Que o mundo é injusto, todos os que utilizam minimamente bem os seus neurônios, sabem. E no cenário musical esta injustiça é bem nítida, sobretudo nos tempos atuais. Com a maravilhosa e revolucionária abertura propiciada pela tecnologia, milhões de pessoas comuns do mundo tiveram a oportunidade de mostrarem seus talentos nas redes sociais da Internet. Ou a falta deles, também. Infelizmente é o que mais tem, gente sem criatividade nenhuma, nenhum talento, mas que pela lábia privilegiada e o uso de táticas engambeladoras, conseguem atrair e manter a atenção de milhões de pessoas. E faturam alto, tornando-se milionários em pouco tempo, sem criarem arte nenhuma.
Tanta gente talentosa e criativa passa por este mundo sem ter o reconhecimento devido do seu trabalho. Na música então, a realidade é bastante cruel. Enquanto gente desqualificada e medíocre conquista os holofotes e fortunas, outras vocacionadas a criar e construir maravilhas artísticas não recebem a devida importância e consagração. Esta é a história do cantor e compositor soteropolitano Ederaldo Gentil Pereira, nascido no Largo Dois de Julho, em Salvador, em 7 de setembro de 1943.
Ederaldo Gentil, um nome de destaque do Samba feito na Bahia, infelizmente sem alcançar fama e dinheiro, apesar da sua criatividade em construir canções simples, mas belas, profundas e reflexivas sobre temas do cotidiano e da nossa frágil existência. Quando jovem em Salvador, aprendeu a profissão de ourives e relojoeiro, mas também trabalhou em outras áreas, como gerente de casa comercial. Atuou como meia-esquerda no Esporte Clube Guarany, elogiado pelo talento com a bola. Mas sua alma já estava tomada pela paixão pelo Samba. Filho de Dona Maria José de Souza, a Dona Zezé, e Sêo Carlos Gentil Peres, após se mudar para o Bairro do Tororó, começou compondo músicas para o Carnaval e lançou seu primeiro disco, um compacto simples, em 1973, com as canções "Triste Samba" e "O Ouro e a Madeira". Dois anos mais tarde, lançou seu primeiro álbum, denominado "Samba, Canto Livre de Um Povo". Depois veio "Pequenino", em 1976, e "Identidade", em 1984. Destacou-se na Bahia ao lado de outros compositores como Batatinha, Riachão, Panela, Nélson Rufino, Tião Motorista, Chocolate, Edil Pacheco e Roque Ferreira. Algumas de suas composições alçaram voo e foram gravadas por grandes nomes da MPB, casos de Jair Rodrigues, Eliana Pittman, Leny Andrade, Beth Carvalho, Alcione e Roberto Ribeiro. Indubitavelmente, a sua mais conhecida e valorizada composição é a linda "O Ouro e a Madeira", música em que ele faz um comparativo entre as coisas, com a definição poética da força e do valor da simplicidade. A música foi gravada pela saudosa sambista Clara Nunes.
No ano de 1999, em sua homenagem, foi lançado o álbum "Pérolas Finas", produzido pelo seu amigo e parceiro Edil Pacheco, com interpretações de suas canções por vários artistas brasileiros, entre eles Gilberto Gil, João Nogueira, Luiz Melodia, Elza Soares, Paulo César Pinheiro, Beth Carvalho e Jair Rodrigues.
Músicas de "Pérolas Finas":
1) "Luandê" (Ederaldo Gentil e Capinam) - Canta: Gilberto Gil - 4:13
Acervo Ederaldo Gentil
2) "Identidade" (Ederaldo Gentil) - Canta: João Nogueira - 2:55
3) "Espera" (Ederaldo Gentil e Batatinha) - Canta: Luiz Melodia - 3:06
4) "A Saudade Me Mata" (Ederaldo Gentil) - Canta: Elza Soares - 4:23
5) "Rose" (Ederaldo Gentil e Nelson Rufino) - Canta: Lazzo - 3:00
6) "Maria da Graça" (Ederaldo Gentil) - Canta: Edil Pacheco - 3:33
7) "Barraco" (Ederaldo Gentil) - Canta: Carlinhos Brown - 2:17
8) "Impressão Digital" (Ederaldo Gentil e Paulinho Diniz) - Canta: Jussara Silveira - 3:31
9) "De Menor" (Ederaldo Gentil) - Canta: Paulo César Pinheiro - 3:22
10) "Eu e a Viola" (Ederaldo Gentil) - Canta: Beth Carvalho - 3:08
11) "Oceano de Paz" (Ederaldo Gentil e Edil Pacheco) - Canta: Vânia Bárbara - 3:45
12) "In-lé-In-Lá" (Ederaldo Gentil e Anísio Félix) - Cantam: Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes - 5:16
13) "O Ouro e a Madeira" (Ederaldo Gentil) - Canta: Jair Rodrigues - 3:13
Ederaldo Gentil morreu em 30 de março de 2012, sepultado no Cemitério do Campo Santo em Salvador, ainda sem o devido reconhecimento à sua trajetória marcante de grande compositor, o que configura uma imensa injustiça.
Um grande abraço espinosense.


































.jpg)







