Espinosa, meu éden

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domingo, 22 de dezembro de 2024

3632 - A beleza do Canal 100

A galerinha mais jovem talvez nunca tenha escutado falar sobre ele, o Canal 100, mas ele estará de volta aos holofotes muito em breve, após um louvável projeto da Cinemateca Brasileira de restauração de milhares de conteúdos do seu rico acervo. Serão recuperados cerca de 20 mil noticiários distribuídos em 8.044 latas de filmes de 35 milímetros.
Quem já é velhinho como eu certamente se lembrará com saudade das curtas peças cinematográficas do cinejornal Canal 100 que eram apresentadas antes do início da reprodução dos filmes nas telas dos cinemas nos bons tempos de outrora. Eram produções com imagem e som de boa qualidade de acontecimentos cotidianos da época, exibidos entre os anos de 1959 a 1986, especialmente de confrontos futebolísticos entre grandes clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, alguns narrados pelo famoso locutor Cid Moreira, que por muito tempo foi apresentador do Jornal Nacional da TV Globo ao lado de Sérgio Chapelin.
O Canal 100 foi criado em 1957 pelo produtor cinematográfico carioca Carlos Niemeyer. Ele se destacou grandemente por mostrar cenas da atualidade à época e imagens extraordinariamente belas e avançadas, sobretudo dos clássicos do futebol de São Paulo e Rio, frutos da criatividade do cinegrafista Francisco Torturra, que focava suas lentes em close nos rostos de jogadores e torcedores, captando com exatidão e autenticidade suas expressões e sentimentos durante as partidas. Era uma coisa nova, uma verdadeira revolução audiovisual do Torturra, que com sua moderna teleobjetiva, utilizava-se com maestria da câmera lenta para mostrar a revolta do goleiro que levou um gol, a comemoração eufórica do artilheiro, o nervosismo do treinador no banco e as figuras extravagantes nas arquibancadas e gerais com seus radinhos de pilhas, suas bocas desdentadas e suas reações hilárias às jogadas executadas pelos muitos craques nos gramados.
O Canal 100 mostrava outras coisas, como fragmentos de shows musicais, da campanha das Diretas Já e da inauguração de Brasília, mas o foco principal e o mais amado pelos espectadores era mesmo o futebol. Quando as luzes se apagavam indicando que a tela grande iria se iluminar, a gente já ficava alerta e feliz aguardando as belas imagens e a locução bonita da magia do futebol captada com toda excelência. A música tema jamais será esquecida: "Na Cadência do Samba", mais conhecida por "Que Bonito É", canção composta em 1956 por Luiz Bandeira, na versão de Waldir Calmon e Seu Conjunto. Essa melodia até hoje encanta nossos ouvidos cansados, mas infelizmente, deixou de ser escutada nos cinemas no ano de 1986, com o fim da obrigatoriedade de exibição de cinejornais antes dos filmes.
O projeto de recuperação, catalogação e digitalização do rico acervo da Cinemateca Brasileira começou em 2011, teve uma pausa e agora pretende se estender até 2026, com orçamento de R$ 22 milhões, reunindo recursos dos governos federal e estadual e patrocínio de empresas privadas como Instituto Cultural Vale, Shell e Itaú, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Vou aguardar com ansiedade a liberação de parte deste magnífico acervo que tanto me encantou na infância e juventude, para rever belas e maravilhosas cenas de um passado glorioso e romântico do nosso futebol brasileiro.
Um grande abraço espinosense.


  

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