446 - Carta aberta a Ronaldinho Gaúcho

Muito se discute na mídia a respeito da sua contratação pelo Clube Atlético Mineiro nos últimos dias. Programas esportivos não param de questionar sobre a qualidade do seu desempenho nos últimos tempos. Comentaristas esportivos, de jornais, revistas e redes de televisão, gabaritados ou não, competentes ou não, conhecedores verdadeiramente de futebol ou não, se empenham em criticar a sua performance em campo e, ainda mais, as suas atitudes extracampo. Realmente, na minha humilde opinião, o seu desempenho já não é mais o daquele craque de futebol que despontou no Grêmio, estreou na seleção principal com um golaço contra a Venezuela e a partir dali, brilhou nos gramados europeus no Paris Saint Germain e no Barcelona, conquistando títulos importantes e se tornando o melhor jogador do mundo por duas vezes, em 2004 e 2005. As suas passagens por Milan e Flamengo foram muito questionadas e me parece que ultimamente você perdeu a alegria, a motivação e o tesão para jogar futebol, com toda a sua força, vibração e competência. Não, ninguém esquece como se joga futebol e você, como ninguém, tem a intimidade extrema e mágica com a bola.

Nós, atleticanos, esperamos apenas isto de você: que você seja você mesmo, com a mesma habilidade com a bola nos pés, com a mesma inteligência na criação de jogadas geniais, com a mesma vibração na disputa das partidas, com a mesma determinação e vontade de vencer daquele jogador que conquistou o respeito de todo o mundo. Isso e mais a vontade de se dedicar intensamente nos treinamentos, respeitando os companheiros e a comissão técnica, com uma vida extracampo sem excessos de qualquer natureza.

Todos sabemos que a vida particular de qualquer trabalhador não interessa a ninguém, como também temos consciência de que grande parte dos jogadores gosta de beber e de curtir a noite. Você não é diferente. Com uma carreira vitoriosa, uma situação financeira extremamente tranquila e ainda muito jovem, você tem todo o direito de, nas suas horas de folga no trabalho, tomar as suas cervejas, tocar o seu pagode e sair com as garotas que o assediam enlouquecidamente. Ninguém, em sã consciência, pode ser contra isso. É um direito de todos. O que esperamos é que o bom senso faça parte das suas atitudes por aqui, em Minas Gerais. Que a responsabilidade de manter um comportamento coerente com o profissionalismo seja o usual.

Em certos momentos da nossa vida, deixamos um pouco de lado a curtição para nos dedicarmos a uma meta importante. Em preparação para um vestibular ou um concurso, por exemplo, nos empenhamos plenamente nos estudos por seis meses ou um ano para que a conquista aconteça. Nada vem de graça, sem dedicação. Assim, Ronaldinho Gaúcho, para que você possa recuperar a autoconfiança e a credibilidade perdida na mídia, peço e espero que você, durante esses seis meses de contrato com o GALO, se dedique intensamente nos treinamentos e nos jogos, voltando a apresentar aquele futebol mágico de dribles desconcertantes, de passes precisos e de lindos gols que sempre o caracterizaram durante a sua brilhante carreira. Imagine só se você, ao lado dos seus atuais companheiros, conseguir levar o GALO ao título do Campeonato Brasileiro deste ano. Você será endeusado e entrará para sempre nos corações de milhões de apaixonados atleticanos espalhados por todo o mundo, assim como o são os nossos eternos ídolos Reinaldo, Marques, Toninho Cerezzo, Éder, Luizinho, Guilherme, Diego Tardelli e Dario.

Você terá essa certeza quando vestir a gloriosa camisa alvinegra e sentir a pulsação acelerada e a vibração empolgante da massa atleticana durante os jogos. Que você se contamine com essa força poderosa de um dos mais amados time de futebol do mundo e retorne ao alto do pódio de onde você jamais deveria ter saído, por ser, indubitavelmente, um dos maiores gênios do futebol de todos os tempos. Boa sorte, estamos otimistas com você.
Um grande abraço atleticano.