Surpreendi-me maravilhosamente agora há pouco com uma nova canção do mestre Gilberto Gil. Sempre eloquente e poético, Gil expressa em versos inspirados o seu sentimento profundo sobre os tempos sombrios e de tamanha intolerância e ódio que vivemos atualmente. Como todo gentil homem, dotado de inteligência incomum e clarividência exorbitante, o velho baiano expressa de forma magistral o que seus olhos cansados, seu coração de bondade e sua alma de esperança sentem no espectro tenebroso e cotidiano da Pátria Brasil.
O desabafo contido e sereno de Gil cabe perfeitamente no que também sinto, exalado em versos como "Dos tantos que me preferem calado, poucos deles falam em meu favor, a maior parte adere ao coro irado, dos que me ferem com ódio e terror".
Ah, como é prazeroso ver que, mesmo com tantas letras de músicas de sucesso estrondoso que nada de proveitoso trazem, ainda há espaço para a poesia e a verdade nua e crua, sutil e contundente. Não há como não lembrar de outros versos tão lindos e certeiros, como os do saudoso Renato Russo: "Quem me dera ao menos uma vez, provar que quem tem mais do que precisa ter, quase sempre se convence que não tem o bastante, fala demais por não ter nada a dizer" (Música Índios, do 2º álbum da Legião Urbana, "Dois").
Viva o grande Gilberto Gil e a música popular brasileira! Viva quem tem muito a dizer! Viva a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade!
Um grande abraço espinosense.
OK OK OK
Gilberto Gil
Ok, ok, ok, ok, ok, ok
Já sei que querem a minha opinião
Um papo reto sobre o que eu pensei
Como interpreto a tal, a vil situação
Penúria, fúria, clamor, desencanto
Substantivos duros de roer
Enquanto os ratos roem o poder
Os corações da multidão, aos prantos
Alguns sugerem que eu saia no grito
Outros que eu me quede quieto e mudo
E eis que alguém me pede “encarne o mito”
“Seja nosso herói”, “resolva tudo”
Dos tantos que me preferem calado
Poucos deles falam em meu favor
A maior parte adere ao coro irado
Dos que me ferem com ódio e terror
Já para os que me querem mais ativo
Mais solidário com o sofrer do pobre
Espero que minha alma seja nobre
O suficiente enquanto eu estiver vivo
ok, ok, ok, ok, ok, ok
Ainda querem a minha opinião
Um papo reto sobre o que eu pensei
Como interpreto a tal, a vil situação
Que o nobre, nobre mesmo, amava os seus
Prezava mais o zelo e a compaixão
Tratava seu vassalo com afeição
A mesma que pelo cão e o cavalo
Então não falo, músico e poeta,
Me calo sobre as certezas e os fins
Meu papo reto sai sobre patins
A deslizar sobre os alvos e as metas
Ok, ok, ok, ok, ok, ok
Sei que não dei nenhuma opinião
É que eu pensei, pensei, pensei, pensei
Palavras dizem sim, os fatos dizem não
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