Aos 95 anos de idade, vai-se aos céus um grande homem. Nesses tempos de tanta canalhice espalhada pelos quatro cantos do país, em que cidadãos indignos e desprezíveis usam dos piores artifícios para conquistar poder e dinheiro e manter seus privilégios, a morte de um Homem, na mais completa definição da palavra, deixa mais pobre este nosso já tão pobre (e podre) Brasil.
Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, morreu nesta quarta-feira, 14 de dezembro, em decorrência da falência múltipla dos órgãos após uma broncopneumonia.
Paulo Evaristo Arns nasceu em Forquilhinha (SC), aos 14 de setembro de 1921. Era o quinto dos treze filhos do casal Gabriel Arns e Helena Steiner, descendentes de imigrantes alemães. Dona Zilda Arns, já falecida, outra grande personalidade brasileira, era sua irmã.
Em 30 de novembro de 1945, em Petrópolis, foi ordenado presbítero pelo Dom José Pereira Alves, Arcebispo de Niterói. No dia 22 de outubro de 1970 foi nomeado Arcebispo Metropolitano de São Paulo pelo Papa Paulo VI, tendo tomado posse a 1º de novembro de 1970. Exerceu o cargo até o dia 15 de abril de 1998, quando, por limite de idade, renunciou, recebendo o título de Arcebispo-Emérito de São Paulo. Seu predecessor foi Dom Agnelo Rossi e o seu sucessor, Dom Frei Cláudio Hummes.
Pertencente à ordem franciscana, Dom Paulo se notabilizou como um vigoroso missionário na defesa dos menos favorecidos, dos perseguidos políticos e dos injustiçados socialmente no país. Batalhou incansavelmente em prol dos moradores das periferias, dos trabalhadores, dos pobres, dos enfermos. Não se intimidou jamais com a virulência dos integrantes da ditadura militar e lutou com firmeza e coragem contra as torturas, assassinatos e desaparecimentos de brasileiros ocorridos na época cinzenta da nossa história, como também atuou decididamente pelo restabelecimento da Democracia no Brasil.
Em 1985, com a ajuda de sua irmã, a pediatra Zilda Arns Neumann, implantou a Pastoral da Criança.
Entre os anos de 1979 e 1985, coordenou com o Pastor Jaime Wright, de forma clandestina, o projeto Brasil: Nunca Mais, ação que tinha como objetivo evitar o desaparecimento de documentos importantes sobre a ditadura, durante o processo de redemocratização do país. Foi também um dos organizadores do movimento Tortura Nunca Mais. Construiu também a Casa São Paulo, que acolhe e atende os padres idosos e os professores de novos padres.
Dom Paulo foi um entusiasmado fomentador das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), comunidades carentes que se reuniam para conhecer a Palavra de Deus e se articular na defesa dos seus direitos políticos e sociais.
É nos momentos mais turbulentos e tenebrosos da história que descobrimos aqueles que são realmente homens de coragem, de ação e de ideias. Dom Paulo certamente é um desses raros personagens e merece todo o nosso reconhecimento pela sua digna e exemplar trajetória.
Que descanse em paz, com toda certeza ao lado do Pai Supremo.
Um grande abraço espinosense.
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