Neste nosso muito injusto, hipócrita e louco mundo, é preciso divagar bem devagar, para não perder a paciência, a serenidade, a esperança e a lucidez. E devagarinho, divagando sorrateiramente por aí, fiquei feliz em ver mais uma excelente produção cinematográfica brasileira finalmente chegando às telas dos cinemas dos shoppings das grandes cidades, inclusive em MOC Hell City, como alguns a chamam por conta do calor infernal que se abate quase sempre sobre nós, seus habitantes.
Entrou em cartaz no Ibicinema do Shopping Ibituruna o filme "Ainda Estou Aqui", fita baseada no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva, que conta a história real de sua família massacrada pela violência e crueldade da maldita ditadura militar que durou longos e odiosos 21 anos no Brasil, assassinando 434 cidadãos e fazendo desaparecer outros 210, ainda não encontrados. A produção, que é dirigida pelo cineasta Walter Salles com roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega, será o representante brasileiro nas premiações do Oscar 2025 na categoria "Melhor Filme Internacional", indicado pela Academia Brasileira de Cinema.
Com a participação de grandes atores e atrizes como Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Montenegro, Marjorie Estiano, Valentina Herszage, Humberto Carrão, Dan Stulbach, Camila Márdila, Maeve Jinkings e Daniel Dantas, o filme mostra com delicadeza, mas com contundência e sem subterfúgios o desaparecimento do então deputado cassado pela ditadura Rubens Beyrodt Paiva, casado com Dona Eunice Paiva e pai de quatro filhas e um filho, com suas duras consequências para a sobrevivência emocional da família. A história se estende até os momentos finais de Dona Eunice, já atacada pelo Alzheimer, após anos e anos de luta incansável em busca do corpo do marido e da conquista do seu atestado de óbito.
A produção foi premiada com o Prêmio do Público no Festival Internacional de Vancouver e Prêmio do Público de Melhor Filme de Ficção Brasileiro na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Mas a consagração veio no Festival de Veneza, quando o longa-metragem foi premiado como Melhor Roteiro, sendo ovacionado pelo público presente.
Assisti ontem ao filme e me emocionei muito, a ponto de as lágrimas rolarem furtivamente na minha face. Como cristão verdadeiro, seguidor dos ensinamentos de Paz e Amor de Jesus Cristo, jamais me sentirei bem diante da injustiça, do ódio, da violência, da arrogância, da hipocrisia, da guerra antiética e inescrupulosa pelo poder. Não bastaram a esses canalhas covardes e desumanos assassinarem alguém correto e inocente sob a pesada selvageria da tortura. Eles ainda impossibilitaram à esposa, filhos e demais familiares o direito de dar, ao seu ente querido, um sepultamento simples e digno. Já que os assassinos e seus mandantes nunca foram punidos pela Justiça dos homens, que apodreçam no fogo do inferno, após a Justiça divina!
Um grande abraço espinosense.
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