Há muito tempo, quando nem se imaginava uma criação tão magnífica como a Internet, muitos de nós preenchíamos o tempo livre batendo papo com os amigos na esquina da Rua da Resina com a Arthur Bernardes, raciocinando, criando e decifrando charadas. Era um tempo bom. E os mais assíduos e criativos nessa tarefa lúdica, educativa e prazerosa eram Nenzão e seu pai Vavá, meu tio Luizão, João Meira e alguns jovens mais curiosos, entre os quais eu me incluía, atento e interessado. Era ali naquele limitado espaço que as ideias fervilhavam na busca da melhor criação enigmática, unindo na prazerosa competição gentes de todas as idades. O aprendizado era constante, com tanta sabedoria repassada pelos mais velhos. O belo casarão se foi, assim como a maioria dos personagens que ali se divertiam e subiram aos céus, mas as boas lembranças ainda resistem ao tempo na memória já um tanto falha.
A esquina das Ruas Arthur Bernardes com Cel. Domingos Tolentino |
Quem gosta de histórias em quadrinhos certamente já terá lido alguma aventura do personagem "Charada", sempre em confronto com o Batman. O personagem criminoso sempre vestido com seu uniforme verde e sua bengala em forma de ponto de interrogação foi criado por Bill Finger e Dick Sprang e estreou em 1º de outubro de 1948, numa HQ do Cavaleiro das Trevas. Ele na verdade é o cidadão de Gotham City chamado Edward Nygma, que desde criança tinha imensa curiosidade sobre tudo, o que despertava ódio, gozação e bullying dos colegas. Já crescido, o curioso Edward se decepcionou com a rotina do trabalho e com a falta de respostas para suas incessantes indagações e resolveu se vingar entrando para o mundo do crime, passando a zombar dos seus inimigos com intrincados quebra-cabeças e charadas deixadas como pistas em suas investidas criminosas, dificultando a ação dos policiais e do Batman.
Também são popularmente chamadas de charada, as adivinhas (ou adivinhações), aquelas perguntas feitas com o tradicional uso do "O que é, o que é...?". Essas são uma variedade das charadas muito disseminadas entre as crianças, para despertar nelas o raciocínio lógico.
Mas nós gostávamos mesmo era dos enigmas charadísticos de juntar palavras para formar outras palavras, colocando todo mundo para quebrar a cabeça na tentativa de decifrá-los. Às vezes a charada era tão boa, tão bem formulada, que o autor deixava a turma de castigo por dias, na tentativa deles de decifrá-la, o que gerava muitas brincadeiras e gozações. A criação da charada consiste basicamente na construção de uma frase com palavras-chave cujos significados isolados, ao serem unidas, resulta em uma nova palavra. A divulgação da quantidade de sílabas é uma pista obrigatória. Uma das mais simples e diretas charadas conhecidas é "CAI um homem (Uma). Repare que a única palavra-chave está em maiúscula e que a charada é simples, com a definição homem. Então a resposta é RUI. Cai é sinônimo de Rui, ou seja o "nome de homem", na definição. Outro exemplo, este mais amplo: "A ESSÊNCIA do TEMPO aperfeiçoa. (Uma e Duas). Então, essência com uma sílaba, é "mel" e tempo com duas sílabas, é "hora". Juntando ambas chegamos à definição de "aperfeiçoa": MELHORA. Mais um exemplo: FRANQUEIA o VEÍCULO apenas com a representação da palavra (Duas e Quatro). O sinônimo de franqueia pode ser "abre", mais o sinônimo de veículo, "viatura", chegamos ao sinônimo de "representação da palavra": ABREVIATURA. Fácil, não?
Às vezes não é tão fácil assim decifrar o enigma, já que o autor pode se utilizar de sentidos metafóricos para seus quebra-cabeças, dificultando a solução da charada pelos amigos.
Aqui vão algumas charadas para que vocês se divirtam procurando as respostas:
- NO MEIO DO MAR encontraram uma PICARETA com restos de "comida" (Uma e Duas)
- QUE É DE a RAIVA daquele "assento"? (Duas e Duas)
- A APARÊNCIA do GESTO guarda o "sentimento" (Uma e Duas)
- A MULHER viu o caso PERMANENTE tornar-se "antiquado" (Duas e Três)
- A NARRATIVA da POVOAÇÃO era sobre a "argúcia" (Duas e Três)
- RENTE à RELVA ficava a "discrição" (Uma e Duas)
- SOMENTE com a CHISPADA para vê-la "acudida" (Uma e Três)
- DEBAIXO da MULHER eu ENXERGUEI o HOMEM "bajulador" (Uma, Uma, Uma e Duas)
- CESSA A MIM, por um TANTINHO, o COMPORTAMENTO do "processo padronizador" (Duas, Uma, Uma e Duas)
- JUNTEI os olhos para CONTEMPLAR o TEMPERO daquele TEMPO de "generalidade" (Duas, Uma, Uma e Três)
E mais umas adivinhações simples:
O que é, o que é? Quanto mais rugas têm, mais novo é?
O que é, o que é? O 4 disse para o 40?
O que é, o que é? Mesmo atravessando o rio não se molha?
O que é, o que é? O zero disse para o oito?
O que é, o que é? Anda com a barriga para trás?
O que é, o que é? Tem mais de dez cabeças e não sabe pensar?
O que é, o que é? Não tem pé e corre, tem leito e não dorme, quando para, morre?
O que é, o que é? Num instante se quebra quando se diz o nome dele?
O que é, o que é? É grande antes de ser pequena?
O que é, o que é? Voa sem ter asas e chora sem ter olhos?
E para terminar, decifrem este quebra-cabeças matemático. Ana teve 5 filhas. A primeira filha chama-se Segunda. A segunda chama-se Terça. A terceira chama-se Quarta. A quarta chama-se Quinta. Qual é o nome da quinta. E agora, como se chama a quinta filha da Ana?
Boa sorte na resolução das charadas, um ótimo feriadão a todos e um grande abraço espinosense.
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