Vou contar a vocês algumas histórias que envolvem o meu amigo Pedrão*, ex-colega de trabalho. Pedrão sempre foi um cara bastante vaidoso e constantemente estava muito bem vestido e perfumado. Perfumado até demais. Podíamos sentir a sua chegada com bastante antecedência, apenas pelo cheiro do perfume que ele usava em quantidade, eu diria, um pouquinho demasiada. Mas ele nunca se preocupou com as nossas brincadeiras, aceitando tudo no maior bom-humor, uma das suas características peculiares. Pois bem, lá nos anos 80, o Banco do Brasil financiava uma grande quantidade de contratos rurais, a maioria de plantio de algodão, o que fazia com que a agência sempre estivesse cheia de produtores rurais em busca de informações e empréstimos para tocar a roça. E muitos eram bastante generosos com os funcionários, principalmente quando os seus financiamentos eram aprovados. Para agradar os funcionários do Banco, eles traziam de tudo: ovos, frutas, espigas de milho, rapaduras, queijos, até galinhas. Antes que alguém pense o pior, esclareço: não havia corrupção, apenas gestos de boa vontade de um povo de bom coração que queria agradecer e demonstrar a sua gratidão.
Em um determinado dia daquela época maravilhosa, Pedrão ganhou de presente uma rechonchuda galinha. Guardou-a então na salinha ao lado da escada que dava para o segundo andar, onde os vigilantes trocavam de roupa. Isso se deu numa quinta-feira. Com aquele movimento todo na agência, ele acabou se esquecendo do bicho. Mas nós, não! Sem que ele tivesse conhecimento, combinamos de mandar a galinha para uma cozinheira preparar um belo pirão no sábado, o que fizemos sem qualquer remorso. Na sexta-feira à tardinha, convidamos Pedrão para tomar umas cervejas no sábado, lá pelo meio-dia, em um boteco ali da praça, pois havíamos ganhado um ótimo tira-gosto para acompanhar a cervejada. E assim aconteceu. Depois de saborear as cervejas, a galinha e o pirão, agradecemos ao Pedrão pelo tira-gosto, que ficou sem entender patavina, até que depois de cairmos na gargalhada, contamos se tratar da sua galinha ganhada do cliente do Banco dias atrás. Só aí ele se deu conta do que havia acontecido, mas acabou se resignando, sem maiores consequências, pois já não havia o que fazer. Levou tudo na boa, claro.
Outra história se deu em um campeonato de futebol de salão na Toca dos Craques, com participação somente dos sócios do clube. No regulamento constava que todo jogador que estivesse inscrito, tinha o direito de jogar no mínimo 10 minutos, com exceção da partida final. Na semifinal, numa quinta-feira, iríamos enfrentar um adversário muito forte e não podíamos nos dar ao luxo de colocar em campo um jogador não muito bem-dotado de qualidade técnica, pois isto poderia significar a nossa desclassificação. Dias antes, todo animado, Pedrão veio me perguntar quando seria o jogo. Fiquei pensando: o cara era um completo perna-de-pau, nunca tinha jogado bola em lugar nenhum, não havia participado de nenhum jogo do campeonato até então, portanto, só iria nos atrapalhar. Sem muita hesitação, disse a ele que o jogo seria na sexta-feira à noite e que ele não faltasse de maneira nenhuma, pois sua participação seria muitíssimo importante. Na quinta-feira, ganhamos a semifinal e nos classificamos para a final do campeonato, no domingo, com a consequente conquista do título pelo nosso time. Soube depois que Pedrão apareceu lá na sexta-feira, todo animado, uniformizado e com uma chuteira novinha nos pés. Quando depois fui questionado por ele a respeito, apenas aleguei, sarcasticamente, que a partida havia sido antecipada em cima da hora, sem possibilidade de avisá-lo, e que o mais importante é que ele era campeão de alguma coisa no futebol pela primeira vez na vida. Ele só tinha o que comemorar!
*Nome fictício.
*Nome fictício.
Coisas de Espinosa! Um grande abraço espinosense.
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