No início deste mês de julho tive a oportunidade e o prazer de retornar às minhas raízes e rever a minha amada e agora centenária Espinosa, felizmente com um tiquinho mais de tempo livre. Nas duas vezes anteriores em que lá estive, não pude fazer o que mais gosto, sair andando pela cidade inteira, a pé ou de carro, observando a paisagem, reencontrando pessoas queridas e prestando bastante atenção nas irreversíveis mudanças no cenário da cidade, este ser vivo que sofre a ação do tempo e das transformações assim como nós, humanos, em um processo de metamorfose que oscila entre a bendita evolução e o amargo retrocesso.
Na primeira visita a Espinosa, recheada de alegria, os vários eventos da linda comemoração do nosso Centenário preencheram completamente o meu tempo, não sobrando espaço para os passeios pela cidade. Na segunda e rápida e curta viagem de um dia apenas, a razão era a mais triste e dolorosa possível, a de me despedir de uma pessoa especial que amo tanto, minha querida Tia Lia que considero como minha segunda mãe.
Desta vez a viagem foi mais descompromissada. E com o tempo frio, novidade em julho. Aproveitando a presença do sobrinho Juninho e de sua família em viagem pela cidade, vindo de seu agora domicílio Atibaia (SP), estivemos lá reencontrando alguns familiares e amigos, infelizmente não todos que eu gostaria.
Como sempre, saí vagabundeando pelas ruas do Centro, como também dos bairros e da periferia, observando tudo. Não fui a alguns apreciados lugares que rotineiramente gosto de ir ver, como o Rio Verde Pequeno, a Barragem do Estreito e os Açudes de Clóvis e do Mingu. Mas rodei pela cidade e, como sempre acontece, encantei-me com coisas boas e decepcionei-me com coisas ruins.
Pelo lado desalentador, vi a velha casa de Geraldo Anacleto Rodrigues na Praça Coronel Heitor Antunes e a antiga Estação Ferroviária sofrendo os efeitos do tempo e do abandono, sem que os proprietários desses imóveis cuidem e façam a devida manutenção das suas instalações ou doem para o poder público municipal para uma reforma e o uso em alguma atividade social ou cultural em benefício da população. Também vi com tristeza a construção de uma unidade do projeto ProInfância completamente parada há tempos entre as ruas Veríssimo Cruz e Crispim Vieira, ao lado da Unidade Básica de Saúde Nelson Alves da Cruz, no Bairro Cidade Nova, onde havia um campo de futebol antigamente. Desconheço completamente a razão da estagnação da construção da obra que já dura um bom tempo, mas imagino que seja por simples falta de verba governamental, o que é lamentável. Deixou-me entristecido também observar, em estado de letargia, a construção no local da Rua da Resina que um dia abrigou o velho casarão onde viveu por longos anos a minha avó Madrinha Judith e o Tio Luizão.
Outro fato que me entristeceu e indignou é a inaceitável demora no início do funcionamento da Escola Técnica, projeto maravilhoso do Governo Federal em parceria com o estado de Minas Gerais e a Prefeitura de Espinosa. Pelo que tenho conhecimento, pelo projeto original, o Governo Federal ficaria responsável pela construção do prédio, o que foi cumprido rigorosamente. O município entraria com os funcionários para a realização da obra e a pavimentação da avenida até a porta da escola, o que foi feito conforme combinado. Infelizmente a única parte que não cumpriu até o momento o combinado no projeto foi o Governo Estadual, que é o responsável pelas partes educacionais e operacionais do projeto, cedendo os professores e o processo pedagógico. Com a saída do corpo docente da Unimontes do projeto, agora estuda-se a possibilidade de a Escola Estadual Betânia Tolentino Silveira assumir, não só as instalações físicas, como também o processo de formação técnica dos futuros alunos. Só espero que ideia tão maravilhosa e primordial não seja sepultada por falta de interesse e ação das autoridades educacionais, legislativas e executivas mineiras. A Escola Técnica será de suma importância para a educação e o direcionamento profissional de centenas de possíveis estudantes da cidade de Espinosa e das regiões Norte de Minas e Sudoeste da Bahia. Aqui neste ponto, vai um recado aos fanáticos político-partidários. Antes que algum espertinho antiético e inescrupuloso possa usar essas minhas observações críticas na disputa eleitoral municipal que se aproxima, deixo bem claro e explícito que meu julgamento não acusa a administração atual nem as anteriores, mas tão somente os verdadeiros responsáveis pelo estado repreensível das coisas e dos fatos.
Lamento também um fato verificado na AABB de Espinosa. Infelizmente, a quadra de futebol de salão parece estar largada às moscas, já que a garotada parece ter abandonado a prática do futsal, ficando para trás apenas as ótimas lembranças de um tempo bom em que grandes jogadores desfilavam seu talento nas quadras da cidade em competições de alto nível de qualidade técnica e competitividade, atraindo a atenção e presença de vários torcedores nos clubes abebeano e da Toca dos Craques.
Para quem reside fora e visita Espinosa de tempos em tempos, a percepção da realidade e da transformação do panorama da cidade é bem maior que a dos que lá moram. Fiquei extremamente contente com o desenvolvimento industrial e comercial da cidade, com um aumento gigante na criação de novas empresas, a maioria com instalações modernas, belas e aconchegantes. A grande quantidade de confecções garante empregos formais e uma economia aquecida, o que se reflete na vida de toda a comunidade, pois o dinheiro circula na cidade gerando mais e mais negócios, ocupações, empreendimentos e uma melhor qualidade de vida. É muito bom ver empresários de sucesso investindo mais e mais nas suas empresas, diversificando e ampliando seus negócios, faturando alto, com todo merecimento. Não à toa as ruas da cidade estão repletas de automóveis, utilitários e picapes de última geração e de alto valor. E os demais micro e pequenos empresários, trabalhadores de classe média, e os empregados assalariados, também se mostram com um bom poder aquisitivo, edificando suas belas casas, adquirindo seus modernos carros e construindo seus aprazíveis sítios na zona rural para um agradável descanso com familiares e amigos nos finais de semana nas proximidades das barragens, com muita música, cerveja e churrasco. Ô trem bom, sô!
Pude constatar várias excelentes novidades no cenário urbano, com as reformas ainda inacabadas das praças da Matriz (Coronel Joaquim Tolentino), da Meteorologia (Geraldo Ramos de Oliveira) e de Florival Rocha (Antônio Sepúlveda). Estão ficando muito bonitas, com muitas árvores plantadas, o que é edificante. Gostei de ver, em processo de construção, o campinho em um espaço do antigo "Campo de Avião" para a turminha de meninos comandada pelo grande desportista André. Gostei também da nova opção de quadra de futebol society no Condomínio de Dr. Heron, com barzinho e espaço para eventos, bem como das novas, amplas e modernas instalações do novo Fórum e do campus da nova faculdade na cidade, Favenorte. E me surpreendi positivamente com a imagem limpa do famoso "Corte" da estrada de ferro na Avenida Raimundo Tolentino, com a derrubada do mato que escondia as rochas que cercam os trilhos. E fui pela primeira vez visitar o "Shopping" da cidade, como alguns chamam debochadamente a filial do Supermercado BH do novo proprietário do Cruzeiro, o milionário Pedrinho Lourenço. Curti também a modificação realizada e o novo recapeamento do asfalto na Avenida Maria José de Souza, arrancando o canteiro central até o trevo de saída para a Bahia, o que definitivamente consertou uma ideia totalmente equivocada colocada em prática anteriormente. Agora sim ficou legal.
Como espinosense apaixonado pela minha terra natal, gostaria muito de ver tudo funcionando perfeitamente na cidade, mas obviamente isto é impossível, pela imensidade dos problemas e pela inexistência de recursos suficientes para uma revolução na nossa infraestrutura urbana e rural. Tivemos grandes avanços, mas ainda há muito o que fazer para deixar a cidade cada vez mais moderna, bonita e agradável de se passear e viver. Que continuemos todos os que amam nossa cidade, cuidando e melhorando os pisos das ruas e avenidas, mantendo bem cuidados os jardins e árvores das praças, preservando os nossos rios e lagoas, mantendo as nossas tradições culturais e trabalhando pela melhor qualidade de vida do nosso povo mais humilde e necessitado.
O melhor de visitar a minha Espinosa é reencontrar pessoas queridas, coisa que não tem preço. Uma ida ao Mercado Municipal, local onde antigamente joguei bola e pulei Carnaval, é compromisso inadiável e prazeroso. E um passeio pela minha amada Rua da Resina é uma satisfação incrível, ao rememorar uma infância e adolescência repleta de encantadores e maravilhosos momentos. Pena que não quis incomodar pessoas queridas em visitas na hora do almoço, adiando o reencontro para outra oportunidade, se o bom Deus permitir.
Os espinosenses sempre se encontram por aí nesse mundão de Deus com um sorriso na face e o amor pela música e pela centenária terra natal Espinosa |
Eu sou um sonhador, assim como meu saudoso Tio Luizão. Tivesse eu inteligência, disposição, dinheiro e competência, além é claro da posse temporária e democrática da cadeira de prefeito, construiria em Espinosa um parque municipal com milhares de árvores e plantas ornamentais, bancos de madeira, banheiros públicos, obras de arte, lago, pista de caminhada, pista de skate e palco para apresentações culturais e exibição de filmes. Em conjunto com a sociedade e as instituições locais, criaria uma marca a ser trabalhada do que a cidade tem de melhor. Algo assim como Salinas fez, tornando-se a "Terra da Cachaça". Talvez focando em algo como "A Cidade das Confecções", realizando feiras, congressos, festivais e mostras para envolver e divertir a população e atrair turistas e investimentos externos que só fariam aumentar as oportunidades de trabalho e a economia local. Construiria um ginásio poliesportivo amplo, moderno e com espaço e infraestrutura para incentivar e direcionar as crianças e adolescentes à prática dos mais variados esportes. Faria uma reforma geral no nosso Estádio Caldeirão, com troca completa do gramado, alambrado e vestiários, ampliando as arquibancadas e reflorestando a área livre. Arborizaria completamente, em grande quantidade, os locais livres e abertos da cidade com as mais belas árvores, dando preferência a umbuzeiros, juazeiros, gameleiras e abacateiros, fazendo da cidade uma das mais arborizadas do mundo.
Construiria, no sopé do Morro do Cruzeiro, utilizando o terreno íngreme, uma arena larga e moderna para receber o público em apresentações artísticas. Também no Morro do Cruzeiro, mandaria instalar um sistema funicular ou um teleférico para que pessoas idosas, deficientes ou apenas preguiçosas possam chegar até o topo para participar das orações diante da cruz nas sextas-feiras santas. E, contrariando, enfurecendo e revoltando os cruzeirenses, rebatizaria o morro de Atlético.
Faria um investimento significativo na infraestrutura das margens do Rio Verde Pequeno nas proximidades da divisa com a Bahia, construindo um pequeno açude, quiosques, espaços para a prática de esportes e de estacionamento, tudo cercado com milhares de árvores plantadas, incluindo uma pista para caminhada e ciclismo que iria da cidade até lá, tornando o local um cartão-postal e de lazer gratuito para a nossa população. E por fim, colocaria em prática uma revitalização gigantesca e abrangente dos nossos três rios, recuperando-os e tornando-os em vários locais dos seus leitos, recantos turísticos para habitantes e visitantes da cidade, sempre com a devida proteção do Meio Ambiente.
Eu sei, cara-pálida, estou sonhando, viajando no mundo da Lua, na maionese, com tanta ideia totalmente distante da realidade e nenhuma grana disponível. Mas sonhar é bom, não causa nenhum mal e ainda é grátis. Então por que não sonhar?
Um grande abraço espinosense.
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