A Internet, criada apenas como uma rede privada e controlada para interligar laboratórios de pesquisa científica em uma rede de comunicação de computadores com a intenção de descentralizar informações valiosas dos órgãos militares dos Estados Unidos, quebrou as barreiras e se espalhou irrefreavelmente pelo mundo, tornando-se espaço amplo e disponível à população em geral para a fácil disseminação tanto do bem quanto do mal.
Neste sentido, em que a rede mundial de computadores, hoje tão imprescindível para o mundo, é usada da forma mais prejudicial possível, os estragos a cada dia se tornam mais terríveis para a população, sobretudo pela disseminação sistemática de notícias inverídicas, pelas constantes deturpações dos fatos, pelos ataques raivosos e avassaladores contra reputações alheias e pela incrível negação da realidade pelos fanáticos e radicais extremistas. Um exemplo bastante límpido e atual de um desses absurdos é a rejeição, por uma parte da população, da vacinação contra doenças letais. Outro exemplo é a negação dos efeitos catastróficos do aquecimento global para o Meio Ambiente e para a vida no planeta.
Como uma sátira inteligente e super bem-humorada sobre esta dificuldade inacreditável de parte da população em aceitar a realidade dos fatos, o filme "Don´t Look Up" ("Não Olhe Para Cima") está despertando a atenção do mundo e, quem sabe, poderá provocar uma boa e necessária reflexão sobre a busca e receptividade da verdade nesses tempos sombrios em que vivemos. Disponível na Netflix, o filme está fazendo um sucesso danado, tornando-se o mais visto no momento no Brasil, desde a estreia na plataforma de streaming, ocorrida em 24 de dezembro de 2021.
O elenco da produção dirigida por Adam McKay é estelar, com as presenças de alguns ícones do cinema como Jennifer Lawrence (Kate Dibiasky), Leonardo DiCaprio (Randall Mindy), Meryl Streep (Presidente dos EUA Janie Orlean), Jonah Hill (Jason Orlean), Cate Blanchett (Brie Evantee), Rob Morgan (Dr. Clayton "Teddy" Oglethorpe), Mark Rylance (Peter Isherwell), Timothée Chalamet (Quentin), Kid Cudi (DJ Chello), Ariana Grande (Riley Bina), Himesh Patel (Phillip), Michael Chiklis (Dan Pawketty), Tomer Sisley (Adul Grelio), Tyler Perry (Jack Bremmer), Melanie Lynskey (June) e Ron Perlman (Coronel Ben Drask). O diretor escreveu o roteiro ainda antes da pandemia do novo coronavírus, mas a história não poderia ser mais adequada ao momento atual, em que malucos inconsequentes e desmiolados, sem o menor constrangimento, rechaçam a Ciência e suas descobertas realizadas após profundas pesquisas. Basicamente, o filme mostra que a descoberta científica, feita por uma jovem estudante prestes a se formar na universidade, de uma previsão cataclísmica de um grande meteoro vir a se chocar com a Terra em pouco mais de 6 meses, vira um espetáculo funesto na mídia e nas redes sociais, com total desprezo das autoridades na aceitação do fato e nas providências a serem tomadas na defesa do planeta e da vida. Pessoas insipientes levam a iminente tragédia mundial na brincadeira, transformando fatos em "memes", enquanto partes da mídia dão mais importância à separação de um casal de celebridades "influencers" e políticos se mostram mais preocupados com seus ganhos políticos à véspera de eleições. Já os excêntricos bilionários, que vivem em um mundo totalmente distinto da maioria absoluta da população, acreditam que podem comprar tudo, inclusive a vida em outro planeta, livres para usufruir da sua imensurável fortuna, passando por cima de tudo e de todos com sua desmedida ganância. É o fatídico caos anunciado e desvairadamente desconsiderado por interesses individualistas. É ficção, mas poderia não ser, vista a situação atual tão nonsense.
Uma das mais tristes constatações no panorama geral da Humanidade é que a maioria das pessoas não refletem sobre a realidade, até mesmo sobre suas próprias vidas e trajetórias, acreditando que possuem todo o tempo do mundo e que nada de ruim irá acontecer a elas ou a seus familiares. Só que o destino é implacável e ele sempre aparece para nos chacoalhar, e nem sempre da forma mais branda. Não é raro gente trabalhando na abertura do próprio buraco, acreditando, apoiando e realizando atitudes que só o prejudicam, mas o fanatismo e o radicalismo exacerbados não o permitem abrir os olhos e encarar a realidade. Assim é cada vez mais primordial que o ser humano saiba usar como nunca o cérebro para pensar, refletir, raciocinar, meditar, ruminar, enfim, matutar em demasia e sem moderação. E não só! Que reveja seus conceitos retrógrados e perversos e modifique suas atitudes o quanto antes. Mais que olhar para cima, é preciso antes abrir os olhos, a mente e o coração para o bem e o amor verdadeiro.
Que assim seja!
Um grande abraço espinosense.
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