Depois de tanta farra, comilança e bebedeira em Espinosa, é tempo de se recolher no aconchego de casa e experimentar outros prazeres, estes bem mais sossegados, mas com semelhante sentimento de deleite e alegria. Ouvir uma boa música, com acordes agradáveis e letras poéticas e se lançar em uma overdose de séries e filmes de excelente qualidade. Entre outros filmes da plataforma Netflix, assisti ao impactante "Negação", ao interessante "História de Um Casamento", ao sublime "Dois Papas" e ao desmedido "O Irlandês". Cada um destes merece uma postagem, tamanha a qualidade de cada um, com suas características distintas e pessoais. Vou comentar um pouquinho sobre o filme do diretor brasileiro Fernandes Meireles, uma verdadeira joia.
Antes de tudo, é preciso enaltecer as brilhantes atuações dos exímios atores protagonistas da produção, Jonathan Pryce e Anthony Hopkins. E mais, a direção certeira e humanista do Meirelles, sempre competente. A ideia inicial contida no roteiro era mostrar mais a trajetória de Jorge Mario Bergoglio, aquele cardeal argentino progressista, ativista e sonhador que acabou se tornando, contra a sua vontade, o 266º Papa da Igreja Católica, sucedendo ao Papa Bento XVI, que abdicou ao papado em 28 de fevereiro de 2013, de forma surpreendente. Mas a coisa mudou durante as filmagens e o foco passou a ser a convivência de dois seres humanos de visões de mundo completamente opostas, em uma abordagem profundamente humanista. O filme não se dedicou a mostrar os bastidores de dois idosos senhores com incrível poder e influência sobre milhões de fiéis espalhados pelo mundo, mas tão somente de apresentar ao público duas pessoas comuns, mortais, com suas incertezas, suas convicções, seus gostos pessoais, seus equívocos, suas fraquezas.
Assistir a "Dois Papas" é uma oportunidade imperdível para que as pessoas passem a realizar mais frequentemente um ato tão pouco usual nesses tempos de discórdia e fanatismo exacerbados: a reflexão. E não só refletir, mas compreender que é possível conviver fraterna e respeitosamente com os que pensam diferente, sem abdicar das suas opiniões e visão de mundo. Cinema bom mesmo é este que nos faz pensar, raciocinar, emocionar, seduzir, instigar e inspirar, forçando-nos a tornar pessoas mais sensíveis, equilibradas, sensatas, tolerantes, empáticas e justas. A lição é essa, simples e direta: ninguém é perfeito! Nem mesmo os Papas são perfeitos. Mas a busca da perfeição deve ser firme, resiliente e constante, com nós todos procurando não errar mais, aprendendo com os desacertos cometidos e jamais deixando de amar ao próximo como Jesus nos ensinou, convivendo em paz e harmonia mesmo com os demais de convicções díspares.
Na parte técnica, como os produtores não conseguiram permissão para filmar nas dependências do Vaticano, foram usados modernos recursos de efeitos especiais, com um resultado espetacular, sobretudo nas cenas onde aparecem a multidão na Praça São Pedro e a Capela Sistina. E merecem bastante atenção os diálogos, maravilhosos. E também cenas encantadoras, como a dos dois Papas assistindo juntos à final da Copa do Mundo de 2014 entre suas seleções de Alemanha e Argentina.
E para encerrar, como eu admiro este homem de nome Jorge Mario Bergoglio! Ave, Francisco!
Um grande abraço espinosense.
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