Neste dia 5 de julho de 2012 se completarão 30 anos de um dos dias mais tristes da minha vida. Acredito eu que tantos outros amantes do futebol espalhados pelo Brasil e até pelo mundo também sentiram isso. Neste dia fatídico do ano de 1982, no Estádio Sarriá, na Itália, durante a disputa da segunda fase da Copa do Mundo, a conturbada e desacreditada Seleção Italiana de Futebol vencia um dos melhores times já montados na história vencedora do futebol brasileiro por 3 x 2 e eliminava lamentavelmente o espetacular esquadrão brasileiro da disputa pelo título de tetracampeão do mundo de seleções.
Aquela tarde de segunda-feira jamais sairá da minha já cansada e falha memória. Lembro-me bem que naquele dia iríamos ter uma pausa no trabalho no banco para que todos pudéssemos assistir ao jogo. Após a partida teríamos que voltar novamente ao batente, infelizmente. Infelizmente mesmo, pois após a derrota inesperada, o retorno ao trabalho foi difícil e desanimador.
Como aquele timaço me deu alegria! Assistíamos aos jogos no "Recanto da Lagoa", restaurante de Dona Cida ali na Praça José Osvaldo Tolentino, que deixou saudades. Era uma animação contagiante ver todo mundo fissurado pela seleção que nos enchia os olhos com um futebol de muita técnica e refino, comandada brilhantemente pelo Mestre Telê Santana. Após as vitórias saíamos em carreata pelas ruas da cidade para comemorar.
O mascote Naranjito |
A bola da Copa: Tango |
Todos os comandados de Telê Santana |
No primeiro jogo do Brasil, pelo Grupo F, dia 14 de junho, no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán, na cidade de Sevilha, contra a União Soviética (URSS) do excelente goleiro Rinat Dasayev, tomamos um susto com o gol dos soviéticos (Bal) num frangaço do nosso goleiro Valdir Peres. Mas logo depois, o Doutor Sócrates driblaria dois adversários e bateria forte para balançar a rede do inimigo. Momentos depois, Éder, depois de uma levantadinha na bola, soltaria uma bomba e decretaria a vitória brasileira de virada, nos enlouquecendo de alegria. E fomos para a rua comemorar.
No segundo compromisso, dia 18 de junho, no Estádio Benito Villamarín, em Sevilha, contra a Escócia, outro susto. A Escócia marca primeiro, aos 18 minutos, com Narey. Mas ninguém se preocupava muito pois sabia que a virada aconteceria logo. E ela veio com gols de Zico, Oscar, Éder e Falcão. Final 4 x 1. Outra carreata pelas ruas da cidade, depois de muitas cervejas geladas no Recanto da Lagoa.
Terceiro jogo, contra a Nova Zelândia, dia 23 de junho, também no Estádio Benito Villamarín. Fácil demais! Já contávamos antecipadamente com outra goleada e ela veio, claro! 4 x 0, com gols de Zico (2), Falcão e Serginho Chulapa. Classificação garantida, três vitórias, seis pontos ganhos (na época vitória valia apenas 2 pontos), primeiro lugar no grupo, 10 gols marcados, tudo era festa. Até os adversários já tinham como certa a conquista brasileira na competição, pois ninguém era tão forte e jogava tão bem como a seleção canarinho.
Já na segunda fase, em Barcelona, o Brasil enfrentaria a eterna adversária Argentina e o claudicante time da Itália, que havia se classificado de maneira sofrível como segundo no seu grupo com apenas três empates, contra as seleções da Polônia, Peru e Camarões.
Telê Santana, o comandante daquela máquina de jogar bola |
O título da capa da Revista Placar diz tudo: só faltou Reinaldo na Copa |
Um time inesquecível: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Falcão, Luisinho e Júnior; Sócrates, Cerezzo, Serginho, Zico e Éder. |
Seria uma disputa triangular, com apenas um classificado. Na primeira partida, em 29 de junho, a primeira surpresa. A então desprestigiada Itália bateu a Argentina por 2 x 1, com gols de Tardelli e Cabrini, descontando Passarella para os hermanos.
No dia 2 de julho, com 43.000 espectadores, em uma apresentação excepcional, o time mágico de Telê Santana sapecou 3 x 1 na Argentina, com gols de Zico, Júnior e Serginho Chulapa, com Díaz descontando no último minuto. Até o então jovem Maradona perdeu a cabeça e foi expulso ao dar um pontapé no volante Batista. Era a glória! Com duas derrotas, a poderosa Argentina estava de volta para casa e o Brasil seguia firme para a conquista de mais um título mundial. Neste dia, dirigindo o meu Chevettinho na carreata, ao passar em frente ao prédio do Magazine Simone, fui cumprimentaro meu grande amigo Tião justamente na hora em que o pessoal da frente deu uma brusca parada ao passar pela linha férrea e aconteceu o engavetamento. O carro de Magrão (se não me engano um Del-Rey) bateu na traseira do Fusquinha de Tina, nossa colega de banco. Eu logo atrás, não consegui parar e enfiei o Chevette na traseira do carro de Magrão, amassando a frente do carro e quebrando a grade dianteira. Mas nem assim acabou a nossa alegria. Continuamos na carreata assim mesmo e depois fomos para a Praça Antonino Neves tomar cerveja e comemorar a grande e expressiva vitória brasileira. Era só alegria e deslumbramento.
Dia 5 de julho de 1982, Estádio Sarriá lotado para ver Brasil x Itália. Logo aos 5 minutos Cabrini cruza da esquerda na segunda trave para a cabeçada certeira do atacante Paolo Rossi no canto oposto de Valdir Peres. Mas ninguém se preocupou muito, pois já estava virando rotina o Brasil começar perdendo. Sete minutos depois, Sócrates empataria a partida, batendo quase sem ângulo, entre a trave e o goleiro italiano Dino Zoff, após ótimo passe de Zico. Fomos à loucura, alguns até mais afoitos subiram na mesa.
Aos 25 minutos, Cerezo tenta tocar uma bola no campo de defesa para Luisinho e o esperto e endiabrado Paolo Rossi rouba a bola e parte em direção ao gol brasileiro para marcar o seu segundo gol na partida, para desespero de todos nós. Termina o primeiro tempo, 2 x 1 para a Itália. Mas continuávamos tranquilos, esperando a reação brasileira, pois aquele time nosso parecia imbatível. Era uma questão de tempo o empate. E assim aconteceu. Aos 23 minutos do segundo tempo, após um passe de trivela de Júnior, o Brasil empatou com um chutaço de fora da área de Falcão. Cerezzo teve importantíssima participação nesta jogada ao levar a marcação de dois italianos, abrindo espaço para a jogada do "Rei de Roma". Que alívio! Com apenas um empate, o classificado para as semifinais seria o Brasil, por ter maior número de gols marcados.
Mas o destino foi cruel com aquela máquina de jogar futebol-arte e colocou definitivamente o nome do atacante Paolo Rossi no panteão dos algozes brasileiros no futebol. Então com 25 anos, o atacante vinha de uma suspensão de um ano dos gramados por denúncias de manipulação de resultados no Campeonato Italiano e era muito questionado pelos colegas e pela imprensa.
Mas por essas coisas inexplicáveis que acontecem no futebol, aos 29 minutos, depois de um escanteio, a defesa brasileira rebateu mal, a bola sobrou para Tardelli chutar mascado, de primeira, e a bola, inapelavelmente, foi cair justamente no pé de Paolo Rossi, que com um toque a desviou para o fundo das redes tupiniquins. Inacreditável aquilo! Três gols de Paolo Rossi e aí o nosso entusiasmo e confiança arrefeceram e o desalento se instalou nos nossos corações. Mas ainda havia 15 minutos de jogo e o Brasil tinha tudo para conseguir nova façanha de empatar o jogo e partiu forte para o ataque. E uma cabeçada do zagueiro Oscar quase ao final da partida quase entra, salvada milagrosamente pelo veterano e tarimbado goleiro Dino Zoff. Era o fim do sonho! A Azurra do iluminado e encapetado Paolo Rossi havia exterminado a nossa imensa alegria de torcer por aquele time mágico do Mestre Telê. Alguns choraram, outros silenciaram e neste dia as ruas de Espinosa (e do Brasil inteiro) não ouviram o barulho estridente dos fogos e das buzinas e não sentiram a emoção e a alegria contagiante da população na carreata. Tivemos que voltar ao trabalho, cabisbaixos e desolados. Não dava para acreditar que aquela equipe de futebol encantador estava fora da Copa do Mundo. Mas era a dura realidade. A Itália ainda bateria a equipe da Polônia por 2 x 0 nas semifinais e chegaria ao título de Campeão Mundial de Seleções vencendo a Alemanha por 3 x 1, no Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, aos 11 de julho de 1982, perante 90.000 espectadores.
O palco desta enorme tragédia brasileira não existe mais. O famoso Estádio Sarriá foi demolido em agosto de 1997, depois de ser vendido pelo seu endividado dono, o clube Espanyol, para uma construtora que ali construiu um luxuoso conjunto residencial. O local já não existe, mas a lembrança daquela partida memorável jamais sairá da minha memória e aqueles craques excepcionais sempre serão exaltados por mim. Nunca, em toda a minha vida, um time de futebol conseguiu despertar em mim uma emoção tão profunda e indescritível como aquela admirável seleção de 1982.
Um grande abraço espinosense.
Uma equipe inesquecível para os amantes do futebol |
A campeã Itália: Zoff, Antognoni, Scirea, Graziani, Collovati e Gentile; Rossi, Conti, Cabrini, Oriali e Tardelli |
O carrasco italiano Paolo Rossi |
O palco da tragédia: Estádio Sarriá |
Curiosidades da Copa do Mundo de 1982:
A seleção da Copa: Dino Zoff (Itália), Fuvio Collovati (Itália), Claudio Gentile (Itália), Luizinho (brasil) e Júnior (Brasil); Falcão (Brasil), Zbigniew Boniek (Polônia), Zico (Brasil) e Michel Platini (França); Paolo Rossi (Itáli) e Karl-Heinz Rummenigge (Alemanha Ocidental). Timaço.
Artilheiros: Paolo Rossi (Chuteira de Ouro - 6 gols), Karl-Heinz Rummenigge (Chuteira de Prata - 5 gols) e Zico (Chuteira de Bronze - 4 gols).
Melhores jogadores: Paolo Rossi (Bola de Ouro), Paulo Roberto Falcão (Bola de Prata), Karl-Heinz Rummenigg (Bola de Bronze) e Dino Zoff (Prêmio Yashin).
Classificação Final: Itália (Campeã), Alemanha Ocidental (Vice-campeã), Polônia (3° colocada) e França (4° colocada).
Os vídeos abaixo mostram imagens do memorável jogo e a música gravada pelo lateral da Seleção, Júnior, que fez muito sucesso na época.
Os vídeos abaixo mostram imagens do memorável jogo e a música gravada pelo lateral da Seleção, Júnior, que fez muito sucesso na época.
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