Uma das coisas mais gostosas do nosso Brasil são as festas populares espalhadas por todo o ano. De janeiro a dezembro, sempre haverá espaço para que, nós brasileiros dos mais variados gostos e preferências, tenhamos a oportunidade de pular, dançar, confraternizar e nos divertir com bebidas, comidas e muita música nas festanças culturais locais. Tem quem goste mais do Carnaval. Tem quem aprecie bastante o São João. E tem quem preza as festas natalinas em companhia da família. A verdade é que há festas e comemorações para todo mundo ser feliz na vida, dentro das suas convicções e predileções pessoais.
O que incomoda e desagrada alguns sujeitos como eu, conservadores amantes das festas populares na sua essência, é o desvirtuamento quase total das raízes culturais seculares de tais festejos. A deturpação das tradições ocorre em vários aspectos das festividades, algumas delas até aceitáveis, por conta da evolução do mundo e da sociedade, mas o que ocorre com a parte musical é mais uma devastação cultural causada pelo ambíguo bendito e maldito dinheiro. Houve tempo, e bom tempo, em que ouvíamos, nas datas festivas, apenas músicas completamente identificadas com as suas raízes culturais. Por exemplo, desde o início do mês de dezembro, nas proximidades da chegada do Natal, aniversário de nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, antigamente ouvíamos por todo canto as músicas natalinas tradicionais como "Noite Feliz", "Boas Festas", "Natal das Crianças", "O Velhinho", "Jingle Bell", "Happy Xmas (War is Over)" etc. Nos maravilhosos Carnavais da minha juventude, namorávamos, bebíamos, dançávamos e pulávamos até o amanhecer ao som das tradicionais Marchinhas carnavalescas e com as músicas admiravelmente pulsantes e energéticas dos artistas baianos como o grande e saudoso Moraes Moreira, sempre interpretadas pelos nossos inesquecíveis "Os Cardeais". Depois houve a tsunâmica invasão do Axé baiano de Luiz Caldas, Ivete Sangalo, Daniela Mercury e cia, transformando tudo. Até aí, tudo bem, se houvesse boa convivência e espaço justo para todas as vertentes musicais e seus respectivos artistas nos ambientes de produção e execução musical.
Mas o que acontece com o São João, festa identificada profundamente com o maravilhoso Forró do Sertão Nordestino, é revoltante, condenável e inaceitável. Já não bastasse o domínio quase que completo das rádios pela patifaria econômica do "jabá", eis que "a força da grana que ergue e destrói coisas belas" (Sampa - Caetano Veloso) agora nos enfia na marra, goela abaixo, os badalados astros sertanejos na mais brasileira de todas as manifestações populares. Os artistas genuinamente ligados à música nordestina são preteridos em favor das celebridades da música romântica, sem qualquer ligação com as raízes forrozeiras do país. Até se entende e se aceita uma modernização dos grupos de Forró, que nos primórdios se utilizavam apenas da sanfona, do triângulo e da zabumba, mas é um absurdo e uma sacanagem diminuir o espaço dos reais representantes do nosso excelente, querido e gostoso Forró Pé-de-Serra. Eita, oxente, cabra enxerido da gota serena! Sêo Luiz Gonzaga (1912–1989), Jackson do Pandeiro (1919–1982), Dominguinhos (1941–2013), Sivuca (1930–2006) e Marinês (1935–2007) devem estar se revoltando com isso lá no além, com esta patuscada toda.
Nada contra os demais artistas de outras vertentes musicais, mas se eu vou em um show de Rock and Roll, eu não vou querer escutar Funk, Bolero, Sertanejo ou Forró. Cada qual com seu cada qual, já dizia o filósofo. Natal é tempo de música natalina, com foco na Paz e no Amor do aniversariante Jesus. Carnaval é tempo de Marchinha, de Axé e de Frevo, com batuque e ritmo contagiantes. Feira Agropecuária e Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos é palco para os shows dos sertanejos, universitários ou não. Festival de Rock, seja no Rio, em Bodocó ou em Maceió, é espaço para os nossos ídolos roqueiros nos colocarem para divertir enlouquecidamente. E espetáculo de MPB ou Bossa Nova é oportunidade para nos transportar para o paraíso através das melodias sublimes e letras aprazíveis. E o São João e as festas juninas? Elas nos transportam ao prazer de nos reconectar com as nossas origens genuinamente brasileiras cultivadas no interior do país, não nos deixando esquecer dos ritos, costumes nem dos sabores que tanta alegria nos deram no passado. Então, pelo amor de Deus, nada de sacanear com o nosso balançante, arrebatador e pai d'égua Forró Pé-de-Serra!
Um grande abraço espinosense.
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