Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

quarta-feira, 1 de julho de 2020

2442 - Os guerreiros das estradas

Nesses tempos de pandemia é que muita gente distraída e ingrata redescobriu a importância crucial de algumas categorias de trabalhadores brasileiros. Todo e qualquer trabalhador tem seu valor reconhecido e valorizado em uma sociedade civilizada, consciente e desenvolvida, mas algumas classes de trabalhadores são essenciais, sobretudo em tempos de calamidade. São muitas elas, mas como ontem, dia 30 de junho, foi comemorado o seu dia, hoje vou me concentrar em falar dos caminhoneiros.
Quando criança, eu e muitos dos meus amigos de infância adorávamos brincar com carrinhos, fossem de plástico, de madeira ou de lata de óleo. E a nossa preferência não era por miniaturas de carros de passeio, mas sim por caminhões, caçambas ou carretas. Era com os caminhões vazios que saíamos para o mato ou a beira do rio em busca da "carga" de beldroega (a gente dizia "berduégua") para encher a carroceria e a imaginação. Para quem não conhece, a beldroega é uma plantinha rasteira originária da Grécia e da China que possui várias propriedades medicinais, dentre elas: laxante, diurética e anti-inflamatória. É rica em ômega 3, em vitaminas A, B e C e em sais minerais. Interessante que só agora, décadas e décadas depois é que, pesquisando sobre ela, descobri suas diversas utilidades medicinais. Quanto é bom ler, não é mesmo?




Outra boa lembrança dos tempos idos referentes a caminhoneiros é a de quando o Rio São Domingos ainda tinha água corrente em seu leito por longos períodos. O rio era utilizado por muita gente para lavar seus carros, ônibus e caminhões. E nossa alegria e diversão de meninice era ajudá-los gratuitamente nessa tarefa. Levávamos nossas bacias de casa para auxiliar os motoristas nas lavagens dos seus veículos. E os ônibus e caminhões eram os preferidos, pois terminada a lavada, ganhávamos uma carona em cima da carroceria até um ponto qualquer de uma das praças do centro da cidade, onde descíamos e voltávamos a pé, felizes e sorridentes.




Para homenagear todos os dedicados e trabalhadores caminhoneiros, vou registrar aqui a minha saudade de um dos melhores que eu conheci. Depois que eu vi sua incrível habilidade em estacionar uma carreta de ré, tornei-me um grande admirador dele, meu saudoso amigo Mané Véio. Gente boa demais! Poderia citar aqui inúmeros caminhoneiros que merecem a nossa consideração e respeito, mas vou citar apenas alguns com quem tive (ou tenho) mais intimidade. Espero que os demais não se zanguem e se sintam também homenageados e valorizados.
Além de Mané Véio, quero citar aqui o meu amigo Eujácio Fagundes, de uma família inteira de dignos caminhoneiros, inclusive o saudoso Dedé. Também cito meu primo Orlando Cruz, meu saudoso amigo Zé Cobrinha, meu também saudoso amigo e parceiro de bola Paulão, meu amigo de Rua da Resina Luza Tolentino e meu sobrinho Rafael. Estes dois últimos, ressalte-se, que desde a infância já tinham o sonho e a vontade de seguirem o destino de guiar um caminhão pelas estradas da vida, com todo o prazer e contentamento. 


A única imagem que tenho de Mané Véio, o primeiro à esquerda, em pé

Eu sempre me surpreendo com o sentimento de solidariedade e união que existe entre os caminhoneiros. Como em toda profissão, existem os maus-caracteres, mas a imensa maioria é de gente honesta, batalhadora e sempre disposta a estender a mão a quem está em dificuldades. Em Espinosa mesmo, já pude acompanhar dois momentos de emocionante demonstração de companheirismo e união. A primeira, quando os caminhoneiros se juntaram de forma elogiável para apoiar Dedé quando este teve o seu caminhão furtado, conseguindo retomá-lo. A segunda foi há pouco, quando da demonstração de amizade e carinho pelo falecido Ninho. Que assim continuem, sempre solidários e coesos! E que possamos nós, aprender com eles. 
Então, meus amigos caminhoneiros, boa sorte nas suas muitas viagens por esse nosso imenso Brasil, sempre sob as bênçãos do Senhor Jesus Cristo! E obrigado por tudo, sempre!
Um grande abraço espinosense.           




"VIAJANTE SOLITÁRIO"
(Cezar / Edinho Matta)

Sou
Viajante solitário
Que carrega o seu rosário
No painel do caminhão

Sou
Um honesto brasileiro
O melhor caminhoneiro
Que cruza este sertão

Eu
Nasci pra ser viajante
Eu sou cobra no volante
Com muitas léguas de chão

Meu
Trucadão barra pesada
Dinossauro rei da estrada
Nunca perde a direção

Sou
Qual buzina de um comboio
Que madruga todo dia
Minha vida é viajar

Sou
O amor que alguém espera
Sou portador da alegria
Quando é hora de chegar

Sou
O artista da estrada
Representa quase nada
Distância pro caminhão

Sou
Estradeiro de verdade
Passo e deixo uma saudade
Sempre chora um coração

Eu
Piso fundo, sigo avante
Solto as rédeas do possante
Ela na imaginação

Coração
De saudade carregado
Muito, muito mais pesado
Que a carga do trucão

Sou
Qual buzina de um comboio
Que madrugada todo dia
Minha vida é viajar

Sou
O amor que alguém espera
Sou portador da alegria
Quando é hora de chegar

Sou
Qual buzina de um comboio
Que madruga todo dia
Minha vida é viajar

Sou
O amor que alguém espera
Sou portador da alegria
Quando é hora de chegar

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