Ah, como a vida é boa! Como maravilhosa é a nossa existência, bênção divina, nosso maior tesouro presenteado pelo Criador! E não é? É sim, claro que sim! E devemos ter sempre gratidão pela dádiva do dom máximo recebido, agradecendo sempre a Deus pela vida, louca vida. Mas nem tudo na vida são flores. Também existem as dores, os perrengues, os problemas, a falta de grana, as enfermidades, as desavenças nos relacionamentos, as consequências de nossos atos equivocados, a dura realidade que nos força e nos estimula a seguir adiante, mesmo com todas as vicissitudes que teimam em aparecer pelo caminho terreno.
Mas agora, yes, nós temos a Internet. E nela, através das redes sociais, muitos de nós descobrimos que podemos engambelar o mundo facilmente, escamoteando ou metamorfoseando nossa verdadeira situação pessoal, familiar, amorosa, educacional, social, econômica, às vezes até a aparência física. Mentimos para todos, até para nós mesmos. E acreditamos fielmente nas nossas mentiras, o que é um caso a ser estudado pela NASA, por Harvard ou até pelo Zé Sabiá, o Sábio.
Nos espaços mágicos da Internet vimos gente comum, trabalhadora assalariada, profissional liberal ou pequena empreendedora, com rendimentos parcos ou medianos, apresentando-se como pseudomilionários, sempre em viagens de férias, tomando cerveja, whisky ou vinho nas montanhas, na beira do mar ou nas baladas dos mais chiques e sofisticados bares das cidades, com roupas caras e seus carrões. Essas figuras excêntricas nunca se mostram tristes ou preocupadas com absolutamente nada. Nas muitas postagens publicadas é só folga, alegria e diversão. E Deus, e Jesus Cristo, e família, e honestidade, e amor. Muito lindo, tudo. Pena que o trem não é bem assim na vida real. Falam de Deus e Jesus o tempo todo, mas detonam sem dó nem piedade, e sem qualquer remorso, os ensinamentos de Cristo listados na tábua dos 10 Mandamentos entregue a Moisés no Monte Sinai (Êxodo 20:1-17 e Deuteronômio 5:4-21). Idolatram homens e pátrias, usam descaradamente o nome de Deus em vão e para o mal na busca do poder, criam e espalham fake News em escala industrial, cultivam o ódio em seus corações, instigam a violência e têm completo desprezo pelos mais vulneráveis. Apresentam-se como cristãos, mas não escondem mais os seus deletérios rancores e preconceitos contra imigrantes, nordestinos, pretos, pobres e homossexuais. Chegam até a comemorar alegremente mortes alheias. Tentam se passar por indivíduos cultos e inteligentes, mas uma visualização um pouco mais acurada dos seus escritos e manifestações escancaram a enorme dificuldade de utilização da Língua Portuguesa e da precariedade quase absoluta no conhecimento da História.
São muitas essas figuras na Internet, de vários espécimes e estilos. Existem os picaretas que usam da astúcia e da lábia para praticarem golpes contra os incautos, quase sempre usando do nome de Deus ou prometendo maravilhas; existem os alpinistas sociais que precisam criar uma imagem de sucesso para progredirem na sociedade; existem os exibicionistas que adoram se vangloriar da fantasiosa condição de superioridade; e existem os que buscam desesperadamente a atenção, o enaltecimento e a validação alheia, na tentativa de preencherem seu vazio interior e curarem sua doentia carência afetiva e sua baixa autoestima, precisando mostrar aos demais que estão sempre bem e felizes, curtindo a vida em mar sereno e céu de brigadeiro.
Para criticar essa miscelânea de tipos estrambólicos e com sérios problemas de autoestima, a banda "Calangos da Gota Serena" fez uma canção intitulada "Eu Queria Ser Igual a Mim", uma crítica muitíssimo bem-humorada. Na música, composta por Alcides Júnior, os artistas tiram sarro dessas figuras que se mostram sempre abastadas, lindas, sorridentes e felizes na Internet, enquanto na vida real cotidiana a coisa é um tanto quanto diferente. E não precisa procurar muito, é só olharmos ao redor que isso é bastante comum, uma situação bastante peculiar nestes novos e conturbados tempos tecnológicos.
A banda "Calangos da Gota Serena" é da pequena cidade de São José de Piranhas, de pouco mais de 20 mil habitantes, no Sertão da Paraíba. Começou lá pelos idos anos de 2005, surgida da união de amigos que amam o Rock e que queriam apenas tocar por prazer, fazendo uma mistura bem-humorada do ritmo roqueiro com Baião, Pop, Brega e Cordel, sem amarras musicais. Agora formado por Alcides Rolim Júnior (guitarra e voz), Filipe Alves (violão e voz), Maurício Batista (bateria e voz) e Petrônio Ribeiro (baixo e voz), a banda conseguiu gravar o seu primeiro álbum através da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), este projeto maravilhoso que apoia e financia a cultura nacional.
Já dizia há muito tempo uma frase estampada num para-choque de caminhão: "De ilusão também se vive". Tal frase também é título de "um filme de comédia dramática de 1947 (no original "Miracle on 34th Street" ou "The Big Heart"), dirigido por George Seaton e estrelado por Maureen O'Hara e Edmund Gwenn. A história gira em torno de Kris Kringle, um idoso que se apresenta como o verdadeiro Papai Noel na loja Macy's durante as festividades natalinas". Quer assisti-lo gratuitamente? É só acessar esse endereço no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=XM7CHL9XQa8
Um grande abraço espinosense.
"EU QUERIA SER IGUAL A MIM"
Alcides Júnior
Eu queria ser igual a mim
Queria ser apenas como eu sou
Eu queria ser igual a mim
Queria ser apenas como eu sou
Eu queria ser bonito
Como nas fotos do Instagram
Queria ter muitos amigos
Seguidores e até fãs
Queria ter curtido mesmo
Todas as festas e viagens
Que fossem tão divertidas
Quanto mostro nas postagens
Queria ser inteligente
E também politizado
Dizer tudo que eu penso
Sem ter sido plagiado
Eu queria ser igual a mim
Queria ser apenas como eu sou
Eu queria ser igual a mim
Queria ser apenas como eu sou
Queria ter a autoestima
Que procuro demonstrar
E como no TikTok
Queria ser popular
Sei que o meu perfil
Minha vida não reflete
Queria que a realidade
Fosse igual à da Internet
Eu não estou preparado
Para uma vida real
Por isso vivo na ilusão
Desse mundo virtual
Eu queria ser igual a mim
Queria ser apenas como eu sou



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