Espinosa, meu éden

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terça-feira, 18 de novembro de 2025

3911 - A "Andança" da Madrinha Beth Carvalho

Está disponível, e eu já assisti com muita emoção, o documentário "Andança - Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho", na plataforma de streaming Netflix. No filme aparecem muitas imagens gravadas exatamente por ela, a protagonista Elizabeth Santos Leal de Carvalho, que adorava registrar com sua câmera os encontros com os amigos nas mesas de bares e fundos de quintais onde aconteciam as maravilhosas e saborosas rodas de pagode com a presença e atuação dos bambas do Samba carioca.



Beth Carvalho sempre foi intensa, plural, engajada e apaixonadamente dedicada a tudo que amava: a Música (o Samba em particular); o Botafogo de Futebol e Regatas, seu time do coração; a Democracia e os movimentos sociais, políticos e culturais; sua filha Luana; sua neta Mia; seus muitos amigos e o Carnaval, que a homenageou em 1984 com a Escola de Samba Unidos do Cabuçu com o enredo "Beth Carvalho, a Enamorada do Samba", com o qual a escola foi Campeã e subiu para o Grupo Especial; que a homenageou em 1985, com a Escola de Samba Alegria da Zona Sul, com o enredo "Vou Festejar… Com Beth Carvalho, a Madrinha do Samba"; e que a homenageou em 2013 através da Escola de Samba paulistana Acadêmicos do Tatuapé com o enredo "Beth Carvalho, a Madrinha do Samba".



Beth consagrou vários Sambas de autoria dos muitos artistas descobertos por ela, desde "Vou Festejar", composição de Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias, que acabou virando um hino da Massa Atleticana, passando por "Coisinha do Pai", de Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos, até "Camarão Que Dorme a Onda Leva", música de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Beto Sem Braço. E levou vários compositores e cantores que ela descobriu no Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos ao estrelato, casos de Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão e Bezerra da Silva, entre outros mais, tornando-se assim festejada como a "Madrinha do Samba". Mas não só! A irrequieta e humilde Beth também ajudou grandes compositores brasileiros que permaneciam esquecidos no ostracismo, como Nelson Cavaquinho e Cartola. Colocou o primeiro em evidência ao gravar "Folhas Secas" em seu álbum "Canto Por Um Novo Dia" de 1973, e o segundo ao gravar "As Rosas Não Falam" em seu álbum "Mundo Melhor" de 1976. Beth adorava não só o Samba, mas amava verdadeiramente todo o pessoal que criava esta maravilha de música genuinamente brasileira, gravando um bocado de canções desses incríveis compositores durante sua longa trajetória.



Beth Carvalho, filha do piauiense João Francisco Leal de Carvalho e de Dona Maria Nair Santos e irmã de Vânia, se descobriu apaixonada por música bem cedo, aprendendo a tocar violão ainda na adolescência e se tornando professora rapidamente. Viajou no amor à Bossa Nova, participou de vários festivais mas se identificou mesmo foi com a turma do Samba. No FIC-Festival Internacional da Canção de 1968, conquistou o 3º lugar com a linda música "Andança", composição de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, ficando conhecida em todo o país, o que lhe proporcionou a chance de lançar seu primeiro disco em 1969. Esteve sempre no centro das lutas sociais, culturais e políticas, firme, forte, alegre e sem medo de ser feliz. Nunca se rendeu às intempéries da vida, lutando bravamente contra os problemas de saúde que a impediram de fazer shows em condições normais nos seus últimos dias. Com uma artrose no fêmur, passou por maus bocados internada e bravamente se apresentou em um show, deitada, por não suportar a dor de permanecer sentada ou em pé.


 
Beth conseguiu a façanha de fazer a música "Coisinha do Pai" chegar a Marte, tocada no espaço para acordar o robô da NASA, graças à engenheira brasileira Jacqueline Lyra. Um luxo para o Brasil e o Samba. Fez shows no mundo inteiro, foi diversas vezes premiada, mas nunca perdeu a humildade, o amor e o contato com seus compadres dos morros cariocas, berço do Samba. Fez discos homenageando seus ídolos Nelson Cavaquinho e Cartola e deixou uma obra magnífica da Música Popular Brasileira e um exemplo de luta em prol da Democracia e da Justiça Social.



Beth, que nasceu na Cidade Maravilhosa em 5 de maio de 1946, faleceu na sua cidade amada em 30 de abril de 2019, deixando um enorme vácuo no cenário musical carioca, brasileiro e mundial.
Cada vez que a torcida atleticana cantar em uníssono o hino "Vou Festejar", sentirei-me conectado ao Samba e ao talento respeitável da Madrinha Beth Carvalho, que tanta falta faz.
Um grande abraço espinosense.


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