Ouso afirmar, mesmo sem nenhum estudo específico, ressalte-se, que é quase impossível que um brasileiro comum não conheça sequer um cidadão de nome Francisco, ou Francisca, ou que seja chamado carinhosamente por todos como Chico ou Chica, ou Chiquinho ou Chiquinha, ou Chiquito ou Chiquita. Eu conheço alguns desses e tenho o privilégio de usufruir das suas amizades, além de outros por quem tenho imensa admiração pelas suas trajetórias incríveis nas mais diversas áreas do saber.
O IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, instituição de enorme relevância e prestígio no país, criou uma ferramenta denominada "Projeto Nomes do Brasil" que permite acesso a um banco de dados com mais de 130 mil nomes diferentes, usando como base o Censo de 2010 que contabilizou 200 milhões de brasileiros. Foi lá que descobri que existem no Brasil nada menos que 1.772.197 pessoas registradas com o nome Francisco (a), estando na sexta posição nacional, atrás apenas de Maria (11.734.129 pessoas), José (5.754.529), Ana (3.089.858), João (2.984.119) e Antônio (2.576.348).
Quem não conhece um Chico sequer?
Para iniciar esse assunto, vou falar sobre um personagem, não humano, bastante famoso no país, o Velho Chico. O importantíssimo Rio São Francisco, o Rio da Integração Nacional, passa por cinco estados e 521 municípios brasileiros, tendo sua nascente geográfica no município de Medeiros e sua nascente histórica na Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, Centro-Oeste de Minas Gerais. O Velho Chico sai de Minas, passa por Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, onde deságua no Oceano Atlântico, correndo em seus 2.863 quilômetros de comprimento com incrível beleza.
Chico é o nome de uma cidade localizada na região Norte do estado americano da Califórnia, no Condado de Butte. Foi fundada no ano de 1860 por John Bidwell e incorporada em 8 de janeiro de 1872. Com uma população de 86.187 habitantes, a cidade conta com uma universidade, a California State University.
Chico também é uma cidadezinha localizada no estado norte-americano do Texas, no Condado de Wise, com uma população de apenas 1.152 habitantes.
Na música, temos grandes Chicos. O maior deles, o Chico Buarque, o genial cantor, compositor, escritor e dramaturgo nascido no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944, batizado de Francisco Buarque de Hollanda, e que construiu, com seu talento extraordinário, uma obra magnífica na música, no teatro e na literatura.
Outro Chico famoso e reconhecido pelo seu talento é o Chico Science. Na verdade, o Francisco de Assis França, nascido aos 13 de março de 1966 em Olinda, Pernambuco. Músico criativo, o jovem foi um dos ícones do movimento Manguebeat, criado em meados da década de 1990. Morreu precocemente aos 30 anos de idade, em um acidente automobilístico, deixando dois álbuns elogiadíssimos para a posteridade, realizados e gravados com a banda Nação Zumbi.
Outro Chico gigante é o Francisco César Gonçalves, paraibano de Catolé do Rocha, nascido aos 26 de janeiro de 1964, conhecido por seu nome artístico de Chico César. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, Chico César trabalhou na política, no jornalismo e na literatura, mas se tornou famoso e realizado mesmo por seu imenso talento na arte de compor e cantar lindas canções.
Outro Chico musical é o jovem filho da grande cantora Cássia Eller, Francisco Ribeiro Eller, ou Chico Chico, seu nome artístico. Nascido no Rio em 28 de agosto de 1993, o jovem cantor e compositor ainda está no início da sua carreira musical, onde ainda deverá mostrar muito do seu talento herdado da mamãe supertalentosa.
Em vários outros territórios, da arte, da fé, da política, da luta pela Natureza e até do crime, também existem outros Chicos, como um professor e historiador carioca que entrou para a política, elegendo-se vereador, deputado estadual e federal, sempre defendendo a Democracia e seus ideais de Justiça. Trata-se de Francisco Rodrigues de Alencar Filho, o Chico Alencar, carioca nascido aos 19 de outubro de 1949.
Na área da criminalidade, um personagem que ficou famoso pela sua violência foi Francisco da Costa Rocha, nascido em Vila Velha (ES) em 27 de abril de 1942. Ele se notabilizou como Chico Picadinho, depois de ter assassinado por asfixia duas mulheres entre os anos 60 e 70, esquartejando os corpos das vítimas.
No humor destaca-se um gigante da arte de fazer rir, o saudoso Chico Anysio, ou Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho na certidão de nascimento emitida em Maranguape na data de 12 de abril de 1931. O genial humorista, ator, produtor, locutor, roteirista, escritor, dublador, apresentador, compositor e pintor brasileiro, tornou-se célebre por seus muitos personagens hilários e inesquecíveis apresentados em programas de TV por mais de 40 anos. Chico Anysio faleceu no Rio em 23 de março de 2012.
Outro Chico de relevância na cena artística brasileira é Chico Diaz, ou Francisco Díaz Rocha, ator de extremo talento nascido aos 16 de fevereiro de 1959 na Cidade do México. Com todo seu talento, Chico Diaz foi várias vezes premiado como ator de teatro, TV e cinema, Em 1996, ao protagonizar o filme "Corisco e Dadá", recebeu o Kikito de "Melhor Ator" no Festival de Gramado.
No campo da fé, temos dois ícones titãs religiosos. O primeiro é o Francisco Cândido Xavier, que se tornou uma lenda como o médium e líder espiritual Chico Xavier. Nascido em 2 de abril de 1910 na cidade mineira de Pedro Leopoldo, Chico Xavier ajudou milhares de pessoas com as suas psicografias, com seus livros e com sua imensa humildade e desprendimento, doando os lucros das suas muitas obras a instituições de caridade até sua morte em 30 de junho de 2002, aos 92 anos. Foi homenageado em filmes e documentários e foi indicado ao prêmio Prêmio Nobel da Paz.
O outro é o Papa Francisco, que no nome de batismo não é nem Francisco, mas sim o Jorge Mario Bergoglio, argentino de Buenos Aires, onde nasceu aos 17 de dezembro de 1936 e que se tornou o 266º Papa da Igreja Católica. Francisco é um ser abençoado, sereno, carismático e com a melhor das virtudes, amante da vida e do povo, especialmente dos mais necessitados.
Um Chico que se imortalizou após seu covarde assassinato por sua incansável e corajosa luta na defesa da Floresta Amazônica foi o seringueiro, sindicalista, ativista político e ambientalista brasileiro Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes. Nascido em Xapuri (AC) aos 15 de dezembro de 1944, foi morto lá mesmo em 22 de dezembro de 1988, causando comoção em todo o mundo civilizado que o reconhece como um dos ícones da defesa da Natureza.
No jornalismo temos alguns Chicos, inclusive um com X. Francisco Reginaldo de Sá Menezes, mais conhecido como Xico Sá nasceu na cidade de Crato, no Ceará, em 6 de outubro de 1962. Jornalista e escritor, o cearense destaca-se também na televisão com suas participações em programas de variedades e de comentários esportivos, sempre com imensa clarividência, carisma e bom humor.
Um outro Chico é especial, já que apesar de gaúcho nascido aos 17 de junho de 1953 na cidade de Santa Maria, tornou-se um dos mais apaixonados torcedores do Clube Atlético Mineiro. Francisco de Assis Pinheiro é jornalista gabaritado e apresentador de televisão, tendo comandado por anos o Bom Dia Brasil na Rede Globo além de apresentar o Programa Sarau, onde recebe convidados músicos.
Nos quadrinhos também existe um Chico. Personagem criado em 1961 pelo desenhista Maurício de Sousa, Francisco Antônio Bento, ou Chico Bento, é um caipira boa gente, meio preguiçoso, meio trabalhador, que adora pescar e surrupiar umas goiabas da plantação do Nhô Lau.
Quase todo mundo deve conhecer um famoso Chico, nome e personagem de uma música composta por Francisco Ribeiro Barbosa e João Salvador Perez (Tonico) que, gravada pela dupla Tonico e Tinoco, tornou-se um dos maiores clássicos da música sertaneja. "Chico Mineiro" se celebrizou após sair no álbum "Percorrendo Meu Brasil", no ano de 1945.
Outro personagem famoso e maravilhoso é o "Chicó", criação do genial advogado e escritor Ariano Suassuna no seu clássico "Auto da Compadecida". O protagonista da obra teatral ganhou os corações do povo brasileiro com sua esperteza e criatividade de contar causos e ludibriar os demais, sempre medroso ao lado do amigo "João Grilo".
Entre as mulheres, há a talvez pouco conhecida Nhá Chica. Nascida em São João del-Rei no ano de 1810, a senhora Francisca de Paula de Jesus notabilizou-se pela caridade e pela sua cruzada em favor dos mais pobres, o que lhe valeu o respeito da população e o reconhecimento da Igreja Católica que a tornou a primeira leiga e negra brasileira a ser declarada beata. Angariou doações e construiu a capela de Nossa Senhora da Conceição, onde hoje funciona o Santuário da Conceição, na cidade mineira de Baependi, cidade mineira onde morreu em 14 de junho de 1895.
Mais famosa e não menos importante foi a Francisca da Silva de Oliveira, ou apenas Chica da Silva, escrava nascida na cidade do Serro em 1732 e que, alforriada, tornou-se uma mulher rica e cortejada pela comunidade de Diamantina por ter se amasiado com o rico contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, que de tão apaixonado, construiu uma igreja para sua amada diante da sua residência na cidade. Morreu em 15 de fevereiro de 1796, deixando 14 filhos. Sua história virou romance, peça de teatro, poema, novela e filme.
Na música, uma Chica foi a precursora da liberdade feminina, apresentando-se como uma mulher corajosa e bem adiante do seu tempo, não se prendendo a regras sociais então conservadoras. Separou-se do marido, frequentava a boemia, fumava em público e fazia o que mais amava: música. A grande compositora, instrumentista e maestrina brasileira Francisca Edviges Neves Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga, nasceu no Rio em 17 de outubro de 1847 e lá faleceu em 28 de fevereiro de 1935. Entrou para a história como uma mulher valente, decidida, e talentosíssima. Foi a primeira pianista de Choro, a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil e a autora da primeira marcha carnavalesca com letra, a conhecida "Ô Abre Alas", composta em 1899. Chiquinha Gonzaga tinha consciência social e política e participou da campanha abolicionista e da proclamação da República do Brasil, sendo homenageada em peças teatrais, séries e filmes e até no Carnaval, com o enredo "Abram Alas Que Eu Quero Passar", da Escola de Samba Mangueira.
E a "Chiquinha", quem não conhece? A personagem "La Chilindrina" (no original) filha do "Seu Madruga", interpretada pela atriz mexicana María Antonieta de las Nieves, é uma menina esperta e levada caracterizada pelas sardas no rosto e muito amiga do Chaves, com quem vive as mais hilárias aventuras.
Aqui em Montes Claros tem os meus amigos Chico Barbudo, aposentado do Banco do Brasil e velho parceiro de futebol e boteco, e o Chiquito, amigo despachante e companheiro de peladas de futebol nos campos da AABB.
Na nossa amada Espinosa são muitos os Franciscos, Chicos, Chiquinhos, Chiquitos. Seria complicado listar todos eles aqui, então vou me focar em alguns poucos, de quem tenho mais conhecimento.
Temos o saudoso Francisco Mourão, o Chico Mourão, proprietário do famoso "Pau Pelado" de que ouvi boas histórias na minha infância. Se não me engano, era coletor de impostos e pai da nossa querida médica e vice-prefeita Maria Coeli. Temos também o neto dele, o Francisco Mourão Neto, o Chiquito, profissional gabaritado, atualmente Gerente de Operações na empresa Bionovis S.A. de Valinhos, São Paulo, onde trabalha com as áreas de Produção, Controle da Qualidade e Garantia da Qualidade e Desenvolvimento. Temos o Chiquinho Goiaba, personagem estimado na comunidade. Temos o Francisco Carlos Gonçalves Lopes, meu saudoso amigo e versado debatedor de homéricas discussões na Rua da Resina. Temos o Chico da Cobal, antigo proprietário do restaurante próximo à rodoviária, juntamente com a esposa Helena, onde íamos constantemente saborear com sofreguidão o bife de fígado mais saboroso do planeta. Temos o Francisco que é Valdemar, o respeitado pai dos meus amigos Fernando, Luís, Luciano e José Protácio. Temos o meu velho amigo e colega Francisco Gomes da Rocha, o célebre Chico Xará, funcionário aposentado do Banco do Brasil, que realizou toda sua trajetória laboral na agência de Espinosa, conquistando a amizade, o carinho e o respeito de toda nossa comunidade pelos relevantes serviços prestados. Temos o sereno, tranquilo e bem-humorado Chico da Santana, figura das mais conhecidas e apreciadas pela nossa sociedade, famoso pelo saboroso pirão de galinha que tanto sucesso fez nas noites da Vila de Santana em meus tempos de juventude. E finalmente temos o famoso Chico do Avião, figura de destaque na nossa cidade, especialmente por seu inveterado amor pelos aviões. Obviamente que vocês conhecerão muitos outros Chicos e Chicas por aí, certamente sujeitos de boa índole e que mereceriam também estar aqui nesta curta lista que poderia ser mais extensa não fosse minha memória um tanto quanto danificada pelo tempo. Meu profundo respeito a eles todos.