Espinosa, meu éden

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

309 - Canal 100 - Uma surpreendente visão do futebol

Os apaixonados por cinema devem se lembrar bem dos cinejornais que eram apresentados antes dos filmes, na década de 70 e 80. O Canal 100 era uma maravilha de se ver, pois apresentava notícias na tela grande, informando e divertindo as plateias do país inteiro. Mas o destaque maior se dava com as transmissões das notícias do futebol carioca, principalmente. Chegavam com um substancial atraso, é verdade. Mas quem se importava? Era ótimo assistir àquelas imagens maravilhosas dos grandes clássicos cariocas, em câmera lenta, uma locução espetacular e a sua tradicional música de abertura. O interessante era perceber o foco das câmeras no goleiro revoltado após levar um gol, ou em um torcedor mais excêntrico ou todo fantasiado na geral do estádio, ou ainda a imagem do craque esperando a chegada da bola para fazer o gol, tudo em câmera lenta. Era bonito demais!
Craques memoráveis como Garrincha, Pelé, Gérson, Zico e tantos outros tiveram imortalizadas as suas atuações. Momentos históricos do futebol brasileiro também foram filmados pelo Canal 100, inclusive a lendária vitória do Galo sobre a seleção brasileira de 70 por 2 x 1. Imperdível!


Uma breve história do canal 100:
Para muitos o cinema é o conjunto dos grandes filmes. Para outros, o cinema não passa de uma técnica de ilusão. Mas para aquele que quer conhecer a história do século XX, para quem busca desvendar o segredo dos deuses e das lendas do homem contemporâneo, o cinema é, sem qualquer dúvida, a mais importante das fontes de informação.
Daí a importância dos cinejornais. Como gênero de cinema, em todo o mundo, o cinejornal esteve presente registrando o século. No Brasil desde os anos cinqüenta, o Canal 100 criou a legenda dos grandes cinejornais.
O criador Carlos Niemeyer, começou a fazer cinema nos anos 50, produzindo com Jean Manzon alguns documentários sobre o Rio de Janeiro. Em 1958, fundou sua própria produtora que mais tarde se especializou em cinejornal. Surgia o Canal 100, que de 1959 a 1986, produziu um cinejornal por semana, formando um importante acervo cinematográfico dos acontecimentos jornalísticos da época (aproximadamente setenta mil minutos de imagens).
O nome Canal 100 foi uma analogia à televisão que até recentemente se identificava pelo número do canal. Canal 13 (TV Rio), Canal 6 (TV Tupi), Canal 4 (TV Globo) etc. Canal 100 era na visão de Carlos Niemeyer um número inatingível pela televisão.
Desde 1959 as lentes do Canal 100 tentaram inovar: seja na simples criação das vinhetas, ou na "mise-en scène" da montagem, e principalmente nas filmagens, onde sobressaiu Francisco Torturra, o melhor cinegrafista de futebol da história dos cinejornais. Tudo sob a supervisão de Carlos Niemeyer.
Na parte musical, foram compostas trilhas para cada vinheta do jornal, uma delas com partituras do maestro Tom Jobim. No futebol, após diversas tentativas, descobriu-se o samba de Luis Bandeira, "Na Cadência do Samba", que virou hino e trilha sonora do futebol brasileiro.
Criador de um estilo próprio, foi no futebol que a marca do jornal se tornou mais famosa. O perfeito casamento entre o maior esporte do mundo e a síntese de todas as artes, o cinema.
Como dizia Nélson Rodrigues: "Foi a equipe do Canal 100 que inventou uma nova distância entre o torcedor e o craque, entre o torcedor e o jogo, grandes mitos do nosso futebol, em dimensão miguelangesca, em plena cólera do gol. Suas coxas plásticas, elásticas enchendo a tela. Tudo o que o futebol brasileiro possa ter de lírico, dramático, patético, delirante…"
Mas, apesar de todo o sucesso, os tempos mudaram e em 1985 o Ministério da Cultura do governo Figueiredo, apoiado pelos lobistas do cinema americano, inviabilizou a produção, proibindo a propaganda comercial em cinejornal. Era o fim do futebol do Canal 100 e de um estilo brasileiro de fazer cinema.
A principal atividade da produtora nestes mais de 40 anos foi a produção e manutenção de um dos maiores acervos cinematográficos do país. Foram 52 edições anuais de 1959 até 1986 num total de 1.924 cinejornais, além de edições extras de cinejornais adquiridos pelo Canal 100 do início do século.
Imagens políticas desde a era Vargas, passando por JK, Jânio Quadros, Jango, os comícios de Lacerda, o golpe militar de 64, a marcha com Deus pela Família, comícios e as passeatas estudantis, a ditadura militar, as "Diretas Já" até a eleição de Tancredo e a posse de Sarney. O Carnaval carioca; os bailes do Copacabana Palace e do Municipal; desfiles de Escola de Samba e o carnaval de rua desde os anos 30. A evolução da música popular brasileira, o início da Bossa Nova, a Jovem Guarda, a Tropicália, os festivais da canção na década de 60, o samba, o rock etc. Imagens de personalidades internacionais do mundo artístico e político: Brigitte Bardot, Fidel Castro, Rainha Elizabeth, Senador Kennedy etc. O mundo da arte desde peças teatrais, exposições, lançamentos de filmes, desfile de moda nacionais e internacionais, concurso de miss de Marta Rocha a Vera Fisher. O Canal 100 mostra a evolução dos esportes no Brasil: do tênis de Maria Ester Bueno e o boxe dos tempos de Éder Jofre ao surf no Arpoador no início da década de 60. Imagens desde as Olimpíadas de 1960 com imagens exclusivas de Montreal 1976. A cidade do Rio de Janeiro foi registrada desde quando era a capital do Brasil. O Canal 100 acompanhou todas as suas mudanças, da época do bonde à inauguração do metrô, além de sua beleza natural, seu povo e seus costumes.
Fonte: canal100.com.br



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