Não são assim tão raros os projetos gigantescos e megalomaníacos que fracassaram no cenário econômico do nosso país. A Rodovia Transamazônica, ou BR-230, que corta sete estados: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas e vai de Cabedelo (PB) a Lábrea (AM), é um dos maiores exemplos. Planejada pelo governo militar ditatorial que comandou o Brasil por 21 anos, entre 1964 e 1985, com a intenção de levar desenvolvimento econômico e social à região Norte do país, a estrada foi um fracasso retumbante, deixando marcas negativas como o desmatamento e a degradação da floresta, o desastre ambiental na fauna e flora e os fortes impactos socioambientais sobre as populações da região amazônica, especialmente os povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Dos 8.000 km previstos da obra, todos asfaltados, foram construídos apenas 4.260 km, grande parte sem pavimentação até os dias atuais, ficando intransitáveis no período das chuvas, cerca de metade do ano.
Fracasso parecido ocorreu com a Fordlândia, uma cidade completa construída em meio à floresta amazônica, às margens do Rio Tapajós, pelo bilionário empresário estadunidense Henry Ford nos anos 20, com o intuito de ter sua própria fazenda de produção da então imprescindível borracha retirada das seringueiras para uso nas suas fábricas de automóveis. Com a baixa produção devido ao terreno infértil e as pragas, e a posterior invenção da borracha sintética, o projeto ruiu e foi abandonado, virando ruínas.
Outro fiasco se deu com o Projeto Jari, uma fantasia criada pelo bilionário norte-americano Daniel Keith Ludwig e seu sócio português Joaquim Nunes Almeida no início dos anos 60. O empresário estadunidense comprou 1,6 milhões de hectares de terra e planejou instalar ali, no meio da floresta na fronteira entre os estados do Pará e Amapá, um polo agroindustrial com uma fábrica de celulose e outros empreendimentos. Mandou construir no Japão duas plataformas flutuantes: uma unidade para a produção de celulose e uma usina termelétrica. Estas plataformas foram rebocadas desde o Japão até o Brasil, num percurso de 25 mil quilômetros que levou cerca de três meses. Além disto, pretendia estender as atividades para a mineração, pecuária e agricultura, com um projeto de reflorestamento com árvores de crescimento rápido. Com dívidas milionárias, a empresa sofreu seguidos insucessos, sendo vendida pelo empresário nos anos 80, com enorme prejuízo e com ajuda estatal através do BNDES e Banco do Brasil. Atualmente a empresa é comandada pelo grupo Orsa, que a comprou nos anos 2000 por um preço simbólico, quando as dívidas eram contabilizadas em cerca de US$ 400 milhões. A empresa passa por uma recuperação judicial, após prejuízos astronômicos, não pagamento dos funcionários e paralisação das atividades pelo período de um ano, retornando com a promessa de reativação na atualidade.
Até mesmo em Espinosa, temos um caso de um empreendimento pessoal malsucedido. O saudoso empresário Alisson Campos Cruz iniciou a construção, na rua Padre José Puche, de uma mansão ampla, linda e moderna nos anos 80 e, infelizmente, a obra até hoje continua inacabada e sem utilização, sofrendo a ação deletéria do tempo.
Quem já visitou a Praia da Engenhoca, ao lado da litorânea Rodovia BA-001, deve ter visto durante o percurso a pé pela trilha que leva à esta belíssima praia, alguns escombros de construções inacabadas entre as altas árvores do local. São os vestígios de um empreendimento milionário que um empresário tentou construir neste paraíso baiano, próximo de Itacaré. O projeto era de um hotel seis estrelas, denominado Warapuru Resort & Villas, com área total de 500.000 m² e área construída de 45.000 m², constituído de 45 bangalôs e 21 residências com a máxima privacidade aos hóspedes, com recepção, beach club, SPA, uma cinematográfica estrada sobre a copa das árvores, tudo de grande luxo, a ser executado entre abril de 2004 e abril de 2006, com custo estimado em mais de R$ 180 milhões. O local escolhido foi em um morro diante da Praia da Engenhoca no município de Itacaré, na Bahia, entre coqueirais e espécies nativas da Mata Atlântica. O idealizador desta maravilha foi o visionário empresário português João Vaz Guedes, encaminhando a ideia ao escritório londrino de arquitetura e design Anouska Hempel. O irascível executivo de origem suíça Bernard Mercier como CEO, o escritório de arquitetura Bernardes+Jacobsen e o escritório da arquiteta Cassia Cavani, foram contratados em 2003 no Brasil, para desenvolver o projeto, com a ideia de interferir o mínimo possível na vegetação local. Apesar da venda antecipada de 17 vilas para ricaços do mundo inteiro por valores a partir de US$ 1.2 milhão, à época do lançamento, não se sabe ainda quando estes privilegiados senhores poderão usufruir deste paraíso.
Esta obra magnífica está abandonada, sofrendo a ação danificadora do tempo, por conta de dívidas volumosas, problemas judiciais, falência da incorporadora e desentendimento entre credores. Utilizando-se de artifícios para facilitar os trâmites jurídicos e administrativos, o projeto enfrentou problemas com os órgãos ambientais da Bahia, que não aceitaram os subterfúgios usados para evitar o estudo técnico de impacto ambiental e motivaram uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público Estadual, que culminou com o embargo pelo Ibama. A obra foi retomada após liberação da Justiça, mas em 2008 foi novamente paralisada, desta vez por falta de recursos financeiros e com a decretação de falência anos depois. O embargo da obra deu-se com 80% da obra concluída. Os problemas sociais e ambientais foram regularizados, mas o cenário econômico acabou se complicando, com o Banco do Nordeste executando antecipadamente a dívida, os investidores abandonando o projeto e os compradores das casas interrompendo os pagamentos.
Assim, o que era para ser um paraíso incrustado no coração da floresta para os grã-finos de todo o planeta se deliciarem com a beleza estupenda da Bahia, tornou-se um cemitério de escombros que custou milhões e não trouxe à comunidade de Itacaré os impostos e os empregos prometidos, um triste desenlace para um extraordinário sonho do empreendedorismo. Uma pena! Muito triste.
Um grande abraço espinosense.
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