Adoro cinema, sobretudo filmes baseados em histórias reais. Às vezes, os mais criativos roteiristas da indústria cinematográfica não conseguem superar os acontecimentos reais, o que prova como a realidade é tão absurda, complexa e inacreditável. Gosto muito de assistir a documentários que narram os detalhes de famosos crimes cometidos, as chamadas produções "true crime". É impressionante como seres humanos são capazes de cometer as mais atrozes ações! E também aprecio filmes que contam aquelas histórias insólitas e absurdas de malucos, fariseus e picaretas que se utilizam da religião e do nome de Deus para engambelar pessoas incautas e fragilizadas mentalmente para angariar poder e fortuna, às vezes descambando para suicídios em massa, como o famoso caso do pastor Jim Jones e sua Jonestown. Para quem desconhece a terrível história, no dia 18 de novembro de 1978, na comunidade de uma seita criada na Guiana pelo messiânico e ditatorial reverendo Jim Jones denominada Jonestown, 918 pessoas morreram assassinadas ou mortas em um suicídio coletivo por ingestão de veneno misturado a um ponche de frutas. Um filme sobre esta tragédia, intitulado "Guyana Tragedy: The Story of Jim Jones" (1980), dirigido por William A. Graham, está disponível para quem se interessar em assistir no YouTube no endereço https://www.youtube.com/watch?v=2MBs2sm-5rc&t=24s.
Mas a minha dica é para uma série de oito capítulos disponível na plataforma de streaming Netflix. E já adianto que a história é pesada e estarrecedora. Quem não está acostumado a ver cenas chocantes e perturbadoras, melhor não assistir. A série "Monstro: A História de Ed Gein", produção de Ryan Murphy, conta-nos a história de um sujeito completamente maluco que cometeu ações bárbaras até finalmente ser desmascarado, condenado e preso por seus crimes hediondos. A trama é verdadeira, mas acrescentada de alguns poucos elementos ficcionais. Basicamente, trata-se de um menino bom com problemas mentais que viu sua doença se agravar sob a influência e a pressão radical da mãe Augusta Gein (interpretada por Laurie Metcalf), também afetada por distúrbios psicológicos sérios.
Vivendo isolado ao lado da mãe viúva opressora e de um irmão mais velho em uma propriedade rural em Plainfield, Wisconsin, o jovem Ed Gein (interpretado por Charlie Hunnam) vai passando pelo seu processo de crescimento sofrendo abusos e vendo despertar suas mais sombrias obsessões, passando a praticar assassinatos e atitudes bizarras, como desenterrar cadáveres para dissecar a pele humana para uso na fabricação de cadeiras, luminárias, cintos, máscaras e roupas. Um negócio grotesco, inconcebível e nauseabundo.
Todos essas atitudes macabras ficaram encobertas e impunes por longo tempo, só descobertas pela Polícia em 1957, quando Ed Gein foi preso, declarado legalmente insano e enviado para uma instituição psiquiátrica de segurança máxima. Sua história chocou a sociedade americana e influenciou outros loucos com distúrbios mentais parecidos a copiá-lo. Também virou inspiração para que cineastas fizessem filmes com personagens loucos e violentos, caso de Norman Bates de "Psicose" (Alfred Hitchcock, 1960); de Leatherface de "Massacre da Serra Elétrica" (Tobe Hooper, 1974); e de Buffalo Bill de "O Silêncio dos Inocentes" (Jonathan Demme, 1991).
A história de Edward Theodore Gein é a terceira temporada da série "Monster", antologia criada pela dupla Ryan Murphy e Ian Brennan sobre criminosos insanos mentalmente. As duas anteriores focaram nas vidas de Jeffrey Dahmer e os irmãos Menendez.
Entre tantas atrocidades cometidas, ficaram comprovados os assassinatos por Ed Gein das senhoras Mary Hogan, em 1954, e Bernice Worden, em 1957. Ficaram sob suspeita outras seis mortes associadas a ele, inclusive a do irmão mais velho, que na verdade parece ter morrido de infarto. Ed morreu de falência respiratória devido a um câncer em 1984, com 77 anos de idade, no hospital psiquiátrico onde passou a viver internado desde sua prisão.
Infelizmente, não são poucas as pessoas que têm algum distúrbio psicológico. Ed Gein é um caso extremo, grave, mas não duvide de que convivemos cotidianamente com pessoas até próximas que possuem algum grau de desajuste e perturbação mental, quase sempre com sentimento de insegurança, baixa autoestima e uma tendência ao fanatismo. Afinal de contas, como diz a sabedoria popular: "de médico e louco, todos nós temos um pouco". Ou como disseram nos versos da canção "Balada do Louco" imortalizada pelo grande Ney Matogrosso nos Mutantes, os compositores Arnaldo Dias Baptista e Rita Lee Jones de Carvalho: "Sim, sou muito louco, não vou me curar, já não sou o único que encontrou a paz, mais louco é quem me diz, e não é feliz, eu sou feliz". Seja louco, mas do bem, sem causar mal nenhum a ninguém. É isso!
Ninguém sabe com certeza o que se passa na mente humana. Fiquemos então atentos aos sinais.
Um grande abraço espinosense.
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