Pouco tempo depois da partida de um outro gigante jornalista, o genial gaúcho Luís Fernando Veríssimo, faleceu Mino Carta na cidade de São Paulo na terça-feira, 2 de setembro de 2025, aos 91 anos de idade.
O italiano jornalista, editor, empresário, escritor e pintor Demetrio Giuliano Gianni Carta, conhecido como Mino Carta, nascido em Gênova aos 6 de setembro de 1933, veio para o Brasil no ano de 1946, após o fim da Segunda Guerra Mundial, pouco tempo depois da derrocada do maldito fascismo de Benito Mussolini. Frequentou o curso de Direito na Universidade de São Paulo, sem concluí-lo, e iniciou-se no Jornalismo aos 16 anos, criando e enviando textos a jornais italianos sobre notícias da Copa do Mundo da FIFA de 1950. Voltou à sua Itália natal em 1956 para trabalhar no jornal Gazetta del Popolo e como correspondente para publicações brasileiras. Depois de esse tempo por lá, retornou ao Brasil.
Sua carreira de editor começou no ano de 1960, quando, a convite do empresário Victor Civita, assumiu a direção da recém-criada revista automobilística Quatro Rodas, na Editora Abril, transformando-a em um sucesso editorial mesmo sem qualquer conhecimento sobre automóveis. Dali foi para o jornal O Estado de São Paulo, criando uma inovadora edição de esportes e liderando a equipe fundadora do Jornal da Tarde. Voltou à Editora Abril em 1968 para atuar como diretor de redação e lançar a revista Veja, que se tornaria por muito tempo, até a completa perda de credibilidade a partir dos anos 2000, a maior publicação semanal de notícias do Brasil. Por se mostrar valente e crítico à maldita ditadura militar brasileira, sofreu pressões, teve edição censurada, foi constantemente levado para interrogatórios e acabou sendo demitido. Após deixar a Veja, Mino Carta fundou a revista IstoÉ em 1976, pela Editora Três, criando uma revista combativa e comprometida com a verdade dos fatos que, infelizmente, também sucumbiu ao descrédito causado por sua radical mudança editorial. Em 1979, fracassou por problemas financeiros na sua empreitada de, ao lado do amigo e parceiro Cláudio Abramo, criar o Jornal da República. Mas não desistiu da sua sina de jornalista e fundou em 1994 a revista CartaCapital, progressista, crítica e imparcial, empenhada na "fidelidade à verdade factual, no exercício do espírito crítico e na fiscalização de todo e qualquer poder".
Em um momento da nossa civilização em que a Internet trouxe avanços inimagináveis na relação entre as pessoas, mas que infelizmente também possibilitou a criação e propagação incontrolável de fake News e a aparição desenfreada de vigaristas e velhacos, é uma perda gigantesca para o Brasil e o mundo a saída de cena de um jornalista da capacidade, grandeza e coragem de um Mino Carta. Os textos cultos, certeiros, sérios, relevantes, livres e independentes que saíam das teclas nervosas e barulhentas da sua velha máquina de escrever Olivetti vão fazer falta. Que descanse em paz!
Seu grande amigo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decretou três dias de luto oficial no país.
Morreu também há poucos dias o senhor Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, mais conhecido como Jaguar, um dos maiores ícones do "cartunismo" brasileiro. Ele morreu aos 93 anos em São Paulo no dia 24 de agosto de 2025, em decorrência de complicações renais após um quadro de infecção respiratória.
Jaguar foi funcionário do Banco do Brasil por 17 anos, mas destacou-se nacionalmente por suas charges repletas de ironia e humor ácido, sempre cutucando com extrema coragem e sarcasmo os conservadores e autoritários personagens da vida política e social do país, especialmente durante a maldita ditadura militar que o perseguiu e o encarcerou por cerca de três meses no ano de 1970.
Jaguar, nome sugerido pelo amigo cartunista Borjalo, nasceu no Rio de Janeiro em 29 de fevereiro de 1932, mas passou a infância entre as cidades de Juiz de Fora (MG) e Santos (SP). Começou a carreira desenhando na revista Manchete em 1952, aos 20 anos. Passou por jornais e revistas, produziu animações para a TV Globo, mas se notabilizou e se tornou referência no jornalismo brasileiro pela fundação do icônico jornal satírico O Pasquim em 1969, junto com Tarso de Castro e Sérgio Cabral, abrindo espaço para o trabalho incrível de nomes como Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis e Sérgio Augusto. Foi o único desta turma toda a permanecer n´O Pasquim até o fim da publicação ocorrida em 1991.
Mesmo não sendo um primor como desenhista, como reconhece o próprio artista, Jaguar soube como ninguém utilizar seus traços simples para expor suas críticas ácidas e agudas contra o sistema repressivo e seus algozes, sempre com incrível irreverência e um apurado senso de humor. E com muita cerveja, que como eu, ele gostava muito. Só não dá para comparar a quantidade ingerida e muito menos a capacidade inacreditável do sujeito de suportar incólume tamanha bebedeira com consciência e tranquilidade. Não à toa fizeram até poema para o seu fígado inigualável que aguentou firme até agora no fim da sua vida.
Jaguar deixa uma rica história de charges memoráveis, livros, ilustrações, tirinhas, caricaturas, alguns personagens célebres como o ratinho Sig, inspirado no Sigmund Freud, e um humor político e social afiado e corajoso, sem amarras e sem concessões a ninguém.
O autointitulado biriteiro Jaguar deixa a esposa, Célia Regina, e a filha, Flávia Savary, mas também um vazio no "cartunismo" brasileiro. E mais, deixa um exemplo contagiante da arte de viver a vida com alegria, bom humor e apreço pelos amigos e pela boemia.
Adoro essa sua declaração: "A Democracia é péssima para esse tipo de publicação. A gente esculhambava o Governo. E só a gente, né? A chamada "imprensa nanica". Depois que todo mundo pôde esculhambar o Governo, virou zona. A Democracia é a pior coisa para um jornal de humor e de sátira, do ponto de vista econômico".
Que descanse na mais completa paz! Duvido nada que chegando lá no Céu, vai dar um trabalho danado para Deus e todos os santos com seu humor ácido e livre.
Um grande abraço espinosense!

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