Espinosa, meu éden

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

773 - O prazer de ser Atleticano...

Muita gente não consegue entender o que leva crianças, jovens e marmanjos já bem crescidinhos a derramar lágrimas de dor e alegria por um time de futebol de nome Clube Atlético Mineiro. É uma paixão tão avassaladora que leva alguns torcedores a protagonizar cenas de total loucura, experimentar sentimentos inexplicáveis de euforia e êxtase, tomar atitudes extremas como entrar em atrito com a companheira amada e acompanhar o time adorado por lugares deveras distantes e a pagar promessas malucas por vitórias e títulos conquistados, como a recente, dramática e espetacular conquista da Taça Libertadores da América.
Como explicar todo esse imenso sentimento de carinho, amor, paixão e loucura? Que tal então tentar especificar algumas das características de um bom e autêntico torcedor atleticano? Vamos lá!
O atleticano fanático e apaixonado quando sai de férias, depois de um árduo ano de trabalho, jamais viaja em uma aeronave da Azul Linhas Aéreas Brasileiras. E não é por medo de avião, não. Se resolver ir por terra, que não seja pela Viação Danúbio Azul e em hipótese alguma irá recarregar as baterias em passeios por cidades como Monte Azul, Campo Azul ou ainda Pedra Azul. Por mar, nem pensar! A não ser que esses passeios em navios gigantescos, conhecidos como cruzeiros, venham um dia a mudar de nome.
Atleticano verdadeiro, de maneira nenhuma vai querer conhecer a Lagoa Azul, lá na bela Ilha Grande, estado do Rio de Janeiro. Tampouco irá se entusiasmar para conhecer a Riviera Francesa, conhecida também como Costa Azul. Isso também para evitar encontrar por esses mares o maior mamífero do planeta, a baleia-azul (Balaenoptera musculus). Atleticano gosta mesmo é do esporte preferido do Príncipe Charles e da realeza inglesa: a caça à raposa.   
Se algum dia o atleticano precisar enviar alguma carga ou encomenda, ele nunca irá confiar na Azul e Branco Transportadora, de São Paulo, e tampouco irá fazer seguro com a Azul Seguros. Comprar aquela tal de "Azulzinha do Trenzinho (lembram-se?). Nem morto!
Atleticano que se preza nunca irá assistir a qualquer apresentação do Blue Man Group, veja lá dançar ao som de "Danúbio Azul", famosa valsa composta por Johann Strauss II em 1867.
O apaixonado pelo Galo gosta muito da França e da Itália, é encantado com as suas belíssimas cidades, mas não poderia de nenhuma maneira torcer pelas suas seleções de futebol, conhecidas como "Les Bleus" e "Squadra Azzurra".
Na cultura popular, lá no Amazonas, é claro que é admirador e torcedor inveterado do Boi Garantido, de cor vermelha, em detrimento do Boi Caprichoso, de cor azul. Torce para a Acadêmicos do Salgueiro ao invés de nutrir admiração pela Portela do grande Paulinho da Viola, com suas cores azul e branca. Detesta aristocratas, aqueles que se gabam de possuir sangue azul. Além disso, o genuíno atleticano é na sua gênese, gente do povo, humilde e trabalhador, totalmente distante daqueles senhores aristocráticos, despejando com empáfia sua nobreza de sangue azul.
O legítimo fã do clube da Cidade do Galo adora cinema, mas seria impossível que ele um dia assistisse ao filme "A Lagoa Azul", estrelado pela bela Brooke Shields e pelo Christopher Atkins, mesmo porque ele é aficionado por filmes em preto e branco. 
Atleticano é fissurado por música, tanto que adotou a canção "Vou Festejar" como um espécie de segundo hino do clube, mas baniu sem remorsos do seu repertório as músicas "Trem Azul" (Ronaldo Bastos e Lô Borges), "Azul da Cor do Mar" (Tim Maia) e "Azul" (Djavan). No entanto, jamais deixa de ouvir ininterruptamente o clássico "Retrato em Branco e Preto" de Chico e de Tom. Nem quando está na farra, todo animado, consegue relaxar e cantar os versos embriagadores de "Boate Azul", de Benedito Seviero e Tomaz. Prefere "Preta, Pretinha", de Luiz Galvão e Moraes Moreira.
Atleticano arretado mesmo, sempre está afundado no limite do cheque especial do banco, totalmente no vermelho, só para não estar com a conta corrente no azul.   
Atleticano é tão apaixonado, mas tão apaixonado, que mesmo com a declaração histórica do cosmonauta soviético  Iuri Gagarin (Primeiro humano a ir ao espaço), de que "A Terra é azul", até hoje ainda coloca em dúvida esta afirmação, alegando haver controvérsias.
O atleticano espinosense, em particular, mesmo com toda a devoção religiosa, jamais sobe o Morro do Cruzeiro nas celebrações da Semana Santa. E nem cria o pássaro Azulão (Cyanocompsa brissonii), preferindo o Pássaro-Preto (Gnorimopsar chopi).
E para colocar enfim um ponto final nesta história, um velho amigo meu, atleticano inveterado, confidenciou-me que anda precisando, aos 80 anos de idade, bem vividos, de algum remedinho que melhore o seu desempenho sexual, mas nada de Viagra, até que a indústria farmacêutica lance uma opção do comprimido milagroso em outra cor que não a azul. É isso!
Um grande abraço espinosense.

 

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