Em pleno mês de agosto, tradicionalmente o mês da seca, do calor, das queimadas e dos cachorros loucos, a Natureza mostrou sua maravilhosa imprevisibilidade trazendo uma chuva redentora aos Montes Claros do Sertão das Minas Gerais. E quem também apareceu para alegrar, agitar e emocionar o público aficionado pela boa música brasileira foi o grande senhor de 73 anos nascido na pequena e pacata cidade de Brejo do Cruz, batizado como José Ramalho Neto e celebrado universalmente como o poeta e cantador Zé Ramalho da Paraíba. A promoção do show que lotou as mesas e a pista do estacionamento da AABB Montes Claros foi da Jackson Martins Produções e Eventos.
Até o universo conspirou favoravelmente para que a abençoada chuva desse uma trégua para que tivéssemos, eu pela quarta vez, o prazer e contentamento de assistir a uma apresentação de um dos mais talentosos, importantes e celebrados artistas da nossa rica música brasileira. E Zé não decepcionou, como sempre, com a longa parceria com a Banda Z, formada por Rogério Fernandes (contrabaixo), Zé Gomes (percussão), Vladimir Souza (teclados), Edu Constant (bateria) e Toti Cavalcanti (sopros).
Logo de cara, na primeira música, Zé Ramalho mandou um petardo sutil mas nada silencioso contra a maldita ditadura apreciada por tantos ignorantes e estúpidos reacionários. Os versos cortantes de Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o cantor e compositor Geraldo Vandré, ecoaram pelos ares noturnos de Montes Claros, infelizmente sem percepção alguma do sentido das frases por muitos desinformados ou inscientes presentes: "Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer, há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos, de armas na mão, nos quartéis lhes ensinam, uma antiga lição, de morrer pela pátria e viver sem razão". Depois veio em seguida uma fieira formidável de grandes e eternos sucessos da longa e vitoriosa carreira do artista nordestino: "Beira-Mar", "Entre a Serpente e a Estrela", "Táxi Lunar", "Avôhai", "Vila do Sossego", "Admirável Gado Novo", "Chão de Giz" e muitos mais clássicos do cancioneiro nacional. Também houve espaço para duas músicas do saudoso "Maluco Beleza" Raul Seixas, "Gita" e "Medo da Chuva", e a canção "Cidadão", clássico da autoria do compositor Lúcio Barbosa, eternizada pelo cantor mineiro Zé Geraldo, que narra em seus versos a nefasta injustiça social que castiga os trabalhadores brasileiros. E não faltou uma homenagem aos Gonzagas, Gonzagão e Gonzaguinha, com a interpretação da música "Vida de Viajante" no bis da despedida, sob os aplausos entusiasmados da plateia.
Após a apresentação pulsante e segura do menestrel Zé Ramalho, subiu ao palco a DJ Érika Luz, com clássicos da música em ritmo eletrônico. Logo em seguida começou a apresentação da ótima banda Vladwostock, formada pelos músicos Vladmir Ribeiro (guitarra e vocal), Fabrício Júneo Pereira Lopes (baixo) e Fred Fabiano Alves (bateria). Logo na primeira canção tocada, um legítimo Rock and Roll, gotas de chuva começaram a cair no local do show, o que nos forçou, infelizmente, a sairmos apressados com medo de ficarmos encharcados. Uma pena!
É gratificante ver grandes artistas brasileiros lotando shows na nossa cidade, reafirmando que boas produções são muito bem vindas e que o público sempre as prestigia. É justo elogiar a organização do evento, com local bem sinalizado, seguranças gentis e prestativos, atendentes super simpáticos, cerveja gelada e bom comportamento da plateia, no geral. Como fato negativo, a ocorrência isolada de um problema na mesa de som durante a execução da música "Cidadão", logo solucionado.
Set List do show:
01 – "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" - Geraldo (Vandré) Pedrosa de Araújo Dias
02 – "Galope Rasante" - José Ramalho Neto
03 – "Cidadão" - Lúcio Barbosa
04 – "Beira-Mar" - José Ramalho Neto e Lula Cortes
05 – "Entre a Serpente e a Estrela" - Aldir Blanc Mendes, Paul Fraser e Terry Sttaford
06 – "Táxi Lunar" - José Ramalho Neto, Geraldo Azevedo e Alceu Valença
07 – "A Terceira Lâmina" - José Ramalho Neto
08 – "Banquete dos Signos" - José Ramalho Neto
09 – "Eternas Ondas" - José Ramalho Neto
10 – "Avôhai" - José Ramalho Neto
11 – "Vila do Sossego" - José Ramalho Neto
12 – "Chão de Giz" - José Ramalho Neto
13 – "Garoto de Aluguel" ("Táxi Boy") - José Ramalho Neto
14 – "Admirável Gado Novo" - José Ramalho Neto
15 – "Gita" - Paulo Coelho Souza e Raul Santos Seixas
16 – "Medo da Chuva" - Paulo Coelho Souza e Raul Santos Seixas
17 – "Frevo Mulher" - José Ramalho Neto
18 – "Sinônimos" - Cesar Augusto, Paulo Sérgio Valle e Claudio Noam
19 – "Vida de Viajante" - Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil
Foi porreta e maravilhoso eu poder ter mais uma vez o privilégio, o prazer e a alegria de assistir a mais um espetáculo do grande Zé Ramalho, um dos gigantes artistas da nossa Música Popular Brasileira. O criativo músico paraibano ainda consegue manter, aos 73 anos de idade, a vitalidade, a qualidade e a potência de uma das mais poderosas e bonitas vozes do cenário musical do país. Com seu carisma e sua força interpretativa, Zé Ramalho da Paraíba me encantou mais uma vez, o que me obriga a agradecer aos céus por mais esta dádiva de vê-lo cantar ao vivo canções que marcaram profundamente minha já longa vida. Foram muitas, mas especialmente a música "Frevo Mulher" trouxe-me as mais saborosas lembranças dos velhos Carnavais da minha Espinosa, sempre tocada com entusiasmo e vibração pelos eternos Os Cardeais.
Engraçado que alguém me disse, não me recordo quem, que não iria ao show do Zé Ramalho porque já havia assistido shows anteriores dele. Matutei: "E daí, cara pálida?". Se nunca me canso de ir repetidamente ver tocar nos barzinhos de Montes Claros os bons músicos da cidade, porque deixaria de ir assistir aos meus ídolos da música quando surgir a oportunidade? Queria eu ter a bastante saúde, grana, coragem e ânimo para assistir a todos os shows dos grandes artistas que admiro e adoro. Ah, se eu pudesse assistir, toda semana, a todos os shows dos Beatles, do Queen, do Supertramp, do Yes, do Genesis, do Pink Floyd, do Pearl Jam, do U2, do Coldplay, do Chico Buarque, do Chico César, do Zeca Baleiro, da Cássia Eller, da Legião Urbana, do Cazuza, do Caetano, da Gal, do Gil, do Fagner, do Bituca, do Belchior, do Paulinho da Viola etc etc etc.
Coisa boa e gostosa, como a música de qualidade, nunca me deixará enfastiado, assim como a cocada de Izaura de Filuca, o sarapatel de Ninha de João, o pastel de Zulma, o frango recheado de Tia Lia, o mocotó de Varisco, o pirão de Chico da Santana e a cerveja estupidamente gelada de Zade. Será que ainda haverá quem discorda?
Um grande abraço espinosense.