Espinosa, meu éden

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Centenário de Espinosa - Postagem 21

Para comemorar o Centenário de Espinosa da sua emancipação política, publicarei aqui no nosso blog 100 (CEM) textos específicos (além das postagens normais), sobre imagens, acontecimentos e "causos" sobre mim, a minha Espinosa e alguns dos seus notáveis personagens.

Algumas pessoas se integram tão beneficamente à vida da gente, de maneira tão sutil e despretensiosa, que nem sequer percebemos. Quincão, de uma geração mais antiga que a minha, era um dos mais competentes e famosos motoristas de Espinosa, sempre preparado e disponível no seu táxi, uma Rural branca e azul impecavelmente limpa. Inicialmente eu não possuía qualquer intimidade com ele, pois ele atuava como árbitro de futebol e mantinha uma certa aura de seriedade e distância na função, em relação aos atletas. Mas tempos adiante, tornamo-nos amigos e bons companheiros de aventuras. 
Por algum tempo ele trabalhou como funcionário terceirizado para o Banco do Brasil, transportando funcionários para atuar no PAVAN-Posto Avançado de Sebastião Laranjeiras, na Bahia. O pessoal de lá, muito generoso e acolhedor, convidou-nos, a turma do Banco, para uma confraternização na pequena cidade, com passeio no lindo Lajedo e partida de futebol amistosa. Lá fomos nós Bahia adentro guiados pelo velho Quincão. Os sebastiãolaranjeirenses nos acolheram com bastante carinho. Enquanto acontecia o nosso confronto futebolístico, alguns deles nos ofereciam água e até cerveja à beira do "desgramado". Em campo, nosso time se mostrava superior e Racine, então menor aprendiz do BB, destacava-se em campo, jogando muito e marcando o gol que nos colocou em vantagem no placar, 2 x 1. Faltando minutos para o término do tempo de jogo, Quincão marcou uma penalidade máxima completamente inexistente para a equipe de Sebastião Laranjeiras. Revoltados com o pênalti "roubado", partimos para cima de Quincão, reclamando da marcação claramente equivocada. Ao que ele, na maior serenidade e bom humor, respondeu algo como: "Vocês vêm pra cá, são recebidos com carinho, atenção, festa, bebida e comida à vontade, e ainda querem ganhar o jogo dos caras? Bando de mal-agradecidos!" Conformados, recuamos. E logo após a batida perfeita do pênalti e o empate registrado no placar, ele imediatamente encerrou a partida. E não é que ele tinha toda razão? A vitória na partida amistosa era o que menos importava, já que estávamos ali sendo maravilhosamente recepcionados, com todo zelo e afago. Depois do jogo, fomos todos curtir o Lajedo, uma maravilha da Natureza..   




Teve uma viagem da turma para Janaúba, para jogar bola. Fomos na Rural de Quincão. O Fiat 147 do nosso goleiraço Zé Américo quebrou e ele e a esposa Margareth se juntaram a nós em Mato Verde. Papo vai, gargalhada vem, notamos uma coisa esquisita. O toca-fitas só tocava uma única música repetidamente: "Deixa de Banca" ("Les Cornichons"), composição de Nino Ferrer e Jean Booker, versão de Eduardo Araújo, enorme sucesso na voz de Reginaldo Rossi. Intrigados, questionamos Quincão se o seu toca-fitas estava com problema, repetindo infinitamente a música. Ele abriu um largo sorriso e esclareceu que ele adorava a canção, por isso mandou gravá-la nos dois lados da fita. Que coisa maluca, sô! Ao final da viagem, não aguentávamos mais nem ouvir a palavra borobodá.   
Outra aventura memorável vivida ao lado de Quincão aconteceu quando fomos participar dos jogos da Fenabb em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, bem longe, depois de Uberlândia. Fomos de carro até Monte Azul, onde pegamos o trem até Montes Claros. Ali, alugamos uma velha Kombi na Monvep e pegamos a estrada para Ituiutaba. Foram peripécias seguidas que desencadearam muitas gargalhadas. Com o experiente Quincão ao volante, a velha Kombi quebrou na estrada, precisando de conserto. Com ajuda de Quincão, o mecânico resolveu o problema e seguimos adiante, cansados mas felizes com as histórias e as demonstrações de bom humor do nosso guia e mestre. Já chegando em Ituiutaba, depois de vários problemas superados, eis que Tiãozinho disse que só faltava furar um pneu. Inacreditável! Como uma praga dos Céus, a Kombi não rodou nem um quilômetro e o pneu furou. Era só o que faltava! Pneu trocado, chegamos finalmente. E ao entrarmos na AABB, novamente caímos na gargalhada. Enquanto estacionávamos a nossa velha Kombi, o pessoal das demais cidades participantes como BH, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba, Divinópolis, Governador Valadares, chegava completamente uniformizado em ônibus novos, modernos, bonitos e com ar condicionado. Mesmo com todas as dificuldades, não fizemos feio. Ficamos com a terceira colocação no torneio estadual. E sim, claro, conseguimos retornar com Quincão na direção, desta vez sem maiores obstáculos e contratempos. E ainda demos uma paradinha em frente ao Estádio Municipal Parque do Sabiá em Uberlândia, para uma fotografia com a pose elegante do nosso querido Quincão, nosso torcedor solitário.      
Um forte, imenso e centenário abraço lençóisdorioverdense. 

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