Onde estiver neste exato momento, talvez em "Anarkilópolis", que o "Maluco Beleza" Raul Santos Seixas (Salvador (BA), 28-06-1945 – São Paulo (SP), 21-08-1989) receba os nossos efusivos cumprimentos pelos 80 anos de vida que estaria completando exatamente hoje, 28 de junho de 2025. O cara da "Metamorfose Ambulante" que sacudiu o cenário roqueiro do Brasil nos anos 70 e que continua chacoalhando a cabeça e o corpo dos que amam verdadeiramente o Rock and Roll, deixou milhões de admiradores e influenciou outros milhares a tornarem-se artistas comprometidos com a audácia, a criatividade e a liberdade de dizer o que está dentro do cérebro, mesmo sendo um "Cowboy Fora da Lei" viajando no "Trem das Sete" e no "Metrô Linha 743" procurando o "Ouro de Tolo" no "Dia Em Que a Terra Parou" sem "Medo da Chuva" e sem se importar "Por Quem os Sinos Dobram".
Toca Raul! A reivindicação mais ouvida nos bares, farras e shows brasileiros. Que nunca deixemos de pedir em qualquer apresentação ao vivo, seja de Rap, Blue, Samba, Rock, Pop, Forró, Baião, Pisadinha ou Sertanejo Universitário. Raul está acima de qualquer vertente musical, mesmo porque ele compôs canções em diversos estilos que fizeram bastante sucesso nas interpretações de outros cantores, como "Tudo Que É Bom Dura Pouco" e "Doce Doce Amor" (Jerry Adriani), "Ainda Queima a Esperança" (Diana), "Tudo Acabado" (Odair José) e "Se Ainda Existe Amor" (Balthazar).
Para comemorar os 80 anos de Raul serão realizadas ótimas iniciativas para marcar a data, com uma exposição intitulada "O Baú do Raul" no MIS-Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, a partir de 11 de julho; uma série de oito episódios denominada "Raul Seixas: Eu Sou", já disponível na Globoplay; e um show em celebração ao legado do artista soteropolitano no Circo Voador, lendária casa de espetáculos do Rio de Janeiro.
Raul fez e deixou história não só na música brasileira. Teve quatro esposas, Edith Wisner, Simone, Scarlet e Ângela Affonso Costa, a Kika Seixas, e uma filha, Vívian "Vivi" Seixas, DJ. Deixou, cadastradas no ECAD-Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, 324 obras e 409 gravações suas, das quais essas cinco se sobrassem pela quantidade de versões de outros artistas:
1. "Medo da Chuva" (Raul Seixas, Paulo Coelho)
2. "Se Ainda Existe Amor" (Raul Seixas, Mauro Motta)
3. "Maluco Beleza" (Raul Seixas, Cláudio Roberto)
4. "Metamorfose Ambulante" (Raul Seixas)
5. "Gita" (Raul Seixas, Paulo Coelho)
Raul já bateu as botas e abotoou o paletó há longos 35 anos, mas sua figura exótica, carismática e poderosa, superdimensionada pelas suas encantadoras canções, continua presente no panorama musical brasileiro com alto prestígio e relevância, atravessando e encantando gerações de amantes da música.
Um grande abraço espinosense, especialmente para o meu amigo-irmão Sebastião "Tião" Nunes Xavier, eterno admirador apaixonado pela obra do Raulzito. E gratidão ao saudoso piritibano Wilson Aragão, falecido há pouco, em 24-05-2025, compositor da canção "Capim Guiné", grande sucesso de Raul e que Tião adora e que está logo abaixo, em vídeo.
AOS TRANCOS E BARRANCOS
Raul Seixas
Eu vou pela pista do aterro
E nem vejo meu enterro
Que vai passando no jornal
AS PROFECIAS
Raul Seixas e Paulo Coelho
Tem dias que a gente se sente
Um pouco, talvez, menos gente
Um dia daqueles sem graça
De chuva cair na vidraça
Um dia qualquer sem pensar
Sentindo o futuro no ar
O ar, carregado, sutil
Um dia de maio ou abril
Sem qualquer amigo do lado
Sozinho, em silêncio, calado
Com uma pergunta na alma
Por que nessa tarde tão calma
O tempo parece parado?
Está em qualquer profecia
Dos sábios que viram o futuro
Dos loucos que escrevem no muro
Das teias do sonho remoto
Estouro, explosão, maremoto
A chama da guerra acesa
A fome sentada na mesa
O copo com álcool no bar
O anjo surgindo no mar
AREIA DA AMPULHETA
Raul Seixas
Eu sou a areia da ampulheta
O lado mais leve da balança
O ignorante cultivado
O cão raivoso inconsciente
O boi diário servido em pratos
O pivete encurralado
Eu sou a areia da ampulheta
O vagabundo conformado
O que não sabe qual o lado
Espreita o pesar das pirâmides
Cachaceiro mal amado
O triste-alegre adestrado
CANTO PARA A MINHA MORTE
Raul Seixas e Paulo Coelho
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som de meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E nunca mais vou abrir
Cada vez que me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher
A mulher que me foi destinada, e que está em algum lugar
Me esperando. Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte, que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas... Um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal aplicada, a vida mal vivida
A ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe
Um escorregão idiota num dia de Sol, a cabeça no meio-fio
Oh morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem, nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que não terminei de beber naquela noite
Vou te encontrar vestida de cetim
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo más tenho que encontrar
Vem mas demore a chegar. Eu te detesto e amo, morte
Morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte, que talvez seja o segredo desta vida
MAMÃE EU NÃO QUERIA
Raul Seixas
Mamãe, eu não queria
Servir o exército
Não quero bater continência
Nem pra sargento, cabo ou capitão
Nem quero ser sentinela, mamãe
Que nem cachorro vigiando o portão
Não!



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