O Brasil amanheceu ainda mais pobre culturalmente nesta sexta-feira, 5 de agosto de 2022, com a lamentável partida de um dos maiores nomes do humor nacional. Morreu hoje de madrugada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o ator, diretor, apresentador, dramaturgo, roteirista, artista plástico, escritor e humorista José Eugênio Soares, o genial Jô Soares, criador de dezenas de personagens hilários e inesquecíveis na TV. O artista multifacetado de diversas habilidades deixou sua marca registrada na TV, no cinema, no teatro, na literatura e na cultura brasileira. Deixaram saudades seus engraçados personagens criados a partir da exata realidade da sociedade, muitos deles centrados no combate à imensa hipocrisia que a traduz. A crítica social e política sempre esteve presente nos seus personagens, de forma sutil e delicada, mas aguda e ácida. Alguns deles: Capitão Gay, Tavares, Zé da Galera, Reizinho, Norminha, Vovó Naná, Bô Francineide, Rochinha, Piloto, Décio, Coronel Pantoja, Gardelón, Ciça, Capilé, Dom Casqueta, Júlio Flores, Sebá, Araponga, Irmão Carmelo etc.
Jô imaginava se tornar diplomata, mas a arte da interpretação o fez se apaixonar perdidamente. Em 1958, estreou como ator no filme "O Homem do Sputnik", estrelado por Oscarito e dirigido por Carlos Manga. Aventurou-se também no teatro e na TV, passando pelas emissoras Continental, Rio, Tupi, Excelsior e Record. Entre 1967 e 1970, na TV Record, destacou-se no famoso programa dominical "A Família Trapo", onde interpretava o personagem mordomo "Gordon" ao lado de Otelo Zeloni, Renata Fronzi, Ricardo Corte Real, Cidinha Campos e Ronald Golias. Estreou em 1970 na Rede Globo, com o programa "Faça Humor, Não Faça Guerra", onde, além de protagonista, atuava como redator. Adiante foram muitos outros programas de sucesso, como "Satiricom", "Planeta dos Homens" e "Viva o Gordo". Este último foi exibido de 1981 até 1987. Em 1987, Jô saiu da TV Globo e foi para o SBT, onde protagonizou o programa "Veja o Gordo" e realizou um sonho de muitos anos: apresentar um programa de entrevistas inspirado nos talk-shows americanos, o "Jô Soares Onze e Meia", onde fez cerca de seis mil entrevistas em 11 anos de programa. Retornou a Globo em 2000 para comandar o programa de entrevistas "Programa do Jô", que ficou 16 anos no ar com a participação musical do Sexteto e com apoio do garçom Alex.
No teatro, protagonizou várias peças: "Ame Um Gordo Antes Que Acabe" (1976), "Viva o Gordo e Abaixo o Regime!" (1978), "Um Gordoidão no País da Inflação" (1983), "O Gordo ao Vivo" (1988), "Um Gordo em Concerto" (1994) e "Na Mira do Gordo" (2007).
No jornalismo, escreveu colunas nos anos 80 nos jornais "O Globo" e "Folha de São Paulo" e para a revista "Manchete". Mais adiante, entre 1989 e 1996, assinou uma coluna na revista "Veja".
Na literatura, fez enorme sucesso ao escrever seus livros, quatro deles romances. Estreou com "O Astronauta Sem Regime" (1983), coletânea de crônicas publicadas originalmente no jornal "O Globo". O seu primeiro romance, intitulado "O Xangô de Baker Street", foi lançado em 1995 e chegou até a ser adaptado para o cinema em 2001. Depois vieram "O Homem Que Matou Getúlio Vargas" (1998), "Assassinatos na Academia Brasileira de Letras" (2005) e "As Esganadas" (2011). Em 2017, Jô Soares lançou o primeiro volume de sua biografia "O Livro de Jô - Uma Autobiografia Desautorizada". O segundo volume foi publicado em 2018.
Jô Soares nasceu no Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1938. Morreu hoje aos 84 anos. Era filho único do empresário Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Leal Soares. Teve um único filho, fruto do casamento com a atriz Therezinha Millet Austregésilo. Rafael, que era autista, morreu em 2014, com 50 anos.
Jô, com sua mente privilegiada e seu humor inteligente e contestador, já me fez rir muito, proporcionando a mim muita alegria. E hoje ele me deixou bastante triste, com sua partida. O sujeito gordo, inteligentíssimo e um verdadeiro gentleman já está fazendo falta neste país tão rico e tão atrasado que poderia ser o mais feliz e justo do mundo, pois bons humoristas é o que não falta.
Um grande abraço espinosense.
"O medo da morte é um sentimento inútil: você vai morrer mesmo, não adianta ficar com medo. Eu tenho medo de não ser produtivo." José EuGênio Soares.
Descanse em paz e em completa serenidade e bom humor, Jô!
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