista da banda que acompanha o pai nos shows. Beto Guedes continua ativo, cuidando da família, terminando o sonho de construir o seu próprio avião e fazendo shows por todo o país, desfilando todo o seu talento musical, na sua característica bem mineira de ser. Ou seja, devagar e sempre.
Um grande abraço espinosense.