Peço permissão aos meus amigos cruzeirenses que acessam o nosso blog para falar de um assunto relativo ao Atlético, mas que, pela amplitude da questão, atinge a todos que amam o futebol.
O treinador Levir Culpi acabou de deixar a comissão técnica do Atlético, após um ano e oito meses no comando do time. Nenhuma novidade no nosso tão atrasado mundo do futebol. Dos 20 treinadores que começaram a disputa da Série A do Campeonato Brasileiro deste ano, apenas o campeão Tite ainda permanece no cargo. Mas o que deixa a muitos atleticanos como eu, preocupados, é o porquê desta decisão. O treinador estava fazendo um extraordinário trabalho à frente da equipe, com conquistas importantes e a montagem de um time competitivo e com um futebol altamente rápido e ofensivo, gostoso de se ver jogar. Tudo bem que no segundo turno o time caiu bastante de produção, vendo o Corinthians se distanciar na ponta da tabela e faturar o título por antecipação, mas ainda estamos na briga pelo vice-campeonato, uma posição honrosa e que ainda tem vital importância pelo polpudo prêmio oferecido pela CBF, que será de fundamental suporte para os acertos financeiros do clube na temporada.
A troca de treinadores no Brasil é uma rotina sem lógica e sem rumo. Clubes endividados ainda continuam contratando a peso de ouro seus profissionais, tanto jogadores quanto treinadores. Ao menor sinal de "crise", demite-se o treinador e contrata-se outro, sem a menor preocupação com as multas a serem pagas ou com a manutenção de um trabalho de qualidade a médio prazo. Não é à toa que a maioria dos nossos clubes tem dívidas estratosféricas e mal conseguem colocar a folha de pagamento em dia.
Confesso que fiquei surpreendido com a decisão do presidente Daniel Nepomuceno de demitir o Levir. Além de surpreso, fiquei (e estou) triste com a decisão, que entendo ser bastante equivocada e inoportuna. Como explicar a saída de Levir Culpi, após a conquista inédita e de suma importância da Copa do Brasil, idem da Recopa Sul-Americana, do Campeonato Mineiro, da vaga na Libertadores de 2016 e até o momento, do vice-campeonato brasileiro? Quem virá substituí-lo, começando tudo do zero, talvez mudando tudo e com salário até maior? Não dá mesmo para entender. Mas como no futebol, tudo pode acontecer, tomara que eu esteja errado na minha antevisão do futuro. Vamos aguardar os acontecimentos.
Levir Culpi é um sujeito de extrema competência, possuidor de uma conduta admirável, de um sentido agudo de humanidade, com vínculos profundos com o clube e sua torcida, além de ser uma pessoa de ótimo relacionamento e um apurado senso de humor.
Tenho grande respeito e admiração por Levir Culpi, principalmente depois que meu Ricardinho esteve visitando a Cidade do Galo junto com Maurício Tupy e seu filho Lázaro no início do ano passado. Ricardo me contou que o treinador os recebeu com o maior carinho e atenção, com uma gentileza especial, se dispondo alegremente a posar para a fotografia que publico abaixo. Ele, claro, não sabe e nunca saberá, mas por causa disso tenho um imenso sentimento de gratidão e estarei sempre rezando e torcendo pela sua felicidade, onde quer que esteja trabalhando.
Um grande abraço espinosense.
Uma breve histórico da carreira de Levir no futebol:
Levir Culpi é paranaense de Curitiba, onde nasceu em 28 de fevereiro de 1953. Tem hoje 62 anos de idade. Na época de jogador, foi um zagueiro mediano de Coritiba, Botafogo, Santa Cruz, Colorado, Atlante (México), Figueirense e Juventude. Como treinador, iniciou a carreira em 1986, no Juventude de Caxias do Sul. Passou ainda pelo Atlético Paranaense (2 vezes), Marcílio Dias, Inter de Limeira, Criciúma, Internacional, Coritiba, Criciúma, Al-Ettifaq (Arábia Saudita), Paraná, Guarani, Atlético Mineiro (4 vezes), Portuguesa, Cruzeiro (3 vezes), Cerezo Osaka (2 vezes), São Paulo, Sport, Palmeiras, Botafogo e São Caetano.
Levir tem uma história vencedora tanto no Atlético como no Cruzeiro. No clube da Toca da Raposa conquistou os títulos da Copa do Brasil em 1996, do Campeonato Mineiro em 1996 e 1998, da Recopa Sul-Americana em 1998 e da Copa dos Campeões Mineiros e da Copa Centro-Oeste em 1999. Levou ainda o time celeste aos vice-campeonatos da Supercopa da Libertadores em 1996 e da Copa do Brasil, do Campeonato Brasileiro e da Copa Mercosul, todos em 1998.
No Atlético, a história também é de sucesso. Trouxe de volta o time da Série B, conquistando o Campeonato Brasileiro em 2006, ganhou os Campeonatos Mineiros de 1995, 2007 e 2015, a Recopa Sul-Americana e a Copa do Brasil de 2014, estes últimos, ambos títulos inéditos para o clube.
Para reforçar ainda mais o seu vínculo com o clube, completou 200 jogos na direção do time, em uma partida contra o Palmeiras, em 4 de setembro de 2014, no Independência, com uma vitória de 2 x 0. Mais uma conquista pessoal veio com o atingimento de 228 jogos como treinador do clube, na partida contra o Tupi, com vitória por 2 x 0, no dia 2 de fevereiro, pelo Campeonato Mineiro de 2015. Com essa marca ele se tornou o terceiro treinador com mais jogos realizados na história do Atlético, atrás apenas de Telê Santana, com 434 jogos, e Procópio Cardoso, com 328.
Agora em 2015, ele deixa o comando do time após 288 partidas realizadas na história do clube, com 154 vitórias, 60 empates e 74 derrotas, 493 gols marcados, 184 gols sofridos, seis títulos conquistados e com aproveitamento acima de 60%. Nesta sua recente passagem pelo clube da Cidade do Galo, a quarta, ele obteve 33 vitórias, 11 empates e 18 derrotas, um aproveitamento de 60%.
Outra marca importante na carreira de Levir Culpi aqui em terras mineiras, é que ele é o maior vencedor das disputas do Campeonato Mineiro, com cinco conquistas de título. Duas pelo Cruzeiro, em 1996 e 1998, e três pelo Galo, em 1995, 2007 e 2015.
Títulos conquistados como treinador:
Inter de Limeira - Campeonato Brasileiro - Série B - 1988
Criciúma - Campeonato Catarinense - 1989
Paraná - Campeonato Paranaense - 1993
Cruzeiro - Copa do Brasil - 1996, Campeonato Mineiro - 1996 e 1998, Recopa Sul-Americana - 1998, Copa dos Campeões Mineiros - 1999 e Copa Centro-Oeste - 1999
São Paulo - Campeonato Paulista - 2000
Atlético Mineiro - Campeonato Brasileiro - Série B - 2006, Campeonato Mineiro - 1995, 2007 e 2015, Recopa Sul-Americana - 2014 e Copa do Brasil - 2014.
Campanhas de destaque:
Cruzeiro - Supercopa da Libertadores - Vice-Campeão - 1996, Copa do Brasil - Vice-Campeão 1998, Campeonato Brasileiro - Vice-Campeão 1998 e Copa Mercosul - Vice-Campeão 1998.
São Paulo - Copa do Brasil - Vice-Campeão 2000
Sport - Copa do Nordeste - Vice-Campeão 2001
Atlético-PR - Campeonato Brasileiro - Vice-Campeão 2004
Atlético-MG - Campeonato Brasileiro - Vice-Campeão 2015 (Ainda não confirmado)
Fonte: wikipedia.org
Sua carta de despedida, na íntegra:
"Após 30 anos de carreira, imaginei estar calejado o suficiente para algumas situações. Enfrentei outras despedidas dolorosas. Logo no meu primeiro trabalho como treinador, ao deixar o Juventude, de Caxias do Sul, não consegui nem sequer entrar no vestiário para me despedir. Do lado de fora, me deparei com o sisudo Celso Roth, meu preparador físico, e fomos às lágrimas.
No Japão, vivi alguns dos momentos mais emocionantes da minha vida, quando resolvi retornar em 2012, depois de seis temporadas no comando do Cerezo Osaka. Houve uma comoção imensa. Recebi presentes, cartas, homenagens e a torcida me acompanhou do hotel até o aeroporto.
Agora, me deparo novamente com um momento que extrapola a razão.
O que era para ser um simples tchau ganhou proporções impensadas.
Tenho recebido inúmeras mensagens, ligações de carinho e apoio e lendo textos e mais textos na Internet e imprensa que me comoveram demais. Fiquei com a certeza de que deixei de ser profissional do Galo para me tornar um amigo dos atleticanos. E que valeu muito a pena!
Vocês são muito legais!!
Obrigado"
Obrigado, dizemos nós atleticanos, Levir Culpi! Obrigado pelo seu trabalho e pelas alegrias e fortes emoções que nos fez desfrutar nas conquistas dos últimos anos. Vá em paz e de cabeça erguida, com o sentimento do dever cumprido! Quem sabe, um dia você volta...