Espinosa, meu éden

Espinosa, meu éden

sexta-feira, 1 de julho de 2011

162 - Espinosense pelo mundo: Gilberto de Abreu Barbosa

Senhoras e senhores espinosenses, com a palavra, o multifacetado artista plástico Gilberto de Abreu:

Nasci na casa de meus pais, Milton Barbosa e Terezinha de Abreu Barbosa, na cidade de Espinosa, Minas Gerais, em 22 de janeiro de 1953, às seis horas da tarde. Em 1954, mudamos para Montes Claros; em 1955, para Itapeva-SP; em 1956, para a cidade de Trombudo Central, em Santa Catarina; e em 1957, voltamos para Montes Claros, quando meus pais se separaram.
Em 1960, com a morte de meu avô materno, viemos para Belo Horizonte. Morávamos eu, meus dois irmãos Gonçalo e Gilson, minha mãe, minha avó Edith e minha tia Isa, todos na mesma casa. Mudamos os seis para o bairro Floresta, à rua Itaúna, de onde me vem as primeiras lembranças de desenhos: com gravetos, desenhava no "nosso" campinho de futebol, e com pedaços de gesso e tijolo, desenhava pelos quintais e passeios das ruas nas imediações da nossa casa.
Desenho com pintura e arame de 1979: "Meu avô cientista",
capa do disco "Sol de primavera" de Beto Guedes
Em 1964, mudamos todos para o centro da cidade - mais especificamente para o Edifício Levy, apartamento 1601. Lá, as primeiras amizades que fizemos foram com os Borges: o Lô e o Yé, e rapidamente, com toda a família. O Lô e o Yé eram da turma da Tupis (moçada que se reunia na esquina da Rua Tupis com Rua São Paulo), da qual faziam parte Beto Guedes, Leu, Grilo, Mará, Fred, Flamínio, Marco e Miguel, Napola, Márcio Ciranô, Eduardo Cançado, Boss, Zé Eduardo e Dudu Geral, turma a qual nos ligamos, eu e meus irmãos.
Como a maioria vinha do interior e morávamos em apartamentos, a cidade virou o quintal de nossa casa. No meio disso tudo, muita música e desenhos em papéis, telas, paredes e muros, somados a estudos ginasiais nos colégios Anchieta e Tancredo Guimarães, tendo duas bombas no percurso. A turma foi se dissolvendo até que, em 1970, chega de mudança para o nosso apartamento o primo Yuri Popoff e seu violão, vindo de Montes Claros. Depois, chegaram também seus irmãos Alik e Tânia e nossa prima Veruxka, aumentando consideravelmente a população do 1601 - que já era ponto obrigatório de todos os montes-clarenses "cabeças" e angustiados, todos atrás da sopa de Dona Edith, no começo dos anos 70.
Gilberto de Abreu - Making off - Construtivismo pop
A presença do Yuri me levou às tardes ao Conservatório de Música, mais precisamente à biblioteca, e também fortaleceu o contato com esse universo. Comecei a fazer cartazes e cenários para recitais, shows e festivais. Em 1972, depois de algumas viagens de carona, entrei para o curso livre da Escola Guignard, onde passei alguns meses intensos. Com a mesma liberdade que entrei, saí. Comecei a me interessar por quadrinhos e tomei noções de desenho animado com Ivan Pedro.
Em 1973, conheci a Miriam e nos juntamos. Moramos 40 dias em Brasília, onde ela morava - saída de Belo Horizonte e vinda da Bahia ainda criança, depois voltamos para Belo Horizonte e fomos morar no bairro São Lucas. Morávamos no fundo da casa de um músico, Melão, e seu conjunto Banquete 93 de Cogumelos. Em 1974, eu e Miriam levamos ao Jornal de Minas um projeto de uma Feira de Artes, a ser realizada em um dos quarteirões fechados da Praça Sete. Uma semana de shows, exposições e quadros a preços populares.
Pintando cenário
Realizamos esse evento e começaram a surgir novos amigos, dessa vez dos pincéis e tintas: Luis Maia, Humberto Guimarães, Benjamim, Gazinelli, Weiss, Mário Vale, Eimir, que me levaram a publicar em jornais e revistas independentes. E Roberto Wagner, uma parceria que me rendeu muitos trabalhos: "Risos e Facadas", "Galeria Submarindio", "Grupo Arco-Íris", entre outros. Em 1975 nasceu José Rafael, nosso primeiro filho. Por essa época comecei a ilustrar o suplemento literário do jornal Minas Gerais, no momento do "boom da literatura em Minas", e intensifiquei minha participação em salões. Além disso, comecei a fazer muitas pinturas ao vivo e performances junto a exposições coletivas, jornais, suplementos, cenários e adereços de teatro.
Óleo sobre tela: Noturna elétrica (2002)
Em 1979, minha mãe, com câncer já em estado adiantado, passa o ano quase todo em hospitais, onde falece. Nasce também nossa filha Tamira. Mudamo-nos para o bairro Glória, onde começamos a construir uma casa. Sai um desenho meu na capa do álbum "Sol de Primavera", do Beto Guedes, tendo ótima repercussão nacional e trazendo para mim de novo a relação com os músicos. Faço cenário para o Lô Borges e sua "Via Láctea", viajamos com seu show para algumas cidades do Brasil. Em 1980/81, inicio parceria com Toninho Horta: participo da Orquestra Fantasma como cenógrafo, performer, às vezes diretor de cena, às vezes iluminador... etc.
Pintura "Edifício Quinze Garotas"
Em 1981, começo a freqüentar a Oficina Goeldi, quando lanço um livro de desenhos e poemas. Nasce Luando, nosso terceiro filho. A Oficina Goeldi me levou à gravura, e através do cineasta José Sette de Barros, também ao cinema. Depois, participei de um curta e um longa, realizados também pela Oficina, e trabalhei em outro longa com o Grupo Novo de Cinema e Helvécio Ratton. Enfim, a década de 80 passou entre exposições, cenários e o início, mais ao fim da década, da criação de óperas e operetas visuais, já uma mistura de música, poesia e pintura, reunindo, assim, várias facetas da minha vivência.
Tocando cavaquinho
O ano de 1990 começou agitado, com mudanças políticas, exposições, cenários para TV e shows, e terminou em Buenos Aires com a exposição do Grupo Azar, recém criado por brasileiros, argentinos e chilenos. Do Brasil, Gabriela Demarco, Rui Santana, Orlando Castaño e eu. Do Chile, Ivo Vergara. Da Argentina, Marina Decaro, Mário Soares e Anna Göebel, que mais tarde se mudaram para Belo Horizonte, onde continuamos nossa parceria em outros eventos. Depois, Joaquim Mascaró, do Uruguai, agregou-se ao grupo.
Com o Grupo Azar no Rio de Janeiro em 1982
Em 1991, fizemos algumas exposições e fechamos o ano no Chile, onde realizamos uma grande exposição do Grupo Azar. Em 1992, uma parceria com o músico Paulinho Pedra Azul rende livro, exposições, capa de disco etc. E chega a vez do Brasil receber o Grupo Azar: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Em 1993, fizemos Buenos Aires e muitas exposições no Brasil. Miriam adoece. Em 1994, em março, ela falece, fazendo desse ano um dos mais difíceis da minha vida.
Óleo sobre tela: "Retrato de Míriam"
Em 1995, retomo minhas atividades com a opereta poética apresentada na Bienal de Poesia e sigo com exposições, cenários e recitais, entre outros projetos. Nesse ano conheci Luciana, e ficamos juntos até o ano 2000. Essa relação alimentou a parte poética do meu trabalho, gerando livros e performances em eventos de poesia. Também retomei a produção no suporte quadrinhos, publicando minhas histórias na revista Graffiti. Além disso, participei da produção de filmes como cenógrafo do curta de Patrícia Moran e como montador do primeiro longa (ainda inédito) de Fábio Carvalho. Fecho 2001 concluindo um projeto que está sendo feito desde o início de 2000: o CD de poesia "João, Gilberto e Clarisse".
Gilberto de Abreu no Grande Arco de La Defense, em Paris
Gilberto de Abreu Barbosa
"O Beto traz para perto da gente a ligação do sonho com o real. Liga o consciente ao inconsciente como quem abre uma janela e deixa entrar o sol."
Lô Borges, músico, 1984

Veja aqui o currículo do Gilberto:

Nenhum comentário: